image/svg+xml1Folia, arte e militância em terras sergipanas: do Baile dos Artistas à Parada do Orgulho LGBTPatrícia Rosalba Salvador Moura Costa1Gladston Oliveira dos Passos2Marcos Ribeiro de Melo3Resumo:O presente artigo problematiza o artivismo, associação entre arte e política, como manifestação em eventos que existem ou existiram no estado de Sergipe, a exemplo do Baile dos Artistas e a Parada do Orgulho LGBT. Desse modo, primeiramente, buscou-se investigar como se constituíram as paradas no âmbito internacional, em seguida demonstrar o surgimento desse evento no contexto brasileiro e por fm apontar a existência do artivismo na Parada LGBT de Sergipe. A relevância deste trabalho se deve pelas poucas pesquisas que abordam esse tema. No que tan-ge a metodologia, foi realizado levantamento bibliográfco, consulta em jornais, entrevistas e pesquisa etnográfca por meio da observação participante na Parada LGBT de Sergipe nos anos de 2021 e 2022.Palavras-chave: Arte. Folia. Parada LGBT. Política. Sergipe.IntroduçãoÉ inegável que independente da forma que a arte se manifesta ela está presente na sociedade e por meio do ativismo consegue transformar hábitos, comportamentos e culturas. Numa fusão entre esses dois conceitos obtemos o artivismo que, segundo Santos (2019),pode ser entendido como um neologismo conceitual que faz ligações entre arte e política e estimula os usos potenciais da arte como ato de resis-tência e subversão. Ainda segundo o autor, pode ser encontrado em intervenções sociais e políticas, pro-duzidas por pessoas ou coletivos, por meio de estratégias poéticas e performáticas. Sua natureza estética e simbólica intensifca, sensibiliza, refete e questiona temas e situações em um dado contexto histórico e social, visando a mudança ou a resistência.1 Universidade Federal de Sergipe. Campus do Sertão. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. São Cristóvão, Sergipe, Brasil. E-mail: patriciarosalba@academico.ufs.br https://orcid.org/0000-0001-8320-9093 2 Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Antropo-logia. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. E-mail: gladstonpassos92@gmail.com https://orcid.org/0009-0000-2115-0209 3 Universidade Federal de Sergipe. Departamento de Psicologia. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema. São Cristóvão, Sergipe, Brasil. E-mail: marcos_demelo@academico.ufs.br https://orcid.org/0000-0003-3289-2528 Revista TOMOSão Cristóvão, v. 42, e18777, 2023Data de Publicação: Junho/2023DossiêDossiê
image/svg+xml2Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de MeloUma das intervenções sociais e políticas em que o artivismo está presente são as Paradas do Or-gulho LGBT4, dentre elas a de Sergipe. Depois de dois anos acontecendo de forma virtual, no dia 28 de agosto de 2022 ocorreu a 21ª edição com o tema “Vote Colorido, dê vez a nossa voz!”, tendo como objetivo incentivar a sociedade, e em especial a comunidade LGBTQIA+, a escolher candi-datos/as LGBT+ para ocuparem esses espaços. Uma das novidades trazidas pela coordenação do evento foi o palco “Sobre(viver)”, que ganhou esse nome como forma de chamar atenção para a luta que pessoas LGBTQIA+ travam diariamente tentando viver suas vidas em plenitude, sendo um espaço construído com o objetivo de divulgar os/as artistas sergipanos/as LGBTQIA+ e também de informar os direitos dessa comunidade. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar como o artivismo se manifesta na 21ª Parada LGBT de Sergipe e em eventos que o precederam, a exemplo do Baile dos Artistas, baile carnavalesco no qual foliões homossexuais e travestis exibiam fantasias extravagantes. Dividimos o trabalho em três partes, na primeira é abordado como foi constituída a origem das Paradas, desde o episódio de Stonewall até sua chegada ao Brasil. Na segunda, é apontado como surgiu a primeira Parada LGBT de Sergipe e, por fim, na terceira é descrita como ocorreu a Parada LGBT de Sergipe do ano de 2022 e a sua relação com o artivismo. Na elaboração deste artigo foi realizada uma pesquisa com material bibliográfico que contribuiu na base teórica deste trabalho sendo complementada com arquivos do jornal Gazeta de Sergipe e depoimentos disponibilizados por meio de entrevistas com coordenadores/apoiadores do evento. As entrevistas foram realiza-das entre o período de novembro de 2021 e fevereiro de 2022 e são fundamentadas pelas lições de Roberto Cardoso de Oliveira (1998). Além disso, com o intuito de entender qual significado o evento tem para esses coordenadores/apoiadores se fez necessário realizar um estudo etnográ-fico utilizando a observação participante na Parada LGBT de Sergipe de 2021 e 2022, apoiado no entendimento de Restrepo (2018, p. 25),un estudio etnográfico le interesa tanto las prácticas (lo que la gente hace) como los signi-ficados que estas prácticas adquieren para quienes las realizan (la perspectiva de la gente sobre estas prácticas”5. As imagens que compõem este trabalho foram coletadas do acervo dos/as autores/as e também da ONG ASTRA - Direitos Humanos e Cidadania LGBT.4 Muito se discute sobre qual a sigla correta quando se refere à diversidade sexual e de gênero. Ao longo da história houve diversas modificações que estão relacionadas aos processos de “centramento” e “descentramento” dos sujeitos políticos do movimento, essas transformações surgem devido às disputas por visibilidade como ocorreu com a modificação de GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e travestis) para LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis), após reivindicação do movimento lésbico, exigindo a troca na ordem de uma das letras (Facchini, 2005, 2020). Ao se referir à Parada, a sigla escolhida será a LGBT tendo em vista que a coordenação do evento ainda a utiliza na sua identidade visual. Atualmente surgiram novas siglas, a exemplo de LGBTI+, que incluiu as pessoas intersexo, depois LGBTQIA+, com a inclusão de pessoas queer e assexu-ais, por fim temos LGBTQIAPN+, por meio da qual foram acrescentadas as pessoas pansexuais, não binárias e outras mais.5“Um estudo etnográfco interessa-se tanto pelas práticas (o que as pessoas fazem) quanto pelos signifcados que essas práticas adquirem para aqueles que as realizam (a perspectiva das pessoas sobre essas práticas)” (Tradução dos autores).
image/svg+xml3Folia, arte e militância em terras sergipanas1. Entre protestos e comemorações: da busca pela liberdade sexual ao surgimento das Paradas do Orgulho LGBTA realização de um evento da magnitude da Parada exige a participação de diversas ONGs, coleti-vos e militantes individuais, pois seria impossível uma só pessoa dar conta de tantas atribuições e demandas. A coletividade é de extrema importância tendo em vista que cada coordenador/a e apoiador/a contribui de alguma forma para a execução. Nesse sentido, os processos coletivos se tornam relevantes para que ocorram mudanças sociais, institucionais e culturais, foram por meio deles que surgiu a primeira geração do movimento por libertação sexual. Segundo Quinalha (2022), no século XIX a perda de espaço do discurso religioso acaba colocando em maior destaque esferas discursivas médico-higienistas no amplo campo da sexualidade. Nesse momento histórico, a maior parte dos países europeus possuíam legislações que crimi-nalizavam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. (...) Vale ressaltar que a crimina-lização das homossexualidades foi um dos fatores principais de aglutinação e de mobilização dessa geração pioneira no protoativismo. (...). Assim, as batalhas contra a patologização e a criminalização das homossexualidades são as duas grandes bandeiras que marcaram o surgi-mento desse movimento com epicentro na Europa. (Quinalha, 2022, p. 49-50).No entanto, no século XX, a partir dos anos 1930, a Europa acaba sendo devastada com o advento da Segunda Guerra Mundial e do nazifascismo, o que gerou uma mudança na localização do epicentro dos ativismos, que passou a se estabelecer nas Américas, principalmente nos Estados Unidos. En-tretanto, na Alemanha seguiu existindo a presença de uma subcultura gay urbana, sendo os bares os locais mais escolhidos para a sociabilidade das pessoas LGBT, por serem espaços mais escuros e re-servados. Conforme Fernandes (2011), a identidade gay tornou-se um elemento central para que se forjasse um senso de comunidade, havendo assim a possibilidade da emergência de um movimento, que foi mobilizado nas décadas de 1950 e 1960 pelo feminismo e pelo movimento negro. Os primeiros grupos surgem nos anos 1950, com a criação da Sociedade Mattachine6e a Filhas da Bilitis7. Ambos tinham como pauta as questões relacionadas com a discriminação no trabalho e as legislações de criminalização. As legislações repressivas eram a base para as violências policiais contra homossexuais e pessoas trans e ocorriam com frequência em vários bares, ocasionando di-versas revoltas. Dentre elas, a mais famosa é a de Stonewall, nos Estados Unidos, que se iniciou em 28 de junho de 1969 e durou até o dia 03 de julho do mesmo ano. O que era para ser simplesmente uma ação policial rotineira suscitou uma reação inédita. O procedimento realizado pelos invasores, as conhecidas “batidas policiais”, era uma praxe e vinha sendo realizado sem grandes conflitos até a noite em que os frequentadores saíram às ruas e en-frentaram os policiais com pedras e pedaços de madeira. Gritava-se palavras de ordem como “Poder Gay”, “Sou bicha e me orgulho disso”, “Eu gosto de rapazes” e, a partir daí, deflagrou-se um conflito de rua de grandes proporções e com reverberações nos anos posteriores (Ferreira, 2012). Para Wolf (2021), o que fez com que a revolta de Stonewall fosse diferente de todo o ativismo gay até aquele momento não foi apenas a inesperada duração do conflito nas ruas, que ocupou várias noites, 6 A Sociedade Mattachine (no original, Mattachine Society) foi a primeira organização gay dos EUA, fundada por Harry Hay em defesa dos homossexuais.7A Filhas da Bilitis (no original, Daughters of Bilitis) foi um grupo de defesa das lésbicas fundado por Del Martin e Phyllis Lyon em São Francisco no ano de 1955.
