Chamada para o dossiê: Inteligência artificial sob as lentes do marxismo e do pensamento crítico

O tema inteligência artificial tem se tornado popular no meio acadêmico, nos debates públicos, entre autoridades e nos meios de comunicação de massa. Assim, essa temática tem sido objeto de crescentes estudos em diferentes disciplinas, indo muito além dos campos das ciências exatas e computação.

No campo das humanidades, a inteligência artificial tem sido analisada sob diferentes perspectivas como, por exemplo, as relações de poder (Dyer-Whiteford et al., 2019), os limites da autonomia humana e sua relação com a humanidade (Davies, 2008), os impactos sobre as relações de produção (Benanav, 2020), os efeitos adversos como em práticas discriminativas (Bejamin, 2023), e a automatização de atividades humanas, como nas áreas do direito (Pasquale, 2019) e da educação (Zhai et al., 2021).

Porém, nota-se que a uma parte considerável das abordagens, distante da crítica da Economia Política, cai nas armadilhas do fetichismo (Marx, 2013, 2014, 2017) e não revela os aspectos essenciais que estão ocultos nas manifestações do fenômeno. Mas há exceções, como os trabalhos de Dyer-Whiteford et al. (2019), Lindgreen (2023), Steinhoff (2021), Gong (2021), Yi (2020), Cole et al. (2022) e Verdegen (2021), entre outros. Contudo, esse tipo de esforço precisa se expandir.

Mostra-se urgente, portanto, que o pensamento marxista e as armas da crítica sejam empregadas para desvelar e analisar a forma social que a inteligência artificial assume atualmente como instrumento a serviço do capital e como instrumento de alienação e estranhamento do trabalho humano, dos instrumentos de trabalho, dos frutos do trabalho e, em última instância, do gênero humano (Marx, 2004).

Nesse sentido, a Revista Eptic (ISSN 1518-2487) convida autores(as) para submeterem artigos para o dossiê Inteligência artificial sob as lentes do marxismo e do pensamento crítico. O dossiê é organizado por James Steinhoff - University College Dubli; Jonas Valente - Oxford Internet Institute e Revista Eptic; Rodrigo Moreno Marques - Universidade Federal de Minas Gerais e Revista Eptic. Artigos poderão ser submetidos até 16 de fevereiro de 2024. Os textos devem seguir o formato padrão da revista.

Serão acolhidas e avaliadas submissões que abordem:

- O trabalho e as relações sociais no âmbito da inteligência artificial.

- Como a inteligência artificial afeta as relações de trabalho e a exploração capitalista, nos mais variados setores da economia.

- Aspectos da subsunção formal e da subsunção real do trabalho sob o capital, no contexto da inteligência artificial.

- Os impactos da inteligência artificial na divisão técnica do trabalho e na divisão social do trabalho.

- Atuação de agentes econômicos que concebem e/ou empregam técnicas de inteligência artificial.

- Políticas governamentais voltadas para o desenvolvimento e uso da inteligência artificial.

- As disputas em torno da regulação da inteligência artificial.

- Como os processos de produção e distribuição de valor e de riqueza são afetados pelo emprego da inteligência artificial.

- A dependência e a subordinação econômica dos países periféricos em relação aos países que lideram o desenvolvimento e uso da inteligência artificial.

- Inteligência artificial como instrumento capitalista de poder econômico, simbólico ou político.

- Impactos da inteligência artificial sobre a comunicação e cultura sob um olhar marxista e crítico.

- Os desafios éticos que envolvem a inteligência artificial, dentro de uma perspectiva crítica.

- Resistências e as possibilidades de uso da inteligência artificial como instrumento para confrontar a ordem do capital e sua sociabilidade.

O dossiê priorizará análises teóricas e empíricas que sejam norteadas pelos princípios da crítica da economia política, do marxismo e do pensamento crítico.

 

Data limite para submissões: 16 de fevereiro de 2024

 

Organizadores do dossier:

James Steinhoff - University College Dublin 

Jonas Valente - Oxford Internet Institute

Rodrigo Moreno Marques - Universidade Federal de Minas Gerais

 

Referências

Benanav, A. Automation and the Future of Work. Verso Books, 2020.

Benjamin, R. Race after technology. In: Social Theory Re-Wired, p. 405-415. Routledge, 2023.

Cole, M., Cant, C., Ustek Spilda, F., & Graham, M. Politics by automatic means? A critique of artificial intelligence ethics at work. Frontiers in Artificial Intelligence, v. 5, 2022.

Davies, T. Humanism. Routledge, 2008.

Dyer-Witheford, N., Kjøsen, A. M., & Steinhoff, J. Inhuman power. Artificial intelligence and the future of capitalism, 2019.

Gong, W. Artificial Intelligence from the Perspective of Marxist Philosophy. International Journal of Social Science and Education Research, v. 4, n. 9, p. 151-156, 2021.

Lindgreen, S. (ed). Handbook of Critical Studies of Artificial Intelligence. Elgar, 2023.

Marx, K. Manuscritos econômico-filosóficos. Boitempo, 2004.

Marx, K. O Capital. Livro I. Boitempo, 2013.

Marx, K. O Capital. Livro II. Boitempo, 2014.

Marx, K. O Capital. Livro III. Boitempo, 2017.

Pasquale, F. A rule of persons, not machines: the limits of legal automation. Geo. Wash. L. Rev., v. 87, n. 1, 2019.

Verdegem, P. AI for Everyone?: Critical Perspectives. University of Westminster Press, 2021.

Yi, C. A Brief Analysis of the Alienation of Artificial Intelligence-Taking Marx's Theory of labor Alienation as an Analytical Tool. Frontiers in Economics and Management, v. 1, n. 11, p. 182-188, 2020.

Zhai, X., Chu, X., Chai, C. S., Jong, M. S. Y., Istenic, A., Spector, M., ... & Li, Y. A Review of Artificial Intelligence (AI) in Education from 2010 to 2020. Complexity, p. 1-18, 2021.