TOMO. N. 40 JAN./JUN. | 2022
O Domínio das Facções nas
Periferias de Fortaleza-CE
Luiz Fábio S. Paiva*1
Resumo:
O trabalho analisa o fenômeno da dominação exercida por grupos
armados reconhecidos, socialmente, como facções em territórios da
periferia de Fortaleza e sua região metropolitana. Trata-se de uma
análise fundamentada em dados qualitativos, com um tratamento
teórico-metodológico inspirado em uma perspectiva sociológica com-
preensiva. Observa-se como o fenômeno das facções percorreu as peri-
ferias, criando um processo de dominação com efeitos sociais diversos
no cotidiano de seus moradores. Os resultados revelam uma situação
de fronteirização política e moral, com repercussões na mobilidade,
relações sociais e atividades econômicas desenvolvidas nos territórios
em que atuam as facções.
Palavras-chave: Violência. Crime. Facções. Periferia.
* Professor de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais e Programa de Pós-gradu-
ação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará. É pesquisador do Laboratório de
Estudos da Violência (LEV-UFC). E-mail: luizfabiopaiva@gmail.com
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O DOMÍNIO DAS FACÇÕES NAS PERIFERIAS DE FORTALEZA-CE
TOMO. N. 40 JAN./JUN. | 2022
The Domain of Factions in
Ihe Peripheries of Fortaleza-Ce
Abstract:
The work analyzes the phenomenon of domination exercised by armed groups
that are socially recognized as factions in territories on the outskirts of For-
taleza and its metropolitan region. It is an analysis based on qualitative data,
with a theoretical-methodological approach inspired by a comprehensive so-
ciological perspective. It is observed how the phenomenon of factions crossed
the periphery, creating a process of domination with different social effects
in the daily lives of its residents. The results reveal a situation of political and
moral frontiers, with repercussions on mobility, social relations and economic
activities developed in the territories where factions operate.
Keywords: Violence. Crime. Factions. Periphery.
El Dominio de Las Facciones en
Las Periferias de Fortaleza-Ce
Resumen:
El trabajo analiza el fenómeno de dominación ejercido por grupos armados
socialmente reconocidos como facciones en territorios de la periferia de For-
taleza y su región metropolitana. Es un análisis basado en datos cualitativos,
con un enfoque teórico-metodológico inspirado en una perspectiva sociológica
comprensiva. Se observa cómo el fenómeno de las facciones atravesó la pe-
riferia, creando un proceso de dominación con diferentes efectos sociales en
la vida cotidiana de sus residentes. Los resultados revelan una situación de
fronteras políticas y morales, con repercusiones en la movilidad, las relaciones
sociales y las actividades económicas desarrolladas en los territorios donde
operan las facciones.
Palabras clave: Violencia. Crimen. Facciones. Periferia.
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IntroduçãoNeste artigo me interessa refletir sobre como o fenômeno de
grupos armados constituídos por pessoas envolvidas na práti-
ca de crimes e socialmente reconhecidos como facções desen-
volveram, no interior de bairros urbanos da cidade e da zona
metropolitana de Fortaleza, um processo de dominação que
afeta as comunidades locais. Aqui não me preocupa mensurar a
efetividade do mando ou o grau de adesão de uma determinada
comunidade. Analiso acontecimentos de conhecimento públi-
co e amplamente divulgados pela imprensa local, envolvendo
acusações sociais referentes a crimes decorrentes de ordens de integrantes de facções em territórios classificados como
“dominados”. Neste trabalho, recorro ao conceito de domina-
ção que, conforme discutido por Max Weber (2000, p. 33), é
“a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de de-
terminado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis”.
A situação de dominação, segundo Weber, envolve ainda a exis-
tência de alguém mandando, sem necessariamente a existência
de um corpo administrativo. A dominação é uma relação social
em que as pessoas que obedecem fazem isso por diferentes
motivos relativos à crença que depositam na legitimidade da
ordem vigente. No caso, das facções existe uma ameaça arma-
da, mas, como exploro no artigo, o domínio das facções se exer-
ce pelo exercício de rotinas de violências que mobilizam duas
probabilidades objetivas: a de que algo pode acontecer com os
dominados; e de que a ordem vigente do Estado de direito não
é capaz de impedir a reprodução de práticas que ajudaram a
consolidar o domínio das facções em determinados territórios
das periferias.
Exploro algumas questões decorrentes de estudos a respeito de
dinâmicas criminais desenvolvidas no interior de bairros urba-
nos da periferia de Fortaleza, local de moradia de trabalhadores
e trabalhadoras pobres, em sua maioria pessoas negras, e que
ocupam uma posição marginal em relação às condições de ci-
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dadania (Paiva, 2014). Trabalho analiticamente de um ponto de
vista inspirado nas contribuições de uma Sociologia comprome-
tida com a compreensão do sentido das ações e relações sociais.
Trato aqui da experiência de pessoas que convivem, no seu dia
a dia, com a presença de coletivos armados reconhecidos como
facções criminosas. Exploro conversações, entrevistas e discur-
sos públicos a respeito de como grupos conhecidos como fac-
ções expõem determinadas comunidades a rotinas de controle
social organizadas por pessoas envolvidas na prática de crimes.
Não trato aqui das múltiplas formas possíveis de controle so-
cial, como observa Tavares dos Santos (2004), mas de uma for-ma específica associada às possibilidades de ações decorrentes
da presença e mandos que expressam a vontade de grupos
armados reconhecidos como facções1.