image/svg+xml4Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de MeloMas a mobilização consciente de ativistas novos e experientes que expressaram esse clima mais militante. Como em uma represa, Stonewall foi a explosão gestada por vinte anos de avanços lentos, gota a gota, fruto do esforço realizado por homens e mulheres cuja organi-zação consciente criou condições para a onda espontânea de fúria. Os levantes, por si só, não seriam lembrados hoje por seu papel de transformadores da política e da vida gay se não tivessem sido seguidos por organizações que transformaram a indignação em força social crescente. (Wolf, 2021, p. 168-169).A partir dessa revolta houve um deslocamento na forma de se fazer o ativismo, em que o orgulho seria o vetor ideológico principal de um modo eroticamente subversivo de ser contra uma ordem social e sexual conservadora. Isso se refletiu na criação de novos grupos que inseriram a expressão “gay” nos seus nomes, a exemplo do Gay Liberation Front (GLF) e do Gay Activists Alliance (GAA). No ano seguinte, na região da cidade de São Francisco, iniciou-se uma tradição de luta por direitos para os homossexuais através de grandes manifestações públicas, que ficaram conhecidas como Gay Prides Parades (Quinalha, 2022; Ferreira, 2012). Segundo Ferreira (2012), os novos movimentos sociais da segunda metade do século XX ganha-ram relevo e se organizaram principalmente durante os anos 1960, 1970 e 1980, impulsionando novas formas de mobilização em que a resistência nas ruas contra expressões de violência e re-pressões de todo tipo foi o mote principal para o surgimento e organização de muitos grupos em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil.Até que ocorresse a primeira Parada LGBT no Brasil, muitos eventos e acontecimentos marcaram as diferentes gerações de ativismo em nosso país. Assim como o movimento feminista, a interpretação da periodização do movimento LGBT vem sendo metaforizada por meio de ondas. Isso foi feito pio-neiramente por Green (2015), que definiu duas ondas, a primeira de 1978 até 1985 e a outra a partir desse momento até os dias atuais. Simões e Facchini (2009) adotaram a mesma metáfora, porém em um modelo de três ondas. A primeira se deu no período da “abertura política” da ditadura, a segunda durante o período da redemocratização e a terceira a partir dos anos 1990 até o presente.Antes mesmo antes de existir um movimento homossexual político e organizado, já haviam sido forma-das subculturas homossexuais urbanas em diversas cidades, uma “movimentação” presente tanto nas reuniões em ambientes domésticos como nos encontros em espaços públicos. Vale ressaltar que são escassas as informações sobre espaços de convivência e sociabilidade de mulheres homossexuais. A subcultura homossexual esteve presente entre os anos 1960 e meados dos anos 1970 em diver-sos territórios físicos e simbólicos como clubes, saunas e boates, se expandindo e se diversificando, abrindo o caminho para a expressão de um movimento político homossexual (Simões; Facchini, 2009).Após esse momento “pré-histórico” do movimento, surge a primeira onda, entre o fim da década de 1970 e meados dos anos 1980, caracterizada como um período antiditatorial e contracultural. Du-rante esse momento, algumas referências de mobilização política em defesa da homossexualidade se destacam: o jornal Lampião da Esquina, que possibilitou a constituição de identidades individuais e coletivas; o Grupo Gay da Bahia (GGB), fundado na cidade de Salvador, contribuindo com a despato-logização das homossexualidades; e o Grupo Somos, de São Paulo (Ramos; Carrara, 2006).A segunda onda é caracterizada como o período no qual se desenvolve um estilo de militância de ação mais pragmática, mais preocupada com aspectos formais de organização institucional e voltada para a garantia dos Direitos Civis e contra a discriminação e a violência dirigidas aos homossexuais. Ela surge com a epidemia do HIV/AIDS, que obrigou o movimento homossexual a deslocar a sua luta contra o autoritarismo para o combate à doença.
image/svg+xml5Folia, arte e militância em terras sergipanasSegundo Costa (2016), o estado de Sergipe foi um dos primeiros a criar o programa de DST/AIDS. Diversas ações foram desenvolvidas pelo médico Almir Santana8, popularmente conhecido como “Doutor Camisinha”, e uma delas foi a criação do Bloco da Prevenção, um bloco carnavalesco que abre o desfile da prévia carnavalesca do estado, o Pré-Caju, que ocorre todos os anos na capital Aracaju. As pessoas interessadas em participar do desfile do bloco trocam os kits por alimentos que são distribuídos para as pessoas carentes que convivem com o vírus HIV. Geralmente os kits contêm camisas, informativos e também preservativos que dão acesso ao bloco e à festa (Costa, 2016). Além disso, a articulação de Dr. Almir com o movimento homossexual foi extremamente importante na busca de consolidação de políticas públicas de saúde na área da DSTs/AIDS.Ainda na segunda onda, surgiram campanhas que ajudaram a forjar uma nova percepção do ativis-mo em relação às institucionalidades. Uma delas foi encabeçada pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que teve como objetivo a organização de um abaixo-assinado reivindicando a despatologização da homossexualidade9, enquanto a outra tinha como objetivo a inclusão da “expressa proibição da discriminação por orientação sexual” na Constituição, tendo como porta-voz o advogado João Antônio Mascarenhas, fundador do grupo Triângulo Rosa, ONG criada em 1985 no Rio de Janeiro. A partir da década de 1990 se inicia a terceira onda, quando o movimento multiplica as categorias de referência ao seu sujeito político. E isso ocorre por dois motivos: o primeiro é a influência de processos globalizados que adotam uma autoidentidade o mais fiel possível às especificidades de determinado “segmento”; e o segundo é o diálogo socioestatal que exigia uma delimitação de sujeitos e demandas (Facchini, 2005). É nesse período que se organizam também as Paradas do Orgulho LGBT, no molde de uma política de visibilidade de massa mais agregadora do que suas congêneres norte-americanas (Simões; Facchini, 2009). Ainda conforme Facchini (2020), o suces-so do formato desse evento faz pensar sobre o acerto do enquadramento transgressor e da produ-ção de uma visibilidade plural, baseada em trios elétricos e corpos-bandeira.As Paradas foram a face pública do movimento, mas também a ponte de contato entre cate-gorias forjadas no âmbito de um campo restrito de ativistas cada vez mais voltado às gramá-ticas estatais e de uma enorme e multifacetada arena. Contando com ativistas e organizações, as Paradas evocavam experiências, buscando conectá-las com categorias como “homofobia”, “orientação sexual” e “identidade de gênero”, entre outras (Facchini, 2020, p. 49).Apesar de alguns pesquisadores considerarem a Parada de São Paulo como a primeira a ser rea-lizada no país, fontes demonstram que esse pioneirismo pode ser atribuído à do Rio de Janeiro, que ocorreu em 25 de junho de 1995, como encerramento da 17ª Conferência Internacional da International Lesbian and Gay Association - ILGA10 (ver figura 1).8 José Almir Santana, natural de Aracaju/SE, é médico formado pela Universidade Federal de Sergipe em 1981, com especializa-ção em Saúde Pública, responsável técnico pelo programa estadual IST/AIDS desde 1987 e professor de Biologia desde 1982.9 No dia 9 de fevereiro de 1985, o Conselho Federal de Medicina atendeu à reivindicação e retirou a homossexualidade do código 302.0 e passando-a para o código 2062.9, referente a “outras circunstâncias psicossociais” (Quinalha, 2022).10 A Conferência contou com cerca de 1.200 participantes. Segundo os registros no Guia Oficial da Conferência, houve apoio do Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de DST e Aids; da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janei-ro, por meio da Divisão de Controle de DST e Aids; dos sindicatos dos Bancários e Previdenciários, ambos do rio, e dos Trabalhadores na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ; de duas ONGs internacionais ligadas à temática dos direitos humanos; de quatro empresas privadas e de quatro associações brasileiras: a ABIA e o Grupo pela VIDDA (ONGs-Aids sediadas no Rio); o Grupo Gay da Bahia (GGB) e o grupo Dignidade. (Simões; Facchini, 2009, p. 144-145).
