<strong>O que a palavra não pode dizer: a escrita do eu em <em>Os guarda-chuvas cintilantes</em>, de Teolinda Gersão</strong>

Autores/as

  • Audrey Castañon de Mattos Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara/UNESP

Resumen

RESUMO
A análise das formas do silêncio no diário ficcional Os guarda-chuvas cintilantes, de Teolinda Gersão, particularmente à luz das proposições de Ludwig Wittgenstein, em seu Tractatus logico-philosophicus, conduziu-nos à observação da dificuldade em apreender a complexidade do ser no mundo moderno. Se pensado como indivíduo, isto é, uno, íntegro, delimitável, esse ser é impensável, portanto, indizível. O ser unívoco é uma ilusão necessária que muitas pessoas procuram registrar na escrita de um diário. O controverso diário de Teolinda Gersão, ao lidar com esse silêncio em torno do Ser, o faz por meio de um silêncio outro, aquele que Wittgenstein considera o absurdo, já que é a tentativa de dizer o indizível, expressar-se fora dos limites da linguagem. Ao fim e ao cabo da leitura de Os guarda-chuvas cintilantes continua-se diante do mistério do Ser, continua-se diante da impossibilidade de traçar-lhe um perfil inequívoco, no entanto, a compreensão da pluralidade dimensional, da plurissignificação de ser, embora igualmente inexprimível, jamais seria atingida se se tivesse lançado mão de um uso empírico da linguagem.
PALAVRAS-CHAVE: Escrita do eu. Literatura portuguesa séc. XX. Silêncio. Teolinda Gersão. Wittgenstein.

ABSTRACT
An analysis of the forms of silence in Teolinda Gersão’s fictional diary Os guarda-chuvas cintilantes, particularly in the light of of Ludwig Wittgenstein’s propositions in his Tractatus Logico-Philosophicus, leads one to observe the difficulty of apprehending the complexity of existence in the modern world, especially in regard to the silence around the Self and the search for individuality, integrity and uniqueness. The univocal Self is inconceivable and therefore inexpressible, but is a necessary illusion that many people seek to record in a diary. The controversial diary of Teolinda Gersão, which deals with the silence around the Self, does so through the kind of silence Wittgentsein calls “the absurd”, since it is an attempt to express the unspeakable, what lies beyond the bounds of language. At the end of Os guarda-chuvas cintilantes, the mystery of the Self remains, as does the impossibility of reducing it to a definitive profile. An understanding of the multi-faceted dimension and multi-signification of the Self, though equally inexpressible, could never be attained even if an “empirical” use of language were possible.
KEYWORDS: Writing of the self. Portuguese Literature 20th century. Silence. Teolinda Gersão. Wittgenstein.

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Publicado

2017-03-15

Cómo citar

MATTOS, Audrey Castañon de. <strong>O que a palavra não pode dizer: a escrita do eu em <em>Os guarda-chuvas cintilantes</em>, de Teolinda Gersão</strong>. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 8, 2017. Disponível em: https://ufs.emnuvens.com.br/apaloseco/article/view/6322. Acesso em: 18 dic. 2024.

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