É importante destacar que a proposta deste texto é explorar
um aspecto do trabalho de facções nas periferias urbanas de
Fortaleza. É sempre possível encontrar outras possibilidades
de análise do fenômeno, mas desejo demonstrar aqui que as
facções – grupos originalmente constituídos a partir das prisões
brasileiras (Salla, Dias e Silvestre, 2012; Biondi, 2018a) – reali-
zaram um trabalho de controle social nas periferias urbanas da
cidade de Fortaleza. A presença de facções nas periferias é um
fenômeno importante como observou Feltran (2018) e Biondi
(2018b) ao estudarem o Primeiro Comando da Capital (PCC). A
sua presença nas periferias criou cenários, movimentos e cir-
cunstâncias que não podem ser entendidas como uma totali-
dade, mas experiências que se reproduzem em movimentos de
continuidade e descontinuidades. Como demonstrou o estudo de Manso e Dias (2018), é possível afirmar que as facções oriun-
das de experiências prisionais das cadeias do Rio de Janeiro e
1 O texto de Tavares dos Santos (2004) apresenta diversas possibilidades, inclusive de-
mocráticas, de controle social estabelecidas de maneira formal e informal. Para outros
aprofundamentos a respeito do conceito de controle social ver também o trabalho de
Alvarez (2004).
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São Paulo se transformaram em um fenômeno nacional e se de-
senvolveram a sua maneira nas regiões Norte e Nordeste (Melo
e Paiva, 2021; Candotti, Melo e Siqueira, 2017)2.
Não pretendo discutir exaustivamente aqui o conceito de
facção, mas para fins da análise trato desses coletivos como
uma comunidade moral e política que, também em uma
perspectiva weberiana, congrega referências sociais que dão
sentido a determinadas formas de fazer o crime e integrar
um grupo que compartilha de visões de mundo, valores e
compromissos3. As facções trabalham em diferentes frentes, escalas e alcançam de maneiras específicas públicos muito di-versificados, desde traficantes com longa experiência no cri-
me até jovens que aprendem, muito cedo, a cumprir tarefas no
interior desses grupos armados. Como demonstrou Rodrigues
(2020), em sua pesquisa no estado de Alagoas, a ascensão das
facções nas periferias de cidades nordestinas revela novas con-figurações das relações sociais, assim como novos equilíbrios
das relações de poder que constituem a vida de pessoas nos
territórios urbanos. Em tese, esses territórios deveriam ser es-
paços protegidos de convivialidade e paz. Não obstante, como
observou Silva (2008), nas favelas do Rio de Janeiro, os mora-
dores aprenderam a viver em territórios ocupados por grupos
armados e objetos de intervenções violentas das forças poli-
ciais, restringindo suas possibilidades de uma convivialidade
não violenta em função da ameaça sistemática sob suas vidas.
Ao longo do trabalho, exploro como as facções criaram condi-ções muito específicas para quem vive na periferia. Trata-se,
neste momento, apenas de uma análise de situações em que ex-
ploro de maneira compreensiva como esses problemas geram
2 Analisei em outro momento o desenvolvimento das facções em Fortaleza, analisando
as transformações sociais das maneiras de fazer o crime na cidade (Paiva, 2019).
3 Existe uma vasta literatura a ser explorada para pensar os coletivos conhecidos como
facções, explorando diversas facetas sobre o assunto. Para uma análise panorâmica com
várias chaves de leitura sobre o tema ver Aquino e Hirata (2017) e Salla e Teixeira (2020).
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circunstâncias que requerem atenção e ações como a convivên-
cia, a fuga ou a sujeição ao mando para preservação da vida.
Analiso situações que ganharam repercussão social através da
imprensa, complementando algumas informações com dados
oriundos de conversações com moradores, lideranças comuni-
tárias, militantes da área de direitos humanos, operadores de
segurança pública e justiça. Trata-se de uma análise qualitativa
que integra, inclusive, rumores a respeito do trabalho de fac-
ções nas periferias. Como explica Veena Das (2020, p. 151), “o
rumor ocupa uma região da linguagem com o potencial de nos
fazer experimentar eventos, não simplesmente assinalando-os
como algo externo, mas produzindo-os no próprio ato de con-
tar”. Assim, “o virtual é sempre mais abrangente do que o real
[...]” (id., p. 185). Por isso, convém salientar que algumas pesso-
as com as quais conversei na periferia nunca escutaram de uma
pessoa a série de ordens que constitui os eventos que explorarei
aqui. Elas sabem do controle de uma facção na sua área porque
ouviram falar, viram imagens das demarcações territoriais atri-
buídas ao grupo que controla a área e são alertadas por outros
moradores que julgam saber mais do que elas. Trata-se de um
fenômeno dotado de uma virtualidade decorrente dos rumores
que circulam pela comunidade e transbordam pela cidade atra-
vés do trabalho da imprensa.