image/svg+xml6Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de MeloFigura 1 – Matéria da Folha de S. Paulo sobre a 17ª Conferência da ILGAFonte: Folha de S. Paulo, 1995.Porém, em entrevista à revista “Lado A”, o antropólogo Luiz Mott divergiu desse pioneirismo. Para ele, o último dia do VIII Encontro de Lésbicas e Gays marcou a primeira Parada Gay do Brasil, se-guindo o padrão internacional e mantido até hoje no país (Johan, 2015). É nesse encontro que a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis foi fundada. De acordo com Mott, no dia 31 de janeiro de 1995 em Curitiba foi realizada a maior passeata GLT da história do Brasil até então, a primeira a apresentar o mesmo layout das “gays parades” norte-americanas. Estiveram presentes 40 grupos GLT e mais de 500 participantes, dois carros de som, muitos balões e bandeiras com as cores do arco-íris, travestis, drag-queens e transformistas em profusão, percorrendo as ruas prin-cipais do centro, com falações na famosa Boca Maldita (Johan, 2015). No ano seguinte, segundo Camargos (2018), o acontecimento mais próximo que antecede ao que podemos chamar de Parada teria ocorrido em São Paulo, no dia 28 de junho, por meio de um ato pú-blico na Praça Roosevelt promovido pelo Grupo Corsa. Em 1997, depois de uma passeata realizada no final do IX EBGLT (Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Travestis), alguns militantes do Grupo Corsa começaram a planejar um evento de maior porte, em comemoração ao 28 de junho daquele ano (Facchini, 2005). Dessa forma, no dia 28 de junho São Paulo realizava a sua primeira edição.Com cerca de dois mil participantes, a “Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas e Travestis”, como denominado à época, foi fruto do trabalho dos grupos CORSA, Núcleo de Gays e lésbi-cas do PT de São Paulo, Caheusp, Etc. e Tal, APTA (Associação para Prevenção e Tratamento da AIDS), AnarcoPunks e Núcleo GLTT do PSTU. Saiu da Avenida Paulista e terminou na Pra-ça Roosevelt. Uma perua do tipo Kombi, emprestada pelo Sindicato das costureiras de São Paulo, fazia as vezes de trio elétrico, e, diferentemente das Paradas seguintes, que seguiam predominantemente ao som da música que tocava nas boates GLS, na primeira Parada ou-viu-se MPB, advinda de três fitas K-7 gravadas por uma das organizadoras e reproduzidas pelas caixas de som da perua. Em todo o trajeto os militantes revezavam-se ao microfone para discursar e puxar palavras de ordem entre as músicas. (França, 2006. p. 79).O modelo da Parada de São Paulo se expandiu para outras capitais e cidades do interior, gerando uma visibilidade inédita para as demandas do movimento LGBTQIA+, como também consolidando um mercado voltado para esse segmento.
image/svg+xml7Folia, arte e militância em terras sergipanas2. Artivismo em Sergipe: do Baile dos Artistas à primeira Parada do Orgulho LGBTA Parada LGBT de Sergipe vem, ao longo dos seus 21 anos, atraindo um número expressivo de participantes que, em sua grande maioria, são pessoas LGBTQIA+. Dentre os diversos motivos que as fazem sair de casa, um dos principais é o de reencontrar seus/suas amigos/as. Essa é uma característica dos rituais populares, a exemplo dos carnavais, que objetivam o encontro e não a separação (DaMatta, 1997). É interessante observar que DaMatta (1977), ao analisar diversos rituais, apresenta a oposição categórica entre rua e casa como ponto focal para o entendimento do mundo social, e quando se refere ao carnaval aciona a dicotomia dessas categorias ao explicar que nesse ritual existe a dialética do que deve ficar escondido e do que é abertamente revelado. Para o autor, essa súbita conscientização do “escondido” e do “exibido” conduz à oposição básica na sociedade brasileira entre o “ver” e o “fazer”: “De fato, em todo carnaval existem as pessoas que fazem coisas (desfilam, brincam, cantam, etc.) e as pessoas que simplesmente olham. É uma relação de absoluta com-plementariedade, como a que ocorre entre a casa (de onde se olha) e a rua (onde as coisas acon-tecem)” (DaMatta, 1997, p.145). Assim como acontece no carnaval, na Parada algumas pessoas fazem parte do cortejo enquanto outras ficam apenas olhando. Green (2019) afirma que a presença de homossexuais nas festas carnavalescas dividia a socie-dade, que reagia numa oscilação entre a aceitação e a repressão, entre a curiosidade e a repulsa. Segundo o autor, na virada do século XIX para o XX os homossexuais masculinos “invadiram” os bailes com seus trajes femininos.Eles também organizavam grupos de travestis que participavam do carnaval de rua. Nos anos 40, os bailes de travestis emergiram como o lugar privilegiado para performances públicas da inversão da representação de gêneros. Ao longo de toda a década de 1950, a projeção desses bailes aumentou, à medida que eventos organizados exclusivamente para a subcultura ho-mossexual cresciam em número, tamanho e visibilidade. Embora os adeptos do carnaval de rua também se travestissem, os bailes de travestis eram os principais locais onde a regra era o desregramento, onde se podiam transgredir normas de masculinidade e feminilidade sem preocupação com a hostilidade social ou punições. Em meados da década de 1970, os bailes de travestis passaram a ser parte integrante do carnaval carioca. (Green, 2019, p. 342).Nota-se que o travestismo e a transgressão de gênero se expandiram das ruas para os espaços fe-chados. Em Sergipe, por falta de incentivo do poder público, havia muita dificuldade para realizar o carnaval de rua nos anos 1960. Para suprir essa lacuna, coube aos clubes realizar um carnaval privativo. Para Melo (2013), por não haver um carnaval de rua, os clubes concentravam quase toda a animação da capital.O clube era um local para ver e ser visto na sociedade, onde se concentravam todas as aten-ções da cidade no período festivo. E na manhã da quarta-feira de cinzas, ocorria um encon-tro de foliões do Iate com os do Cotinguiba, entre cinco e seis horas da manhã, na principal avenida de acesso ao bairro Treze de Julho, com direito a orquestra, e percorrendo as ruas adjacentes com o intuito de coroar o carnaval que passou; e também como forma de “dar uma colher de chá” para aqueles que não tiveram condições financeiras para pagar a entra-da nos clubes citados. (Melo, 2013, p. 52).Nas décadas de 1970 e 1980, os bailes carnavalescos presentes nos clubes eram abertos pelo “Bai-le dos Artistas”, criado pelo cronista e comunicador social João de Barros, popularmente conheci-
image/svg+xml8Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de Melodo como Barrinhos, uma personalidade bastante importante para a cultura sergipana. Foi um dos responsáveis pela criação da Associação Sergipana de Cultura (ASC). Exerceu diversos cargos na área da cultura, foi secretário executivo da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe e secretário executivo do Conselho Estadual de Cultura. Com o programa de rádio “Vanguarda Cultural”, da ASC, iniciou sua caminhada na imprensa sergipana. Nos jornais, trabalhou na Tribuna de Aracaju, no jornal O Estado de Sergipe e no Jornal da Cidade. Posteriormente, fez parte da Rádio Cultura, saindo para a rede Atalaia de Televisão. Como colunista social, promoveu o Baile dos Artistas por 17 anos e trouxe estrelas do Brasil inteiro; realizou diversos festivais e encontros, a exemplo do Festival da Mulher, o encontro social só para mulheres, a festa anual das mães e vários encontros regionais de colunistas sociais; criou o primeiro salão de arte em Aracaju, que foi o Salão Atalaia de Pintura; e realizou inúmeros concursos de decoração de clubes no carnaval e outras diversas promoções. Além disso, criou a Associação dos Colunistas Sociais de Sergipe e co-ordenou por oito anos o Miss Brasil em Sergipe (Santos, 2004). Barrinhos faleceu em 2001 de infarto fulminante, e, para homenageá-lo, a Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE) instituiu em 2019 a Medalha do Mérito “Radialista e Jornalista João de Menezes Barros Filhos (Barrinhos)”, a fim de presti-giar pessoas que contribuíram com a comunicação no estado de Sergipe (Lacerda, 2021).Segundo Melo (2013), o “Baile dos Artistas”era protagonizado pelas fantasias exóticas de foliões homossexuais e das travestis, que eram,discriminados durante o ano todo, porém naquele momento festivo eram aplaudidos e as pessoas que não entravam no baile, ao menos iam para a porta dos clubes para vê-los exi-bindo suas fantasias extravagantes. Eram realizados ou no Vasco ou no Cotinguiba, clubes que toleravam a condição sexual da maior parte dos partícipes do baile; ao contrário do Iate e da Atlética que negavam seus espaços para esse tipo de baile. Alguns deles chega-ram a contar com a participação de personalidades nacionais como Elke “Maravilha”, Clóvis Bornay, Clodovil, Roberta Close e Jorge Lafond (mais conhecido através do personagem Vera Verão) (Melo, L., 2013, p. 52).Mesmo com a tolerância aos homossexuais e travestis em espaços exclusivos para heterossexuais, percebe-se que não havia uma unanimidade desses clubes, a exemplo do Iate e da Atlética, que eram locais ocupados pelas classes média e alta. Na década de 1990, Barrinhos passa a coordena-ção do evento para o advogado, cabeleireiro e transformista Antônio Lisboa Neto, que é uma refe-rência tanto para a comunidade LGBT quanto para a sociedade sergipana em geral. Lisboa nasceu em 2 de julho de 1947, na cidade de Ilha das Flores, e se apaixonou pela arte da maquiagem e do cabelo após uma viagem que fez a Brasília ao ver seu amigo de nome Jô fazer os cabelos de seus clientes. Quando voltou a Aracaju, decidiu seguir a carreira de maquiador e posteriormente partiu para São Paulo para realizar um curso de cabelo. Lisboa foi tenor solista por 15 anos do coral da Universidade Federal de Sergipe e fazia transformis-mo imitando diversas artistas: Clara Nunes, Liza Minelli, Marisa Monte, dentre outras; além disso, produziu por 12 vezes o Lisboa Halley Show. Era conhecido também como o estilista das noivas, tendo mais de 15 noivas de destaque da sociedade sergipana que foram ao altar com roupas criadas por ele. Atuou na televisão sergipana, precisamente na TV Atalaia, nos anos 1989 e 1990, com o programa “Lisboa à Tarde”. Na imprensa escrita, fez uma passagem pelo jornal Gazeta de Sergipe11, 11 Principal periódico sergipano no período de 1950-2000. O jornal se autointitulava “combativo” e defensor de uma política “mais justa” (Reis, 2014).
