Carta a Guimarães Rosa
Abstract
Caro João,
Finalmente sua carta chegou-me às mãos. Estive, nesses últimos meses, lendo-a atentamente e confesso que ainda permaneço um pouco em dúvida com relação à sua pergunta sobre como somos no visível. Concordo que não podemos recorrer simplesmente às fotografias nem às experiências puramente sensíveis dos nossos olhos que se entrecruzam nos vários espelhos que nos cercam. Também sou obrigado a confessar que, embora tenha estudado, como o senhor mesmo observa em sua carta, não sei de fato o que venha a ser um espelho, a não ser tomando-o conforme descreve o nosso Aurélio, segundo o qual espelho é: “Superfície refletora constituída por uma película metálica depositada sobre um dielétrico (geralmente vidro) polido, ou pela superfície de um corpo metálico polido”. Isso é um espelho ou não? Na verdade nunca experimentei algo próximo disto que o senhor chama de “experiência transcendente”. Por certo não é algo de pouca monta já que envolve “raciocínios, intuições e muito esforço”. Quem sabe, talvez o senhor esteja certo quando afirma que o motivo de não percebemos as “coisas mais importantes” é porque permanecemos “distraídos”.
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