É importante destacar que, como explicado por Rondelli (1998),
a imprensa funciona como uma espécie de “macrotestemunha” da violência que acontece nas sociedades dotadas de sofisticados
sistemas de comunicação e instâncias de produção de notícias
(Charaudeau, 2009). Essa “macrotestemunha” realiza seus pró-
prios recortes e edições, colaborando para produção de uma rea-
lidade mediada pelas suas instâncias de criação e reprodução de
matérias jornalísticas. Observo ainda que, conforme analisaram
Candotti, Melo e Siqueira (2017), a narrativa sobre eventos que
envolvem facções é, em geral, composta ainda pelo trabalho da
justiça e dos especialistas no assunto. Assim, as práticas das fac-
ções repercutem em outras camadas do tecido social por meio dos
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discursos produzidos sobre suas ações. Dessa maneira, é possível
compreender que o fenômeno das facções não se constitui apenas
como o desdobramento de acontecimentos que são verdadeiros
ou não, mas também como discurso que alcança a realidade e pro-
duz efeitos sociais diversos. Por isso, é importante destacar que,
a exemplo de outras análises qualitativas, esta é circunscrita pelo
alcance limitado de uma análise passível de revisão e contestação
decorrente de outras estratégias de pesquisa e pontos de vista
teórico-metodológicos.
O texto está dividido em três partes. Na primeira, trato da trama
das facções analisando os primeiros passos desses grupos para
consolidar um domínio territorial em periferias da cidade e zona
metropolitana de Fortaleza. Na segunda, observo a consolidação
de determinados regimes de controle que passaram a ser co-
locados em prática por determinados grupos e se consolidaram
por meio de fronteiras simbólicas reconhecidas socialmente. Na
terceira parte, “Custo de vida” na periferia, analiso os efeitos
sociais desse processo, discutindo práticas de fuga e assassinato
de pessoas não envolvidas com o crime e que, em linhas gerais,
retratam certos efeitos sociais da ação de facções nas periferias cearenses. Ao final, apresento algumas considerações sobre como
o fenômeno das facções alcançou uma repercussão social impor-
tante e passou a ser um elemento considerado na vida de pessoas
que residem em periferias alcançadas pela ação desses grupos.
1. As tramas das facções
A presença de facções no Ceará foi resultado de um processo
social que envolveu transformações importantes nas dinâmicas
estruturais e cotidianas do fazer o crime em cidades como For-
taleza e outras da zona metropolitana da capital e do interior do
estado (Paiva, 2019; Melo e Paiva, 2021; Nascimento e Freitas,
2019; Moraes e Siqueira, 2019). Convém ressaltar que falar de facções no Ceará até 2015, pelo menos, não significava tratar de
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algo organicamente observável na rotina de prisões e periferias
como aconteceu após o surgimento dos Guardiões do Estado
(GDE), em 2016. As grandes facções como Primeiro Comando
da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), também, passaram
a ter um papel importante e se consolidaram, respectivamen-
te, como a principal aliada e a grande rival do grupo cearense.
A Família do Norte (FDN) participou desse complexo tabuleiro,
fortalecendo ações do CV e se transformando na principal aliada
desse grupo nos enfrentamentos com a GDE e o PCC. É possível afirmar que, pelo menos desde meados de 2016, o estado do Ce-
ará é povoado por facções que disputam posições e hegemonia
nas prisões e em territórios da periferia, sendo que GDE e CV são as protagonistas de uma trama repleta de conflitos, alianças
e dissidências.
Em linhas gerais, as facções criaram uma série de novos proble-
mas para quem fazia o crime no Ceará. O funcionamento de um
coletivo no formato de uma facção é diferente do que geralmen-
te se encontrava nas periferias urbanas cearenses, povoadas de gangues, quadrilhas de traficantes e grupos de assaltantes
(Paiva, 2019). Isso porque prevaleciam pequenos grupos, for-temente identificados com os territórios e comprometidos com
disputas internas, muitas vezes na escala de um bairro ou região
do bairro (Paiva, 2014; Santiago, Moura e Matos, 2021). Assim, dentro do mesmo bairro era possível identificar duas ou três comunidades e em cada uma delas existia um grupo específico,
com controle daquela comunidade e constrangido pelos limites
territoriais impostos pelos outros grupos4. Entre as principais
atividades era possível observar a coordenação de esquemas de tráfico de drogas, assaltos e realização de homicídios. Os homi-
cídios eram utilizados para realização de acertos de contas e ali-
mentação de circuitos de vingança. Dessa maneira, prevalecia a
4 Pires (2018) demonstrou, em sua pesquisa, como são construídos os sentimentos de
pertença ao território e as identidades vinculadas a ele e que dão sentido à ação de pes-
soas envolvidas na prática de crimes em um bairro de Fortaleza.
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fragmentação como uma característica geral dos esquemas cri-
minais que se desenvolviam nas cidades cearenses. O primeiro desafio imposto às facções foi apaziguar conflitos in-
ternos e criar uma rede entre pessoas marcadas por diferenças e conflitos enraizados em suas comunidades. Os conflitos entre grupos menores, como gangues e quadrilhas de traficantes, ge-
raram inúmeras mortes que estruturaram a visão de mundo de
quem fazia o crime no Ceará (Barreira, Aquino e Sá, 2014). As
pessoas envolvidas no crime antes da ascensão das facções, em
diferentes territórios periféricos, conviveram com perdas de
entes queridos e a impunidade generalizada para os assassina-
tos que alcançaram sua rede de relações afetivas5. Uma situação
desse tipo foi ilustrada por um jovem que, ao longo de uma en-
trevista, retratou o seguinte: “eu tenho 19 anos e todos os meus
amigos do ensino médio já morreram”. Seu relato demonstrou
como a morte por assassinato não era uma experiência estra-
nha, pelo contrário. Ao longo de sua infância e adolescência, ele
conviveu com homicídios, viu acontecimentos, sofreu a dor de
perder alguém por meio desse crime e precisou construir para
si esquemas de proteção para, também, não ser assassinado. Ou-
tras narrativas como essa se sucederam em minhas atividades
de pesquisa e extensão realizadas em diversos territórios das
periferias de Fortaleza6. Convém salientar que essa situação não
se desenvolve em segredo, mas é de conhecimento público dos
órgãos de governo e imprensa do estado do Ceará7.