image/svg+xml9Folia, arte e militância em terras sergipanasassinando a coluna “Lisboa Socialmente”, publicada na edição dominical do suplemento “A Gazeti-nha” (Santos, 2004). Na madrugada do dia 27 de julho de 1998, Lisboa foi assassinado no quarto de sua residência por Márcio Pinto do Monte, que deferiu 14 facadas contra a vítima. Márcio morreu num acidente automobilístico próximo a Maceió, no dia 29 de setembro de 1998, sem explicar as razões que o levaram a cometer tamanha brutalidade. A morte de Lisboa criou um clamor na população e ao mesmo tempo foi importante para a divulgação dos casos de assassinatos contra homossexuais em Sergipe (Oliveira, 2012). Segundo Costa (2016), durante a década de 1990 muitos homossexu-ais foram vítimas de crimes violentos. Alguns dos assassinatos acometeram pessoas que galgavam certo prestígio junto à sociedade por ocuparem cargos importantes ou serem de famílias da elite, fato que chamou atenção da população para esse problema, que também repercutia com bastante intensidade na mídia.Assim que Barrinhos passou a coordenação do Baile dos Artistas para Lisboa, uma das suas pri-meiras iniciativas foi modificar o nome do evento para “Baile das Atrizes”, que em sua segunda edição teve como tema os 80 anos de Carmem Miranda. No evento ocorria o desfile de fanta-sias e para a competição o júri votava em três categorias: luxo, originalidade e melhor Carmem Miranda. Nessa edição competiram cerca de 20 travestis e houve uma homenagem a Everaldo Alves Campos, mais conhecido como “Magnólia”12, a primeira e mais famosa travesti de Aracaju, que faleceu em 20 de setembro de 2022 com 74 anos. Como convidada especial, Magnólia se fan-tasiou de “Carmem Sergipana” em homenagem ao grande talento da música popular brasileira. Essa preferência pela Carmem Miranda se tornou uma tentativa de acionar uma “brasilidade” a partir da imagem da cantora, sendo muita das vezes utilizada pelas travestis nos repertórios de shows. Esse dado é analisado por Soliva (2016) por meio da confirmação de Rogéria13, que em entrevista ao jornal O Pasquim, no ano de 1973, disse que, no período em que estava no Carrousel14, todas as brasileiras que lá faziam show tinham algum número de Carmem Miranda em suas composições. Assim como Magnólia, Lisboa se vestiu de Carmem Miranda e desfilou em uma fantasia luxuosa nas cores rosa e preto, com bastante brilho e acompanhada da leveza do dançar das plumas (ver figura 2). 12 No final da década de 1970, Magnólia causou na Boate Saveiros, um espaço luxuoso e extremamente elitista que ficava dentro do Iate Clube. Com uma peruca loira, bem maquiada e usando um vestido vermelho, a travesti entrou acompanhada de um empresário da moda, conhecido como Wilson do Gavetão. Wilson chegou à boate de braços dados com Magnólia, a primeira travesti assumida de Aracaju. Na ocasião, ambos foram retirados do clube e Wilson teve o seu título de sócio proprietário cancelado (Souza, 2022).13 Nascida em Cantagalo, município do Rio de Janeiro, em 1943, como Astolfo Barroso Pinto. Rogéria iniciou a sua carreira como maquiadora da extinta TV Rio, e essa experiência permitiu que conhecesse atrizes como Fernanda Montenegro e Bibi Ferreira. Seu nome veio de um concurso de fantasias de carnaval do qual participara. Ficou famosa, assim como outras travestis, com o espetáculo “Les Girls”. Fez sucesso na Europa, sobretudo no “Carrousel de Paris”, onde foi considerada uma grande vedete. Regressou ao Brasil em 1973, já com o status de uma diva internacional. Rogéria participou de várias produções – cinema e televisão –, sendo uma das travestis mais conhecidas no Brasil (Soliva, 2016).14 “O Carrousel de Paris”, conhecido por Rogéria e demais “travestis” dessa geração, permaneceu na Rue Vavin de 1962 a 1985, ano em que fez a sua última apresentação, na qual estava presente Divina Valéria. Antes de 1962, o cabaré situava-se no 40 da Rue du Colisée, no 8ª arrondissement (Soliva, 2016).
image/svg+xml10Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de MeloFigura 2 – Lisboa desfilando na segunda edição do Baile das AtrizesFonte: Jornal Gazeta de Sergipe, 17 de fevereiro de 1990.Por meio do transformismo, Lisboa causava uma reivindicação social na ocupação desses espaços que muitas vezes eram negados aos homossexuais e travestis. Dessa forma, identifica-se a práti-ca do artivismo que, segundo Raposo (2015), é, ao mesmo tempo, causa e reivindicação social e, simultaneamente, um avanço artístico, propondo cenários, paisagens e ecologias alternativas de prazer, participação e criação artística. Além disso, Lisboa usava seu corpo como uma ferramenta fundamental para desafiar o poder. Conforme Trói (2019), essa é a característica que se fez pre-sente na relação entre arte e ativismo a partir do século XIX. As matérias dos jornais da época te-ciam diversos elogios a Lisboa e o caracterizavam como um ser de luz própria, sinônimo de festa, alegria e brilho. Era uma figura bastante querida por todos e por meio do seu talento representou o estado por mais de cinco concursos de Miss Sergipe Gay, além de também organizar o Miss Bra-sil Gay em Sergipe. Para Trevisan (2018), chamar atenção para sexualidades desviantes na arte é, antes de tudo, aproximar a produção artística da vida cotidiana e problematizar seu olhar a partir delas. A participação de Lisboa nesses concursos revela como se deu a construção das sexualida-des não-normativas no Brasil:Esses concursos ofereciam uma oportunidade única para essas “bichas” interagirem e ne-gociarem pertencimentos identitários em um contexto de invisibilidade marcado pela ex-periência da clandestinidade. O interesse pelos concursos de Miss está intimamente ligado à consolidação da sociabilidade “bichal” no país. Esse interesse, assim como o carnaval, possibilitou a ocupação de espaços e a materialização de sexualidades não normativas (So-liva, 2016, p. 85).Em meados da década de 1990, os carnavais nos clubes começaram a não ter a mesma importân-cia que tinham nos tempos anteriores. Segundo Melo (2013), os clubes estavam definhando, pois nem no principal evento do ano, quando se costumava arrecadar os maiores capitais financeiros, se conseguia reunir recursos para a manutenção da estrutura dos clubes. Esse cenário piorou a partir dos anos 2000, com o advento do axé music, que contribuiu para a decadência desse mo-
image/svg+xml11Folia, arte e militância em terras sergipanasdelo de entretenimento. No ano de 1993, o empresário e vereador aracajuano Fabiano Oliveira15, influenciado pelas festas carnavalescas da Bahia, decidiu realizar um projeto denominado “Com Amor”, com o objetivo de incrementar o carnaval de rua. Nessa festa foi criado o “Bloco do Amor”, no qual os foliões iriam percorrer a orla marítima e a avenida Beira Mar ao som de trios elétricos. Esse projeto serviu como piloto para o primeiro Pré-Caju, uma festa que seguiu o mesmo formato, porém com uma maior quantidade de trios e atrações artísticas, tornando-se a prévia carnava-lesca do estado. A imprensa não imaginava que esse novo modelo de carnaval iria prosperar por tantos anos na capital sergipana, como foi enfatizando na notícia do Jornal da Cidade:O Estado de Sergipe está tentando convocar os foliões, no sentido de fazer, quem sabe, um dia, um belo carnaval. Para isso, foi iniciado ontem (no Parque Pré-Caju- entre o shopping e o Augustu´s, o Pré-Caju 93, o qual consta de uma vasta programação carnavalesca. A aber-tura oficial do evento aconteceu por volta das 21 horas, com a animação da Banda Skenta, sequenciada pela Banda Papa Léguas, Trio Elétrico e Banda Brilho e Armandinho, Dodô e Osmar. Grandes nomes do carnaval da Bahia estarão presentes no nosso primeiro Pré-Caju, que para variar traz a música baiana como a grande estrela. Isso não é de se estranhar, pois as coisas de Sergipe acontecem por imitar o que já existe, deixando, portanto, de evidenciar a nossa identidade cultural. Esperamos que o anunciado pelos produtores do evento seja cumprido dentro do risco apresentado ao público, pois essas coisas de modismo sempre acabam no primeiro (Silva, 2017, p.10).Ano a ano, o número de blocos que fazia parte do Pré-Caju aumentava, e em menos de cinco anos já desfilavam na avenida oito blocos. Dentre esses blocos, existia “As Cajuranas”, criado por quatro amigos e tendo como presidente Ailton Coelho de Carvalho. O bloco é formado apenas por homens que se fantasiavam de mulheres. A cada ano, uma nova fantasia é escolhida, sendo que no primeiro ano 30 homens se fantasiaram de odaliscas (ver figura 3). Quatro anos depois, o número de parti-cipantes passou para 400 participantes. Figura 3 – Homens fantasiados de Odaliscas no Bloco “As Cajuranas”Fonte: Site do Bloco Cajuranas16. 15 Natural de Brasília, Fabiano Oliveira nasceu em 1970. Filho dos sergipanos de Campo do Brito, José Augusto Celestino de Oliveira e Iranice de Almeida Oliveira. Fabiano disputou o primeiro mandato eletivo como candidato a deputado estadual e ficou como pri-meiro suplente da sua coligação, tendo assumido o mandato por dois anos. Em novembro de 2001, assumiu a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo e simultaneamente a presidência da Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur), no governo Albano Franco. Atua há mais de 20 anos como apresentador do programa Canal Elétrico, na grade da TV Atalaia, afiliada da Record TV em Sergipe.16 Disponível em: http://cajuranas.com.br/site/galeria-de-fotos/pre-caju-1995-odaliscas.html. Acesso em nov. 2021.
