DROGAS E ALIMENTOS (IN) SAUDÁVEIS NO CONTEXTO DA GOVERNAMENTALIDADE NEOLIBERAL
DOI:
https://doi.org/10.21669/tomo.v0i33.9248Resumo
Este estudo conceitual propõe uma problematização sobre os conceitos de drogas e alimentos, sem a pretensão de esgotar a temática ou definir uma relação, cujas fronteiras revelam-se porosas e flexíveis. Apresentamos um panorama de fatos que demonstram a variedade de atores e elementos discursivos envolvidos na construção social desses conceitos, bem como desejamos estimular estudos futuros que poderão garantir a consolidação de uma abordagem epistemológica sobre essa relação ainda vaga. Nossa análise gera questionamentos que apontam a impossibilidade de governamentalizar uma simplificação dos conceitos e apontam associações arbitrariamente imprecisas, construídas sob o aval do viés positivista-biologicista da medicina e da ciência moderna - supostamente isento de interesses políticos e econômicos - e da governamentalidade neoliberal tratada pela analítica foucaultiana como um conjunto de instituições, procedimentos, análises, reflexões, cálculos e táticas que possibilitaram um tipo de exercício de poder que tem a população como seu alvo; a economia política como principal forma de saber; e o dispositivo de segurança como seu instrumento técnico mais elementar. Nesse sentido, o artigo apresentado propõe ponderações acerca da imprecisão na atribuição da condição de drogas e alimentos, tendo em vista que ambos foram instrumentalizados historicamente de maneira indefinida, variando de acordo com as conjunturas e interesses que atravessam esses condicionamentos conceituais que ora qualificam certo produto - em decorrência de estratégias qualificadores - como alimento, ora o desqualificam tratando-o como drogas – justamente por seus supostos prejuízos causado à saúde humana e/ou ambiental.
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