5 Em estudo sobre trajetórias juvenis, Marinho (2021) analisou os efeitos sociais da vio-lência na vida de jovens que são filhos de jovens vítimas de violência, explorando as
dinâmicas das mortes e dos lutos que constituem a vida de quem mora nas periferias
urbanas de Fortaleza. 6 Desde 2015 desenvolvo o projeto de Extensão Universitária da UFC Traficando Sabe-
res. O projeto consiste em uma ação de escuta, formação em direitos humanos e trocas de
experiências entre jovens de movimentos sociais e outros que estão em cumprimento de
medida de liberdade assistida. Para mais informações ver https://acoesextensionistas.ufc.br/pt/campus-do-benfica/direitos-humanos-e-justica/projeto-traficando-saberes/
7 O Jornal O povo, inclusive, desenvolveu uma série documental dirigida por Dimitri Tú-
lio e Cinthia Medeiros que conta, atualmente, com duas temporadas, retratando os con-
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Em 2013 e 2014, cidades cearenses, entre elas Fortaleza, já figu-
ravam entre as mais violentas do mundo e até então não existiam
nas comunidades grupos da estatura de uma facção criminosa
(Brasil, Santiago e Brandão, 2020). Operadores de segurança
pública relatavam à imprensa que os bairros viviam em guerra
e isso fazia com que os índices de violência aumentassem devi-
do a “acertos de contas entre bandidos”. A experiência do Ceará
se aproximava muito da de outros estados que, historicamen-
te, conviveram com grupos menores e esquemas fragmentados
de integração de pessoas envolvidas na prática de crimes (Zilli, 2015). Foi preciso um trabalho importante que ficou conhecido, no primeiro momento, como “pacificação”, ou seja, um processo
de transformação das realidades locais e a produção de uma ou-
tra “unidade” entre as pessoas com disposição para o crime no
Ceará (Barros et al., 2018). Todas as atividades criminosas que
estavam em curso foram afetadas pelo surgimento da GDE e o
maior protagonismo dos outros dois grupos de maior enverga-
dura atuantes em escala nacional, o PCC e o CV. Dois movimentos
foram importantes na estruturação do caminho das facções, pri-
meiro integrar os aliados em uma coletividade com princípios
éticos e morais compartilhados; segundo controlar ou eliminar
todos aqueles que se opusessem às novas regras para organiza-
ção de práticas criminosas no Ceará.
Contudo, um dos grandes problemas para o trabalho das facções,
no Ceará, estava na consolidação do poder nas prisões e periferias
de um grupo de referência. A GDE recebeu o apoio de todos os gru-
pos no início dos trabalhos, mas logo sofreu com as rivalidades que desenharam outras conflitualidades agora refletidas em uma divi-
são entre os aliados da facção cearense e os do CV. Essa composi-ção revelou outras dificuldades na articulação de criminosos para
construção de um grupo hegemônico, realmente capaz de conso-
flitos entre grupos armados nas periferias de Fortaleza. Trata-se da série “Guerra Sem
Fim”, disponível no sítio eletrônico do jornal https://mais.opovo.com.br/webdocs/gran-desreportagens/guerrasemfim/2020/05/09/episodio-1--a-onda-de-violencia.html
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lidar uma unidade entre as pessoas que fazem o crime no Ceará.
Essa unidade, desde o início do trabalho das facções, pareceu-me extremamente difícil e problemática, pois as pessoas envolvidas
com o crime em cidades como Fortaleza conviveram durante, no mínimo duas décadas, com conflitos e mortes cometidas por gru-pos rivais. Articular esses grupos, colocando fim ao sentimento de
revolta criado pelas disputas armadas entre eles era uma tarefa, no mínimo, extremamente difícil. Por isso, as primeiras notícias sobre
a atuação de facções foram recebidas com ceticismo em diferentes
instâncias de poder e comunicação, com manifestações públicas do
governo do Ceará negando a existências de facções no estado.
Não obstante, as facções se consolidaram e, no primeiro mo-
mento, elas conseguiram criar uma situação de amortecimen-
to de determinadas disputas locais e isso fortaleceu a ideia de que acontecia, objetivamente, uma “pacificação” dos territórios
periféricos. Desde o início essa ideia foi problemática porque a
tensão entre integrantes da GDE e CV era evidente. Foi possível
observar a partir do início de 2016 que as comunidades foram
repartidas, com áreas da GDE e do CV sofrendo demarcações que
repercutiram nas comunidades em virtude de novos arranjos e
conexões entre pessoas envolvidas na prática de crimes. Isso significou a aliança entre grupos locais, mas também uma reor-denação do sistema de conflito que prevaleceu entre gangues e quadrilhas de traficantes nos anos anteriores. Em linhas gerais,
coletivos que outrora rivalizaram como unidades do bairro pas-
saram a ocupar lugar em facções e se aliar com antigos rivais,
mas também contra outros grupos em uma escala maior. Essa
nova trama envolveu acordos fundamentados em uma nova or-
dem simbólica dos esquemas criminais alcançados pela ideia de
que, em alguma medida, vários pequenos grupos reconhecidos
como “tropas” compunham um coletivo criminal reconhecido,
em diversas instâncias, como facção.