image/svg+xml12Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de MeloO surgimento do bloco foi noticiado pelo Jornal da Cidade:A ideia surgiu de uma brincadeira de amigos que se reuniram na praia para um simples jogo de futebol, realizado no sábado de Carnaval. Eles se fantasiavam de mulher e faziam as pessoas rir em plena praia. A brincadeira foi crescendo e recebendo novos adeptos. Juntos, eles resolveram uniformizar o grupo para desfilar durante o Pré-Caju. Pronto, foi o suficien-te para chamar a atenção de milhares de pessoas que assistem à festa até hoje e que passa-ram a exigir a participação do bloco. O grupo é formado por jovens e adultos dos 15 anos em diante. São pais e filhos e até avôs que na vida real exercem as mais variadas funções, desde estudantes, advogados, professores, políticos, contadores, médicos, administradores e até desempregados. (Silva, 2017, p. 92).A partir da matéria, nota-se que a prática de se travestir estava associada ao cômico, o que faz com que determinadas identidades sexuais acabem sendo ridicularizadas. Isso também é evidenciado em outra notícia do mesmo jornal.O último Pré-Caju do século XX termina hoje, arrastando para a praia 13 de Julho milhões de foliões. Nestes cinco dias, o que não faltou foi muita animação das pessoas que, tanto na “pipoca”, quanto nos blocos alternativos e oficiais, desfrutaram da magia das bandas baianas que, literalmente, fizeram a festa. Na sexta e no sábado à noite, todos foram con-tagiados pela irreverência e o deboche das Cajuranas, a sensualidade de Ivete Sangalo e a força do Timbalada. Para hoje tem mais animação. Se o objetivo da sexta-feira à noite era animar os foliões, eles conseguiram. Os blocos As Cajuranas, com seios e bundas postiças, fizeram a festa na avenida da 13 de Julho e arrancaram sorrisos no corredor da folia. Cada um dos integrantes procurava acentuar o lado feminino com muita irreverência (Melo, L., 2016, p. 128).O presidente do bloco explicou ao jornal como se dava a transformação dos participantes e quais os requisitos exigidos para ser uma Cajurana.“Ninguém se atreve a vir pronto de casa, do contrário, a turma cai em cima”, revelou Ailton. As mulheres são as responsáveis pela transformação dos filhos, irmãos, namorados, noivos e maridos. “Cada componente do bloco paga R$40, e recebe um kit com saia, bustiê, meião, espanador e protetor de cabelos; os acessórios como maquiagem, peruca, sapatos e outros adereços, ficam por conta da criatividade de cada um, além dos requisitos exigidos para ser uma “cajurana”. São eles: ser muito machos, corajosos e tem que saber brincar sem brigar”, explicou o presidente. (Melo, L., 2016, p. 92).O discurso do presidente denota um modelo de masculinidade imposto para todos os homens, uma virilidade que está atrelada também à figura do homem nordestino, corajoso, o famoso “cabra ma-cho” (Albuquerque Junior, 2003). Segundo Costa (2016), as exigências para ser uma “Cajurana” per-passam as questões dos papéis sexuais e aquilo que é ou não permitido na esfera pública, o que se exemplifica por meio do episódio ocorrido com Wellington Andrade, um dos diretores do Dialogay. O Grupo Dialogay de Sergipe (GDS) foi fundado em 14 de março de 1981, sendo o primeiro movimento homossexual institucionalizado no estado de Sergipe. Nos anos 1980, diversos laços foram feitos, como com os movimentos sociais, parcerias com sindicatos, movimento estudantil universitário e partidos de esquerda, a exemplo do PT – Partido dos Trabalhadores (Oliveira; Lemos, 2021). Segundo Costa (2016), o Dialogay desenvolveu importantes mobilizações na cidade de Aracaju em torno das causas homossexuais. Os pontos fortes de luta incluíam a violência contra homos-
image/svg+xml13Folia, arte e militância em terras sergipanassexuais, a exigência de políticas públicas de prevenção à AIDS, o debate sobre união civil e a luta incessante em prol do respeito à diversidade, o que levou o grupo a diversos posicionamentos públicos que fortaleceram a luta na cidade. Wellington Andradefoi um dos militantes que esteve engajado nessas lutas e sofreu bastante nesse período, sendo impossibilitado inclusive de desfilar no bloco “As Cajuranas” pelo fato de ser um gay assumido. Após essa justificativa, Wellington An-drade questionou o presidente do bloco: “Então você acha que num bloco só de homens, até agora mais de 300, que adoram sair todos os anos vestidos de mulher não existe nenhum homossexual?”. A resposta imediata, segundo Wellington Andrade, foi: “Até pode, mas se tiver são encubados” (Costa, 2016, p. 233). Green (2019) afirma que travestir-se durante o carnaval não significava necessariamente que aqueles que praticassem essa transgressão de gênero eram homossexuais ou coniventes com homoerotismo. Desde a década de 1940, já se notava uma natureza relativa da permissividade carnavalesca e as limitações sociais impostas a determinado tipo de comportamento. Enquanto alguns grupos de carnaval permitiam a participação de homossexuais, outros deixavam explícita sua política de exclusão, refletindo as normas sociais vigentes. Essa exclusão é oriunda das formas idealizadas dos gêneros. Segundo Bento (2019), os regimes de verdades estipulam que certos ti-pos de expressões relacionadas com o gênero17são falsos ou carentes de originalidade, enquanto outros são verdadeiros e originais, condenando a uma morte em vida, exilando em si mesmo os sujeitos que não se ajustam às idealizações. Para Green (2019), a transgressão de gênero que ocorria nesses grupos que se definiam como heterossexuais era limitada aos símbolos de gênero superficiais da sociedade, circunscrita e delimitada no tempo. Ainda segundo o autor, travestir-se durante o carnaval brasileiro é mais do que simplesmente inverter papéis de gênero e código de vestuário socialmente definidos.Na verdade, o fenômeno reflete tensões sociais profundamente arraigadas. Homens con-siderados heterossexuais podem tomar vestidos, bijuterias e maquiagem emprestados de suas esposas, namoradas, mães ou irmãs, vestir-se como uma mulher por um dia de folia e participar de uma exploração lúdica sobre seus próprios conceitos de gênero, mas essa incursão pelo universo feminino é temporária. (Green, 2019, p. 344).Mesmo impedido de se inscrever no bloco das Cajuranas, Wellington Andrade não desistiu de participar do carnaval e no ano de 2002 criou o “Bloco Arco-Íris”, um bloco gay que contou com a participação de 100 idosos, além de drag queens, gogo-boys e gogo-girls. Aberto para todas as pes-soas LGBT, o bloco desfilou na rua ao som do cantor Edson Cordeiro e durante o desfile algumas personalidades públicas que apoiavam o movimento homossexual foram homenageadas. Wellin-gton Andrade batizou esse evento como a primeira Parada Gay de Sergipe, sendo uma das últimas ações realizadas pelo Dialogay antes da sua extinção.17 “Donna Haraway no artigo “Gênero para um dicionário marxista” afirma que o termo gênero foi introduzido pelo psica-nalista estadunidense Robert Stoller no Congresso Psicanalítico Internacional em Estocolmo, em 1963, tratando do mo-delo da identidade de gênero. Stoller teria formulado o conceito de identidade de gênero para distinguir entre natureza e cultura. Porém, as formulações de gênero que tiveram impacto na teoria social foram elaboradas a partir do pensamento feminista, na década de 1970 sendo difundido principalmente após a publicação do ensaio “O tráfico de mulheres: Notas sobre a economia política do sexo” da antropóloga estadunidense Gayle Rubin (Piscitelli, 2009). Seguindo o entendimento de Judith Butler, podemos analisar gênero como uma sofisticada tecnologia social heteronormativa, operacionalizada pelas instituições médicas, linguísticas, domésticas, escolares e que produzem constantemente corpos-homens e corpos mulhe-res” (Bento, 2019, p. 83).
