Poéticas do cômico na literatura brasileira do século XIX: zombaria, malandragem, ironia

Autores/as

  • Jacqueline Ramos Universidade Federal de Sergipe/Letras-ITA

Resumen

Na produção literária brasileira do século XIX, há modos diversos da comicidade, que implicam em distintas concepções e funcionalidades do cômico. A vasta produção de comédias de costumes vale-se da ridicularização. A zombaria, sempre com certa carga de agressão, é tomada aqui, naquele sentido descrito por Bergson de reprimir desvios comportamentais visando a uma maior coesão social. Caso único, mas não menos importante, é Memórias de um Sargento de milícias, cuja neopicaresca apresenta a malandragem como estruturante da sociedade brasileira. Finalmente, com Machado de Assis temos o aproveitamento da sátira menipéia e da tradição luciânica, que vincula o cômico ao filosófico, sendo percebida em suas comédias, romances e crônicas1.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira. Modos do cômico. Zombaria. Malandragem.

 

ABSTRACT

In the Brazilian literary production of the nineteenth century, there are different modes of comedy, which imply different conceptions and functionalities of the comic. The large production of comedies of customs is based on ridicularization. Mockery, always with a certain amount of aggression, is used as described by Bergson: a way of repressing behavioral deviations in order to get greater social cohesion. A unique but not less important case is Memories of a sergeant of militias, whose neopicaresca presents malandragem as structuring of Brazilian society. Finally, Machado de Assis brought to our literature the menipean satire and lucianic tradition, which links the comic to the philosophical, present in his comedies, novels and chronicles.

KEYWORDS: Brazilian literature. Modes of the comic. Mockery. Trickery. Irony.

 

1. Essa pesquisa conta com o apoio do CNPQ, edital Universal 2016.

Citas

ALBERTI, Verena. O riso e o risível na história do pensamento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2002.

ARAUJO, Ana Paula R. Vital. A ambivalência do cômico no teatro de Machado de Assis. Dissertação de mestrado do Programa de Pós Graduação em Letras da UFS, São Cristóvão/SE, 2015.

BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: Hucitec, 2002.

BERGSON, Henri. O riso: ensaio sobre a significação do cômico. 2a. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, Cultrix, 1985.

BRAYNER, Sonia. Metamorfoses machadianas in: BOSI, Alfredo (org.) Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982.

CÂNDIDO, Antônio. “Dialética da malandragem” in: O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, 2004.

COUTINHO, Afrânio (org.). A literatura no Brasil. São Paulo: Global, 2004.

DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6ª. Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

FARIA, João Roberto. Idéias teatrais: o século XIX no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2001.

FARIA, João Roberto. Qorpo-Santo: as formas do cômico. Língua e Literatura, São Paulo: FFLCH/USP, p. 155-169, 1989.

FREUD, Sigmund. Os chistes e sua relação com o inconsciente. Rio de janeiro: Imago, 1977, vol. VIII.

GONZÁLEZ, Mario M. A saga do anti-herói. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

JOLLES, André. “O chiste” in: Formas simples. São Paulo: Cultrix, 1976.

MINOIS, Georges. História do riso e do escárnio. São Paulo: Editora UNESP, 2003.

PRADO, Décio de Almeida. História concisa do teatro brasileiro. São Paulo: Edusp, 2003.

ROUANET, Sérgio Paulo. Riso e melancolia. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SANTOS, Kelly Cristina. Artur de Azevedo e o teatro. Dissertação de mestrado do Programa de Pós Graduação em Letras da UFS, São Cristóvão/SE, 2016.

SÁ REGO, Enylton. O calundu e a panacéia: Machado de Assis, a sátira menipéia e a tradição luciânica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.

SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periperia do capitalismo. São Paulo: Duas Cidades, 1990.

Publicado

2018-01-23

Cómo citar

RAMOS, Jacqueline. Poéticas do cômico na literatura brasileira do século XIX: zombaria, malandragem, ironia. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 10, p. 102–112, 2018. Disponível em: https://ufs.emnuvens.com.br/apaloseco/article/view/8262. Acesso em: 18 dic. 2024.