Como em outros territórios, entre as primeiras tarefas de cada
facção esteve a demarcação do território e a manifestação públi-
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ca do domínio exercido pelo coletivo. Assim, no bairro Conjun-to Palmeiras, periferia da cidade de Fortaleza, surgiu um grafite
com o nome da GDE, em um muro localizado em um dos princi-
pais campos de futebol do lugar. Esse painel despertou atenção, entre outros motivos, em virtude de retratar as figuras de dois
adolescentes brancos, com roupas de marcas, adornos de joias
e portando armas ao lado do lema do grupo: “paz, liberdade,
igualdade”8. Embora o lema replique conceitos já explorados por
grupos como PCC e CV, a presença de adolescentes no painel re-trata a influência da GDE em um grupo social trabalhado de ma-
neira distinta no âmbito do PCC e CV (Rodrigues, 2020). Confor-
me foi possível observar, nos anos seguintes, os adolescentes se
transformaram em um segmento assediado por todas as facções
presentes no Ceará, com a GDE criando uma série de símbolos
para engajar afetivamente essas pessoas em suas frentes, rea-
lizando desde tarefas muito simples até as mais complexas. “O
jovem tá padrão”, “o jovem tá pesado”9 ou “aqui só tem moleque
doido” são enunciados que compõem músicas cujo sentido ali-
menta o imaginário de jovens que almejam um lugar no coletivo.
As músicas da GDE retratam sua relação com adolescentes nas co-
munidades, ressaltando seu papel na estrutura criada pelo grupo ce-
arense. Algumas músicas podem ser facilmente encontradas na mais
popular plataforma de vídeo da internet, com meninos de idade en-
tre 14 e 17 anos entoando cânticos em que falam, entre outras coisas,
de eliminar inimigos e traidores. Em vídeos, é possível ver jovens da GDE desafiando outros do CV que respondem, na mesma plataforma,
com outros cânticos de ameaça e juras de eliminação dos seus desa-fetos. Alguns desse jovens se identificam como um “MC”10 e retratam
em suas canções os símbolos de ostentação e disposição para “guer-ra” com os classificados como inimigos. É possível encontrar vídeos
8 É possível ver a imagem em diversos sítios eletrônicos na internet, com uma simples
busca sobre a GDE em sites de busca.
9 Referência aos jovens estarem armados ao trabalharem na facção.
10 Sigla de “Mestre de Cerimônias” que passou a ser utilizada por animadores de festas
e que, no Brasil, se popularizou nos bailes funks.
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em que jovens se mostram, abertamente, nas apresentações sem
nenhum pudor. Encontrei ainda um caso em que um dos meninos,
que gravou um vídeo ameaçando “cortar a cabeça” dos integrantes
da facção rival, relata ser vítima de perseguição e avalia que só está bem porque é protegido pelo seu grupo. Verifiquei que um dos víde-
os disponíveis na internet possui mais de 500 mil visualizações. Nes-
se mesmo vídeo, o MC manda um “rap” enquanto expõe uma arma
e ameaça, na canção, invadir comunidades do CV. Nos comentários,
apoiadores da GDE e CV trocam ameaças, inclusive, contra a vida do
jovem que se apresenta no vídeo.
A integração de jovens foi fundamental para estruturação e repro-
dução das referências sociais que compõem o universo simbólico
das facções. Embora predomine homens e símbolos heteronorma-
tivos, as mulheres também foram alcançadas e passaram a fazer
parte das facções, atuando nas dinâmicas criminais e na missão de
fortalecer seus companheiros, sobretudo, quando estão presos. A
repercussão disso foi observada por Silva (2020) nas dinâmicas de
meninas nos centros socioeducativos de Fortaleza. Sua pesquisa evidenciou conflitos e divisões associadas a vínculos dessas meni-
nas com facções com repercussão na integração entre elas durante
seu processo de cumprimento de medida socioeducativa. É opor-
tuno destacar que as adolescentes, também, povoaram as redes
sociais com manifestações públicas de adesão a um dos grupos,
transformando-se em objeto de ameaças em função dessa prática.
Seus vínculos como uma ou outra facção repercutiram nas suas co-
munidades e, consequentemente, criaram riscos dependendo dos
tipos de controles territoriais presentes ali. Tanto elas quanto os
meninos precisaram administrar as relações de envolvimento com
os grupos cuja integração representou uma mudança substantiva
de suas vidas, sobretudo, em função dos compromissos e dos riscos
decorrentes da adesão a uma das facções.