image/svg+xml14Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de MeloTrouxemos para Aracaju o cantor Edson Cordeiro. Muitas pessoas não acreditaram no nos-so trabalho, mas nesse dia foram para a porta do camarote tentar ver o artista, e, como foi um evento gratuito e aberto, simplesmente lotou. Foi muito positiva essa primeira parada no Pré-Caju. Hoje quem organiza a Parada em Aracaju não conta essas que fizemos como oficiais. Mesmo com a grandiosidade que fizemos de ter até ônibus passando nos bairros para pegar as pessoas para levar, os atuais organizadores desconsideram a nossa realiza-ção. (Cardoso, 2021, p. 100).O fato de não darem continuidade ao evento que foi organizado por Wellington Andrade deixou--o decepcionado, devido ao pioneirismo do Dialogay e também à atuação da ONG no estado de Sergipe, contribuindo bastante para a militância LGBT, seja no enfrentamento da homofobia, seja também de outras bandeiras de luta. Em 2001, conforme Melo (2013), o Dialogay foi denunciado ao Ministério do Trabalho por não conseguir cumprir seus compromissos trabalhistas e teve suas portas definitivamente fechadas. É importante salientar que, mesmo antes da sua extinção, em 1999, uma instituição voltada para o segmento trans havia sido inaugurada, a Associação de Travestis Unidas, hoje conhecida como Transunides. Ela surge num contexto preventivo do HIV/AIDS, em parceria com a Coordenação Estadual de DST/AIDS de Sergipe, sob os auspícios de uma assistente social, identificada como uma mulher cisgênero18 que esteve vinculada à Secretaria Estadual da Saúde naquele período. Posteriormente, outras organizações que tiveram sua origem vinculada ao Dialogay foram criadas, a exemplo da Associação Sergipana de Transgêneros, atualmente denominada ASTRA – Direitos Humanos e Cidadania LGBT, no ano de 2001, e a Associação de Defesa Homossexual de Sergipe (ADHONS), em 2003. Dentre as ONGs que surgiram após o Dialogay, a ASTRA é uma instituição de extrema importância, pois assumiu a responsabilidade de realizar o evento que, segundo Wellin-gton Andrade, foi idealizado por ele, mas não reconhecido pelas outras ONGs. Tathiane Araújo, que atualmente é uma das diretoras da ASTRA, idealizou uma outra Parada LGBT ainda no ano de 2001, no tempo que era integrante do grupo Dialogay.No ano de 2001, eu participava como diretora do grupo Dialogay e já havia uma perspectiva de discussão sobre a realização de uma Parada no ano subsequente, que o Dialogay aban-donou essa discussão. Alguns diretores da época diziam que não acreditavam muito que era possível realizar uma Parada aqui, aí também houve diálogo com outras instituições que existiam e a ASTRA estava iniciando seu processo de fundação, isso no ano de 2001. E aí no final de 2001 a gente fundou a ASTRA, que já era algo maturado desde o mês de março para abril de 2001, e aí a gente teve uma perspectiva de reunir primeiro todo mundo que tinha. Nem todo mundo veio no dia, e aí a gente deixou pra novembro, e lá no primeiro dia de discussão da fundação da ASTRA houve essa perspectiva de existir uma Parada e que no ano que vem tinham me convidado para coordenar o processo pelo antigo grupo Dialogay. E aí isso na verdade não rolou, o Dialogay começou a ter alguns problemas, principalmente da ordem trabalhista, com alguns tipos de pessoas processando a instituição porque tavam trabalhando com carteira assinada e depois descobriram que tinham alguns recolhimentos não sendo feitos. Isso, na verdade, desestruturou não só essa perspectiva de Parada como o movimento todo na época. (Tathiane Araújo, entrevista concedida em 13 jan. 2022).Segundo Tathiane Araújo, a ideia da realização de uma Parada veio a se concretizar após a vinda de Marcelo Cerqueira a Sergipe.18 Termo guarda-chuva, ainda que estaria designando as pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído a partir de seu nascimento, mas que não as definiriam como identidades essencializadas (Jesus, 2012).
image/svg+xml15Folia, arte e militância em terras sergipanasMarcelo Cerqueira era presidente do Grupo Gay da Bahia, e veio a Sergipe para uma reu-nião do antigo extinto projeto Somos da ABGLT. E aí teve um interesse de promover uma reunião local, onde não houve a adesão na época dos grupos que existiam. Na época exis-tiam o Dialogay, a Unidas, a ASTRA e a Athena, na verdade eu não participei oficialmente da reunião, eu tive um diálogo com Marcelo posteriormente e ele disse que tava indo embora frustrado porque achava que ninguém iria absolver essa missão. Aí eu falei pra ele que se eu topasse ele poderia me dar o suporte técnico, porque eu era muito nova, tinha na épo-ca 20 anos de idade e tinha toda aquela vontade como movimento, mas não achava que conseguiria sozinha. E aí houve a primeira perspectiva e ele disse que poderia ajudar com um projeto do Ministério da Saúde que pelo menos comportaria algum material gráfico de divulgação e o trio elétrico do primeiro ano, que foi o que aconteceu: a gente conseguiu pelo menos fazer uma Parada tímida com esse apoio. (Tathiane Araújo, entrevista concedida em 13 mai. 2022).Tathiane Araújo ainda menciona que a descrença na realização do evento justificou o pouco apoio do governo do Estado.Teve muito pouco apoio do governo do Estado. Na época, o secretário da Cultura era Fabia-no Oliveira e ele tinha uma sensibilidade porque já trabalhava também com o movimento estudantil, que eu fiz parte por muito tempo como presidente do grêmio do Atheneu. En-tão isso facilitou muito essa confiança que ele tinha, porque a ideia dos gestores da época era de que a gente ia fazer um carnaval como o de Lisboa e que isso tinha que ser fechado dentro de um clube, que as pessoas iam agredir isso no espaço da Orla, e aí Fabiano foi o primeiro gestor que conseguiu discutir isso de uma forma numa perspectiva dos exemplos que já existiam, como a Parada de São Paulo e as manifestações de outros lugares do mun-do, porque esses gestores achavam em 2001 que isso era irreal para o universo de Sergipe. (Tathiane Araújo, entrevista concedida em 13 jan. 2022).Vale ressaltar que essas dificuldades não fizeram que a ASTRA desistisse da realização do evento, contudo outras instituições não quiseram estar à frente para assumir essa responsabilidade,Os outros grupos não queriam assumir o pioneirismo disso porque achavam que a gente ainda não tava preparado, por ser esse grupo pequeno. Na época, alguns voluntários vie-ram pra ASTRA, mas outros foram pra outras instituições; quero ressaltar aqui também o apoio ímpar do Grupo Athena19nesse primeiro ano. Na verdade, das instituições que existiam, ela foi a outra instituição que acreditou piamente no trabalho, depois o Dialogay, mesmo se esfacelando, na pessoa do presidente e de outras pessoas que apoiaram o mês final na organização, e a gente conseguiu colocar assim a primeira Parada LGBT na rua. (Tathiane Araújo, entrevista realizada em 13 jan. 2022).A primeira Parada de Sergipe ocorreu em 28 de julho de 2002 e foi realizada na Orla de Atalaia, um dos mais belos cartões postais de Aracaju e o ponto turístico mais movimentado da capital. Por muitos anos, gays, lésbicas, travestis e transexuais sofreram com a falta de visibilidade, pois eram impedidos de se assumirem em seus espaços de vivência, fruto de uma cultura machista, heteronormativa e preconceituosa. Essa realidade pode ter diminuído, mas ainda está presente, e é na Parada que essas pessoas podem ser livres para demonstrarem o que são em sua plenitude e 19 O Grupo Athena de Sergipe é uma ONG que foi fundada por Kika Salomão, uma militante lésbica, em 29 de agosto de 2002, sendo o primeiro grupo lésbico do estado. Atualmente, Kika não preside a instituição pois reside em outro estado, mas ain-da colabora na construção das atividades da Parada. Desde a primeira edição Kika contribuiu bastante na parte operacional do evento e junto com outras lésbicas debateu temas relacionados a esse segmento em diversos bate-papos da cidadania.
image/svg+xml16Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de Meloconsequentemente se orgulharem da sua identidade de gênero ou de sua orientação sexual. Nota--se que um aspecto oriundo das produções festivas é que essas podem surgir como resultado da visão de mundo e da ação de movimentos de militância e atuação cultural que propõem alterações em sua própria cultura. Assim como ocorre nos desfiles das escolas de samba no carnaval, em que os conflitos presentes na cidade são inseridos nesses eventos (Cavalcanti, 1998, 2006), os reper-tórios do movimento LGBT se inserem na Parada, a exemplo dos temas trazidos a cada ano. Poder se assumir e não se sentir envergonhado é um incentivo presente em muitas Paradas, inclusive na de Sergipe, que em sua primeira edição trouxe o tema “Orgulho de ser Penta, Orgulho de ser Brasileir@, Orgulho de ser Sergipan@, Orgulho de ser homossexual”.3. A 21ª Parada LGBT de Sergipe e o tão aguardado retorno às ruasE a gente vai à luta, e conhece a dor.Consideramos justa toda forma de amor.(Toda forma de amor – Lulu Santos)Depois de dois anos acontecendo de forma virtual, a Parada LGBT de Sergipe voltou às ruas num domingo bastante ensolarado, em 28 de agosto de 2022. Às 15h um grupo de mulheres apareceu em uma das vias da Orla da Atalaia batendo em tambores de forma sincronizada. Enquanto cami-nhavam, diversas pessoas se reuniram para ver de perto a apresentação (ver figura 4). Esse grupo, conhecido pelo nome de Batalá–Sergipe, foi fundado em 2019 e é exclusivamente composto por mulheres de diversas etnias, sexualidades e faixas etárias. Tem como principal objetivo promover o empoderamento feminino por meio da arte da percussão, historicamente caracterizada pela figura masculina. Além de Sergipe, também existe um grupo em Brasília, que também se chama Batalá, O nome faz referência à frase “bate lá” e ao orixá Obatalá; a Batalá é um tipo de batucada especializada no ritmo samba-reggae da Bahia e foi instituída pelo músico brasileiro e baiano José Gilberto Gonçalves – Giba, originalmente na cidade de Paris (Doneza, 2019).Figura 4 – Grupo Batalá na 21ª Parada LGBT de SergipeFonte: Acervo pessoal dos autores, 2022.Quem estava presente ficou contagiado com a energia delas, e algo que chamou bastante atenção foram os trajes coloridos, uma combinação de cores que se encaixou perfeitamente com o evento. Sob o comando da regente Gislene Souza, as integrantes saíram da rua e se posicionaram em fren-
image/svg+xml17Folia, arte e militância em terras sergipanaste ao palco Sobre(Viver), sob os gritos de Fora Bolsonaro!”20. Elas iniciaram cantando e tocando a música “Toda Forma de Amor”, de Lulu Santos, e esbanjaram alegria e muita simpatia num ritmo contagiante que fez o público acompanhar e reproduzir os movimentos da coreografia que elas estavam realizando (ver figura 5).Figura 5 – Grupo Batalá se apresentando na frente do Palco Sobre ViverFonte: Acervo pessoal dos autores, 2022.Com mais de 20 artistas para se apresentar no palco, a Parada estava programada para iniciar às 14h, mas houve um atraso de uma hora e isso acabou comprometendo toda a organização. Em reunião, foi informado que, além das atrações artísticas, também seriam convidados alguns representantes de órgãos públicos para falar sobre direitos da população LGBTQIA+, o que ocor-reria das 14h às 17h30; em seguida, o cortejo dos três trios seria iniciado das 17h30 até às 21h. Devido ao atraso, esse horário não foi cumprido, e isso causou estresse aos coordenadores/as, pois o que tinha sido combinado era que o trio só sairia depois de todos/as os/as artistas se apresentarem. Além do Grupo Batalá, se apresentaram no palco diversos artistas, drags queens, companhias de dança e muitos/as cantores/as. Mesmo que algumas músicas desses artistas não externem falas de protesto, sua própria existência no meio artístico já é uma forma de resistência. Um artista que esteve presente na Parada trazendo arte e militância na sua apresentação foi o ator, performer e produtor cultural, natural da cidade de Tobias Barreto, Henrique Meneses, que ficou conhecido através do videoclipe “Terra do Rechiliê”21, uma homenagem ao seu município. O rechiliê é um bordado originado na Europa, mas que está presente na cidade há muitos anos, uma técnica que é fonte de renda para muitas famílias. Henrique enalteceu a cultura do bordado e ousou ao colocar na música o brega-funk e no clipe uma drag queen para representar a rainha do Rechiliê. A primeira vez que ele se apresentou na Parada LGBT de Sergipe foi no ano de 2021, ainda no for-mato virtual (ver figura 6). Especialmente para o evento, Henrique acrescentou uma introdução 20 No ano de 2022 o Brasil vivenciou um dos processos eleitorais mais tensionados de sua história com forte mobilização social e a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para exercer seu terceiro mandato presidencial.21 Dirigido pelo próprio Henrique Meneses, o videoclipe encontra-se disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-ZR-0WZ0AahU. Contabiliza 7.450 visualizações e foi realizado por meio do edital de premiação para gravação musical, vi-deoclipes, EP’s, CD’s e DVD’s proposto pelo Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê – FUNCAP, com recursos da Lei Aldir Blanc.
image/svg+xml18Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de Melono início da música, ao som de “Vogue” da cantora Madonna, uma voz de fundo falava “Tem jeito não, Tobias Barreto! Tem jeito não!”, e, em seguida, se ouviu o seguinte texto: Viadagem: adjetivo usado para caracterizar de forma pejorativa e homofóbica algo que não se conhece ou que não quer se conhecer e é por isso que na terra do rechiliê tem muita via-dagem, porque nós viados, lésbicas, bis e transexuais queremos e podemos ocupar todos os espaços, romper a barreira do preconceito, bordar a nossa própria história como se borda uma peça de rechiliê, à mão! Com detalhes lindos e cheios de beleza para mostrar que coisa de viado tem muito valor!Figura 6 – Cantor Henrique Meneses se apresentando na 20ª Parada LGBT de SergipeFonte: Acervo pessoal dos autores, 2021.Não faltaram elogios à sua apresentação, que de forma criativa e ousada valorizou a cultura da sua cidade e abordou o preconceito vivido pelas pessoas LGBTQIA+. Na 21ª edição ele cantou essa música e apresentou ao público seu novo trabalho intitulado “Homem de Verdade”, com o intuito de combater o machismo. Em um dos trechos da música há a preocupação em desconstruir a ideia de que dançar não é para os homens: “Agora eu já falei, eu não vou repetir, ninguém manda em mim! Vou sentar, vou rebolar, vou descer até o chão, homem de verdade também mexe o popozão” (Meneses, 2022). Essa noção desconstruída do homem universal, naturalmente viril, competitivo e violento, surge a partir dos estudos das masculinidades que segundo Bento (2019) desenvol-veram-se no espaço teórico aberto pela perspectiva relacional. De acordo com Connell (1995), nos anos 1970 o gênero dos homens era compreendido como o “papel do sexo masculino”, isso significava, essencialmente, um conjunto de atitudes e expectativas que definia a masculinidade apropriada. Contudo, trata-se de um conceito que não nos permite ver as complexidades no inte-rior da masculinidade e as múltiplas formas de masculinidade22.Para Segato (2005), a produção da masculinidade obedece a processos diferentes aos da produção da feminilidade. Evidências em uma perspectiva transcultural indicam que a masculinidade é um status condicionado a sua ob-tenção mediante um processo de prova ou conquista e, sobretudo, sujeito à exação de tributos de 22Um dos conceitos trabalhados por Connell (2013) é o de masculinidade hegemônica, que se distinguiu de outras masculi-nidades e se caracteriza como normativa. O conceito explica que todos os homens devem se posicionar seguindo a ordem vigente da heteronormatividade, legitimando ideologicamente a subordinação global das mulheres aos homens.
image/svg+xml19Folia, arte e militância em terras sergipanasum outro que, por sua posição naturalizada nessa ordem de status, é percebido como o provedor do repertório de gestos que alimentam a virilidade.Ao final de sua apresentação, Henrique Menezes agradeceu a oportunidade de divulgar seu traba-lho e fez um alerta da importância em votar em candidatos/as que de fato representam a comu-nidade LGBTQIA+ (ver figura 7). Assim como Johnny Hooker, Rico Dalasam, Jaloo, Liniker, Banda Uó, Linn da Quebrada, Henrique Meneses, o cantor é mais um entre os diversos artistas que se destacam pelo seu projeto de música de resistência.Figura 7 – Cantor Henrique Meneses se apresentando no palco Sobre(viver)Fonte: Acervo dos autores, 2022.O cortejo da Parada se iniciou quase às 19h, enquanto ainda tinha artistas se apresentando no palco. O público presente era bastante heterogêneo, sendo composto por adultos, crianças, idosos, pessoas da comunidade LGBTQIA+ e também apoiadores/as da causa, muitos deles/as heteros-sexuais. Nos arredores do evento não foram identificadas brigas ou discussões; pelo contrário, muitos se encontraram para festejar e celebrar aquele momento, que para alguns se torna único, pois se sentem realizados em assumir a sua orientação sexual e identidade de gênero sem se preo-cupar com o julgamento alheio. É somente na Parada que algumas pessoas se sentem respeitadas e acabam aproveitando cada segundo do evento, o que o torna muito especial.Considerações finaisQuase meia-noite faço embolada na matriz, sangue sergipano foi o meu avô quem fez assim. O karma se revela feito sombra em minha luz, trouxemos as pirâmides aqui pra Aracaju, sangue e ódio em minhas mãos digo que sou uma travesti, sou como o rio São Francisco, nasci pra resistir. (Ararinha da Viola – Isis Broken)Após ter apontado alguns eventos sergipanos nos quais o artivismo se fez presente por meio de personalidades e de artistas que precisam ser visibilizados e lembrados, nota-se que a categoria gênero é constantemente acionada, seja através das performances de Lisboa, do protagonismo feminino no Grupo Batalá, seja na desconstrução da masculinidade presente nas músicas de Hen-
image/svg+xml20Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de Melorique Meneses e na Parada LGBT de Sergipe. Segundo Lugones (2020), a lógica dos eixos estrutu-rais mostra o gênero como formado por e formando a colonialidade do poder, nesse sentido não existe uma separação de raça/gênero. Durante o desenvolvimento dos feminismos do século XX, não se fizeram explícitas as conexões entre o gênero, a classe e a heterossexualidade como raciali-zadas. Nesse sentido, não poderia finalizar este trabalho sem citar outra artista que também já se apresentou na Parada LGBT de Sergipe: Isis Broken. Sergipana, cantora, atriz e bruxa cangaceira, Isis representa a resistência e o empoderamento das travestis pretas nordestinas e que por meio da sua arte valoriza a cultura sergipana. A prova disso é a música “Ararinha da Viola”, que ela es-creveu em homenagem ao seu avô repentista. Desde 2019, a artista vem acumulando prêmios, em 2021 lançou seu primeiro álbum intitulado “Bruxa Cangaceira” com o conceito de apresentar “corpas” trans no Nordeste. O álbum é uma ode sobre as travestis nordestinas invisibilizadas pela sociedade e aborda questões como a transfobia. Nos últimos anos, artistas LGBTQIA+ estão tendo espaço para serem reconhecidos/as por meio de seus trabalhos, a exemplo da Liniker, que em novembro de 2022 se tornou a primeira artista trans-gênero a vencer um Grammy Latino na categoria de melhor álbum de música popular brasileira. É importante ressaltar que essa conquista também é fruto da luta dos movimentos sociais que por muitos anos reivindicam a dignidade, a valorização e o respeito às pessoas LGBTQIA+. Enquanto o Brasil continuar sendo o país que mais mata pessoas trans, a Parada assume um papel primordial como um evento que prega a igualdade, a tolerância e o respeito, independentemente de etnia, da classe e do gênero. O dia do evento representa a consolidação das atividades realiza-das durante todo o ano pela ONG que o coordena, e serve também como encontro de amigos que se unem pela mesma causa. Além disso, é um espaço no qual, através da arte, se reivindica me-lhorias na vida dessa comunidade cobrando do Estado direitos basilares como educação, saúde e segurança pública. Por mais que o evento tenha um caráter festivo, ele se torna uma ferramenta essencial na luta contra a LGBTfobia, ao demonstrar para a sociedade que essa não é uma minoria e que precisa ser respeitada.ReferênciasAlbuquerque Junior, Durval Muniz. Nordestino: uma invenção do “falo”: uma história do gênero mascu-lino (Nordeste, 1920-1940). Maceió: Catavento, 2003.Bento, Berenice. A Reinvenção do Corpo: Sexualidade e Gênero na Experiência Transexual. Salvador: Editora Devires, 2019.Camargos, Moacir Lopes de. O surgimento das Parada LGBT no Brasil. In: Green, James N; et al. (Org). Histó-ria do Movimento LGBT no Brasil. São Paulo, Alameda, 2018, p. 421-434. Cardoso, Max Wesley Santos. Por uma história do movimento homossexual no final dos anos de 1970 à formação do grupo Dialogay (1981-1983). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2021, 121f.Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro. As grandes festas. In: Souza, Márcio de; Weffort, Francisco. Um Olhar sobre a cultura brasileira. Rio de Janeiro: FUNARTE/Ministério da Cultura. 1998, p. 293-311. Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro.Carnaval Carioca: dos bastidores ao desfile. Rio de Janeiro: Ed Ufrj/Funarte, 2006.Connell, Robert. Políticas da Masculinidade. Educação e Realidade, Porto Alegre. Vol. 20 (2), 1995.Connell, Robert; Messerschmidt, James. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Revista de Es-tudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n. 1, 2013, p. 241-282.