Muitos adolescentes se envolvem no esquema de facções por meio da “tropa” cujo controle é de um traficante local que agencia jo-vens para tarefas específicas. É comum às facções do Ceará a pre-
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servação de identidades locais que acontece por meio da tropa a,
b ou c. No interior da GDE e do CV existem as tropas cujos nomes
preservam, em alguns casos, as referências comunitárias de um
território da cidade. Essa manutenção de uma característica local
foi algo importante na maneira como os grupos menores conse-
guiram se reunir para compor a facção que, como insisto, tem ca-
racterísticas de uma comunidade política e moral entre pessoas
envolvidas em dinâmicas criminais. Assim, as tropas seguem uma
orientação comum, ao mesmo tempo em que pressionam o todo
para coexistirem compartilhando referências, inclusive, discipli-
nares do regime imposto pela reunião em uma facção. Os grupos
embora existissem antes das facções ao se juntarem passaram a
ter uma existência diferente e, portanto, a afetar de maneira dis-
tinta suas áreas de atuação como demonstrarei a seguir.
2. Dominação e controle
O processo de dominação exercido pelas facções desenvolveu
certas práticas de controle social que, em linhas gerais, criaram
controles coercitivos no cotidiano de comunidades em cidades
cearenses. Não trato neste artigo da efetividade dessas regras,
mas de sua existência como elemento que precisa ser conside-
rado por quem mora nas áreas dominadas por facções. Como
observa Weber (2004), a dominação é uma situação de fato em
que o mando do dominador repercute nas ações dos dominados,
sendo que o conteúdo dessa ação é construído pela relação entre
ambos. Assim, neste tópico, trato de situações que dão sentido
a ações coativas independentemente do seu grau de aceitação.
São situações que envolvem os processos de mando e obediên-
cia constituídos por relações entre pessoas que fazem o crime e
outras que, no seu dia a dia, precisam agir considerando certas
ordens instituídas pelas facções.
Desde o início, a GDE é muito marcada pela ideia de horizonta-
lidade, reproduzindo o sentido de família e irmandade em que
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todos são iguais e possuem voz ativa no grupo. Não obstante, a
ideia de horizontalidade é contraposta pelo entendimento de que,
conforme determina o estatuto da facção, existe uma cúpula que
precisa ser respeitada. Assim trata a questão o artigo 11 do es-
tatuto da GDE11: “todos os participantes terão voz, podendo dar
opiniões e sugestões, sempre visando o crescimento da “Família Guardiões” porém é importante se ter em mente que a voz final
é a dos que integram a cúpula, sendo respeitado assim a hierar-
quia”. Embora não funcione como a GDE, o CV também dispõe
de uma orientação de horizontalidade e consideração pelas lide-
ranças que, em linhas gerais, assumem um papel de centralidade
no interior de um grupo muito marcado pela sua fragmentação
interna. Fundamentalmente, as facções trabalham preservando
sentidos de horizontalidade nas relações e poder de liderança e julgamento atribuído a determinadas pessoas. É possível afirmar
que elas ocupam uma posição de dominação e, portanto, de re-
conhecimento no interior do coletivo. Suas ordens expressam a
vontade comum e de alguma maneira orientam, ao mesmo tem-
po, essa coletividade em busca de horizontes comuns. Trata-se na
realidade de uma administração muito sensível e passível de ser
questionada no interior do grupo por pessoas que, porventura,
consigam arregimentar concordâncias quanto a possíveis críticas
ao papel desempenhado por determinada liderança.
Em linhas gerais, a ideia de “conselho” é fundamental na constru-
ção de uma lógica de hierarquia, mando e obediência no interior
do grupo. As principais lideranças de grupos associados à GDE
e ao CV compõem uma espécie de “conselho” responsável pelas
decisões que orientam, politicamente, a facção. Os conselheiros são peças fundamentais na criação de ordens cuja finalidade pas-
sa pela manutenção da coesão do grupo, garantindo sua gestão
11 Trata-se de um documento disponível, também, em diversas páginas da internet,
relatórios de operações policiais e denúncias do Ministério Público cuja objetividade
precisa ser relativizada em função de sua reprodução envolver o segredo compartilhado
entre seus integrantes.
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O DOMÍNIO DAS FACÇÕES NAS PERIFERIAS DE FORTALEZA-CE
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coletiva e integridade. Os conselheiros que podem ou não estar no
sistema prisional oferecem soluções para problemas e, também,
cumprem o papel de juízes em causas internas e externas. Sua
função social é digna de respeito pelos demais integrantes e sua
posição lhe garante um status distinto na estrutura de poder. Não
obstante, é muito importante que cada conselheiro entenda o pa-
pel da unidade que constitui, pois o conselho é uma instância co-
legiada com poder de dissuadir ambições de controle individual.
No caso da GDE, repercutiu na imprensa local que cada um desses conselheiros era identificado por um anel (Borges, 2019). Esses
anéis eram símbolos de distinção social e foram tratados como
representações do poder dos líderes que possuíam essas peças,
todos considerados pela imprensa local como integrantes do
conselho da GDE. Outro fato importante, presente em notícias so-
bre essas lideranças, corresponde à presença dessas pessoas em
bairros e condomínios de luxo em Fortaleza. Na ocasião da prisão
dessas pessoas reconhecidas como lideranças, é também comum
que a imprensa atribua a elas certas acusações decorrentes de in-
vestigações policiais que, em linhas gerais, conectam o seu papel
a ações de grande repercussão. Essas lideranças, em alguma me-
dida, incorporam valores e são responsáveis pela estruturação de
determinados trabalhos, símbolos e referências que dão sentido à
ação de quem faz parte do grupo.
Quem faz parte do grupo precisa entender seus valores, incorpo-
rar suas regras e ser leal aos laços sociais que organizam a vida
nessa comunidade política e moral. A lealdade é um elemento
central no julgamento dos integrantes do grupo e é preciso ser
demonstrada constantemente. Respeitar as posições de poder e
o estatuto da facção é fundamental para sobreviver e conquistar
o reconhecimento de seus “irmãos”12. É possível afirmar que o
12 As nuances das relações políticas no interior de uma facção podem ser observadas na
pesquisa de Marques (2010) sobre como funciona o “proceder” em um grupo como PCC
cujas ações são referências exemplares para outros grupos do Brasil.
Luiz Fábio S. Paiva
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TOMO. N. 40 JAN./JUN. | 2022
primeiro dispositivo de controle de uma facção é íntimo e pes-
soal. Ele se constrói na relação entre envolvidos e as instâncias
de respeito às referências que orientam moral e politicamente
o grupo desde a prisão até suas atuações fora dela (Dias, 2013;
Feltran, 2018). “Vestir a camisa da facção” é se comprometer e
estar realmente envolvido com o sucesso coletivo das iniciativas
e empreendimentos em curso. A compreensão desse elemento é
fundamental para a sobrevivência e o sucesso nas rotinas do co-letivo. Contudo, como ficou evidente nas minhas conversas com
jovens ligados aos grupos, é muito simples “vacilar”, ou seja, não
corresponder às expectativas dos envolvidos. Dessa maneira, é possível afirmar que são muitos os motivos pelos quais um envol-
vido pode “cair em desgraça” dentro do grupo. Basta uma suspeita
de falta de respeito ou insatisfação quanto ao comprometimento
do sujeito para, em alguma medida, a reputação do envolvido ser
questionada e, portanto, sujeita ao julgamento do grupo.
Como me relatou uma pessoa envolvida com a GDE, é possível
morrer por muito pouco dentro de uma facção. Uma suspeita pode ser motivo suficiente, assim como um ato de desrespei-
to com aqueles pelos quais se deve ter respeito. O assassinato
é um dispositivo de regulação social no interior das facções e
útil para manutenção da ordem social criada pelas referências
morais e políticas geradas no âmbito do coletivo (Dias, 2009;
Feltran, 2010). Cada facção, contudo, constrói cuidadosamen-
te seus ideais de justiça, fazendo com que todos compreendam
que cada decisão envolve um compromisso público pelo qual
todos que estão envolvidos são responsáveis. Isso faz com que
cada um se sinta realmente integrando ao coletivo e sua conti-
nuidade depende do respeito às referências morais e políticas
que sustentam as relações constituintes da facção. Ao integrar
seus membros nas prisões e nas comunidades, as facções criam
laços importantes entre os de dentro e os de fora, estabelecen-
do regras de convivialidade e trânsito das decisões entre esses
espaços sociais. Enquanto nas prisões a relação acontece entre
envolvidos, fora da prisão os envolvidos no trabalho das facções
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O DOMÍNIO DAS FACÇÕES NAS PERIFERIAS DE FORTALEZA-CE
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precisam estender seu mando a pessoas de fora da facção. Em
geral, a uma comunidade de pessoas residentes em um territó-
rio localizado nas periferias de centros urbanos (Biondi, 2018b).
Conforme foi possível observar em Fortaleza, novas formas de
controle social das comunidades foram criadas, embora os en-
volvidos nas dinâmicas criminais ainda fossem algumas das
mesmas pessoas que atuavam antes em gangues ou quadrilhas.
Ao constituir uma facção, os envolvidos nas dinâmicas criminais
do Ceará passaram a ter que resolver outros problemas e situa-
ções orientados por novas referências políticas e morais. Apesar
de observar desde 2005 imposições às comunidades pelos gru-
pos envolvidos na prática de crimes (Paiva 2014), é a partir do ano de 2016 que o controle das comunidades se intensificou ao
ponto de moradores serem deslocados de suas casas ou assassi-
nados em função da decisão arbitrária de um grupo de pessoas
envolvidas com o crime. É como se a formação do coletivo tives-
se criado outras disposições e um sistema de dominação mais
elaborado, com ambições mais amplas para o controle social da
vida de pessoas não integradas à facção em função de sua deci-
são individual.
Na minha pesquisa no Bom Jardim, entre os anos de 2005 e
2008, era comum escutar queixas da comunidade sobre assaltos
e furtos cometidos por pessoas do próprio bairro. Em relato de um operador de segurança pública, ele chegou a classificar a si-
tuação como “um faroeste em uma terra sem lei em que pobres
roubam pobres” (id. Ibdem). Na época, acompanhei um grupo
de religiosos que narrou duas ocasiões de assaltos dentro da co-
munidade, com roubo de seus equipamentos e relatos de que
foram pessoas do próprio território. Em outra ocasião, acompa-
nhei uma moradora que chamou policiais para irem até a casa
de outra pessoa da comunidade que, segundo ela, tinha roubado
algumas de suas panelas. Encontrei ainda pessoas que narravam
histórias sistemáticas de assaltos nas paradas de ônibus ou no
trânsito pelas ruas do bairro. Todas essas situações geravam re-
Luiz Fábio S. Paiva
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voltas porque são pessoas pobres, com dificuldades no acesso
a bens de consumo e que viam suas posses roubadas dentro do
bairro em que moravam.