image/svg+xml21Folia, arte e militância em terras sergipanasCosta, Patrícia Rosalba Salvador Moura. Aracaju dos anos 90: Crimes sexuais, homossexualidade, ho-mofobia e justiça.Aracaju: Editora Oficial do Estado de Sergipe - EDISE, 2016.DaMatta, Roberto da. Carnavais, malandros e heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.Rio de Janeiro: Rocco, 1997.Doneza, Alessandro.A difusão mundial da musicalidade brasileira:uma reflexão geográfica. Geograficida-de,8(Especial), 2019, p. 27-40.Facchini, Regina. De homossexuais a LGBTQIAP+: sujeitos políticos, saberes, mudanças e enquadramentos. In: Facchini, Regina; França, Isadora Lins (Org). Direitos em disputa: LGBTI+, poder e diferença no Bra-sil contemporâneo. Campinas-SP. Editora da Unicamp. 2020, p. 31-69.Facchini, Regina. Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.Fernandes, Felipe Bruno Martins. A agenda anti-homofobia na educação brasileira (2003-2010). Tese (Doutorado em Ciências Humanas), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011, 419 f.Ferreira, Glauco Batista. Arco-Íris em Disputa: A “Parada da Diversidade” de Florianópolis: entre políticas, sujeitos e cidadanias.Dissertação (Mestrado em Antropologia) – UFSC, Florianópolis, 2012, 306 f.França, Isadora Lins. Um breve histórico. In: Costa Netto, F. et al. (org).Parada: 10 anos do Orgulho GLBT em SP.São Paulo: Editora Produtiva: Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, 2006, p. 78-85.Green, James N. “Mais amor e mais tesão”: a construção de um movimento brasileiro de gays, lésbicas e tra-vestis. Cadernos Pagu, Campinas n. 15, 2015, p. 271-295.Green, James N. Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora Unesp, 2019.Johan, Allan. Há 20 anos, Curitiba sediou a primeira parada gay do Brasil. Revista Lado A, 30 jun. 2015. Disponível em: https://revistaladoa.com.br/2014/01/curitiba/rolezinho-gay-os-10-anos-dos-encontros--contra-preconceito-nos-shoppings-curitiba/. Acesso em 20 jan. 2022.Lacerda, Paulo Sérgio S. de. Os arquivos audiovisuais/memória de Lú Spinelli como narrativa da histó-ria da dança moderna em Sergipe. Dissertação (Mestrado em cinema e narrativas sociais) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2021, 131 f.Lugones, Maria. Colonialidade e gênero. In: Hollanda, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar: 2020, p. 52-83.Melo, Lucas Martins Santos. Diversão nunca é demais: um estudo acerca dos clubes sociais de Aracaju no século XX. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2013.Melo, Marcos Ribeiro de. Itinerários e “Lutas”: O engajamento de lideranças dos movimentos homossexual e LGBT em Sergipe (1981-2012).Tese (Doutorado em Sociologia) – Universi-dade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2013.Meneses, Henrique. Homem de verdade. 2022. Disponível em https://www.paroles-musique.com/eng/Henrique-Meneses-Homem-de-Verdade-lyrics,p7041388. Acesso em 24 set. 2022.Oliveira, José Marcelo Domingos de. Desejo, Preconceito e Morte: Assassinatos de LGBT em Sergipe – 1980 a 2010. Tese (Doutorado em Ciências Sociais), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012, 251 f.Oliveira, José Marcelo Domingos de; Lemos, Andrey Roosewelt Chagas. O movimento LGBTI+ em Sergipe: os 40 anos do Grupo Dialogay de Sergipe.REBEH, v. 4, n. 14, 2021, p. 136-157.Oliveira, Roberto Cardoso de. O Trabalho do Antropólogo. Brasília/ São Paulo: Paralelo Quinze/Editora da Unesp. 1998.Piscitelli, Adriana. Gênero: a história de um conceito. In: Almeida, H. B.; Szwako, J. E. (Org.). Diferenças, igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2009, p. 118-146.Quinalha, Renan. Movimento LGBTI+: uma breve história do século XIX aos nossos dias.Belo Horizon-te: Autêntica, 2022.
image/svg+xml22Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa; Gladston Oliveira dos Passos; Marcos Ribeiro de MeloRamos, Silvia; Carrara, Sérgio. A constituição da problemática da violência contra homossexuais: a articula-ção entre ativismo e academia na elaboração de políticas públicas. Physis, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, 2006, p. 185-205.Raposo, Paulo. “‘Artivismo’: articulando dissidências, criando insurgências”, Cadernos de Arte e Antropo-logia [Online], vol. 4, n. 2, 2015, p. 3-12.Restrepo, Eduardo. Etnografía: alcances, técnicas y éticas.Lima, Universidad Nacional Mayor de San Mar-cos, 2018.Santos, Eduardo Faria. “Corpo livre: corpo e arte como formas de ativismo em São Paulo”. GIS - Gesto, Ima-gem E Som - Revista De Antropologia 4 (1). São Paulo, Brasil, 2019.Santos, Osmário. Oxente! Essa é a nossa gente. Aracaju. Editora Ós, 2004.Segato, Rita Laura. Território, soberania e crimes de segundo Estado: a escritura segundo Estado: a escritura nos corpos das mulheres nos corpos das mulheres de Ciudad Juarez. Revista Estudos feministas, Florianópolis, 2005.Silva, Lucas Luis. Fontes para a história do Pré-Caju (1992-2004): as matérias do Jornal da Cidade. Traba-lho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2017.Soliva, Thiago Barcelos. Sob o símbolo do glamour: um estudo sobre homossexualidades, resistência e mudança social. Tese (Doutorado em Antropologia Cultural), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016, 250 f. Trevisan, João Silvério. Devassos no Paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. Rio de Janeiro, Objetiva, 2018.Trói, Marcelo de. Teat(r)o Oficina, corpo dissidente na cena brasileira. In: Colling, Leandro (Org). Artivis-mos das dissidências sexuais e de gênero. Salvador, EDUFBA, 2019, p. 41-55.Wolf, Sherry. Sexualidade e socialismo: história, política e teoria da libertação LGBT.São Paulo: Auto-nomia Literária, 2021.
image/svg+xml23Folia, arte e militância em terras sergipanasFolia, art and militancy in Sergipan lands: from the Artists’ Ball to the LGBT Pride ParadeAbstract:This article discusses artivism, the association be-tween art and politics, as a manifestation in events that exist or existed in the state of Sergipe, such as the artists’ ball and the LGBT Pride Parade. In this way, firstly, we sought to investigate how the parades were constituted at the international le-vel, then to demonstrate the emergence of this event in the Brazilian context and finally to point out the existence of artivism in the Sergipe LGBT Parade. The relevance of this work is due to the few studies that address this topic. Regarding the methodology, a bibliographical survey was carried out, consultation in newspapers, interviews and ethnographic research through participant obser-vation in the LGBT Parade of Sergipe in the years 2021 and 2022.Keywords:Art. Folia. LGBT Parade. Politics. Ser-gipe.Jolgorio, arte y militancia en tierras sergipe: del Baile de los Artistas a la Marcha del Orgullo LGBTResumen:Este artículo aborda el artivismo, la asociación en-tre arte y política, como manifestación en eventos que existen o existieron en el estado de Sergipe, como el Baile de los Artistas y la Marcha del Or-gullo LGBT. Así, primero, buscamos investigar cómo se constituyeron los desfiles en el ámbito internacional, luego demostrar el surgimiento de este evento en el contexto brasileño y finalmente señalar la existencia de artivismo en la Marcha LGBT de Sergipe. La relevancia de este trabajo se debe a los pocos estudios que abordan este tema. En cuanto a la metodología, se realizó un levanta-miento bibliográfico, consulta en periódicos, en-trevistas e investigación etnográfica a través de la observación participante en la Marcha LGBT de Sergipe en los años 2021 y 2022.Palabras clave: Arte. Folia. Desfile LGBT. Política. Sergipe.HISTÓRICO Recebido: Fevereiro/23Parecer: Abril/23Parecer: Março/23Aceito: Abril/23Revisado Autor: Maio23Revisão Gramatical/Ortográfica e ABNT: Junho/23Revisado Autor: Junho/23Diagramação: Junho/23Publicado: Junho/23Equipe Editorial Revista TOMO envolvida no processo editorial deste artigoMarina de Souza Sartore (Editora-Chefe)Gabriela Losekan (Editora assistente júnior)