A partir de 2016, uma ordem objetiva das facções foi retratada
em praticamente todas as comunidades marcadas pela atuação
desses grupos. “Se roubar cidadão na favela vai morrer”, foi uma
pichação estampada em muros por todas as periferias de For-taleza e região metropolitana. A mensagem visava colocar fim
às dinâmicas internas de roubos nas comunidades, criando uma
solução que existia antes das facções, mas que não funcionava
na escala então imposta por grupos como a GDE. Encontrei nas minhas primeiras pesquisas, em 2005, relatos de traficantes lo-
cais que colocavam limites para atuação de assaltantes em seus
bairros. Contudo, não existiam tantas mensagens em muros, as-
sim como relatos de que efetivamente essa ordem funcionava.
Após a ascensão das facções, se tornou mais comum, nas minhas
atuações de pesquisa, escutar relatos que sustentam a ideia de
diminuição dos roubos na comunidade em razão do trabalho da
facção que controle determinado território.
A circulação de vídeos com punições a quem assalta também
passou a ser algo comum. “Quantas vezes eu não já te falei pra
não assaltar aqui na comunidade? Quantas? Terceira vez que a
gente te pega macho. Chora não. Põe a mão, põe a mão”, impõe
integrante de uma facção a um jovem de não mais de 16 anos
aterrorizado pelo que está prestes a acontecer. A cena foi filmada
e disponibilizada nas redes sociais e por meio de aplicativos de
mensagens. A situação se repetiu dezenas de vezes, envolvendo
sempre o sequestro de alguém acusado de assalto ou furto na
comunidade, sendo em seguida submetida a sessão de tortura
com tiros nos membros, corte de braços ou pernas, até o
assassinato. Essas cenas passaram a compor o imaginário social
das comunidades alcançadas pelas facções e retratam a dispo-
sição em objetivar o mando, demonstrando a necessidade de
outras pessoas obedecerem ao que está sendo imposto como
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O DOMÍNIO DAS FACÇÕES NAS PERIFERIAS DE FORTALEZA-CE
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uma ordem que precisa ser respeitada. Filmar e distribuir é uma
maneira de demonstrar as consequências de atitudes evitáveis
desde que as pessoas obedeçam e cumpram as orientações de
quem controla o território.
Não apenas os assaltos, mas outros crimes não podem acontecer
fora do alcance da facção cujo trabalho realiza uma espécie de
controle social da força no território. Em 2016, a sensação não
foi apenas de diminuição de assaltos, mas também de redução
objetiva dos crimes de homicídios, conforme revelaram dados
da própria Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do
Estado do Ceará (SSPDS). Os dados da SSPDS mostraram que os
três primeiros meses de 2016 foram os menos violentos desde
201113. Relatos de moradores colhidos em entrevistas e conver-
sações revelaram nuances desse processo cujas fronteiras entre
rumor e realidade sempre precisam ser consideradas. “Aqui era morte todo final de semana e agora tá muito mais tranquilo, nin-
guém mais vê nada”, relatou uma moradora cuja avaliação era de que a redução de homicídios aconteceu em virtude do fim do conflito imposto pelas facções. Apesar desse primeiro momento,
como ressaltei anteriormente, desde o início foi possível obser-
var uma tensão entre GDE e CV. Contudo, a relação entre PCC e
CV, no início de 2016, parecia conduzir e sustentar um cenário de menor conflito armado e mortes disciplinadas pelo regime
imposto pelas facções.
A situação mudou desde meados de 2016, em virtude tanto do
aumento da tensão entre os grupos rivais que estavam nas fren-tes da GDE e do CV quanto pela intensificação do conflito entre
PCC e CV na disputa por esquemas transfronteiriços de drogas
e armas. A repercussão disso no Ceará foi muito intensa e des-
pertou atenção pela quantidade de homicídios no ano 2017.
13 Os dados estão disponíveis no sítio eletrônico da Superintendência de Pesquisa e
Estratégia de Segurança Pública (SUPESP/SSPDS/CE): https://www.supesp.ce.gov.br/
painel_dinamico/
Luiz Fábio S. Paiva
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Ao todo, de acordo com dados da SSPDS-CE, foram registrados
5.133 crimes violentos letais intencionais (CVLI) – o número
foi recorde na história do Ceará. Invasões de determinado ter-
ritório por facções inimigas e chacinas decorrentes desse tipo
de ação passaram a ser recorrentes e amplamente noticiadas
pela imprensa cearense. O jornal O Povo, por exemplo, realizou
uma matéria noticiando que, no período de apenas um ano, oito
chacinas aconteceram em todo o estado (Em um ano, 2018). No
caso mais emblemático, 14 pessoas foram assassinadas em uma
festa que acontecia em um território controlado pelo CV e FDN,
no bairro das Cajazeiras. Na ocasião, pessoas acusadas de inte-
grar a GDE invadiram a festa e atiraram contra as pessoas que
estavam no local, causando a maior chacina do estado do Ceará
(Paiva, Barros e Cavalcante, 2019).
Para conter as invasões, novas ordens foram estabelecidas, entre
elas a de que motoristas deveriam baixar os vidros de seus carros
ao entrarem em determinadas comunidades. Essa ordem tam-
bém foi pichada em muros e constituiu uma atitude cobrada pe-
los integrantes de facções no dia a dia da comunidade. Ao circular
pelas comunidades é possível observar as inscrições e escutar dos
moradores a narração de episódios em que pessoas são paradas e
intimadas a baixar o vidro. Em matéria do Portal G1, é possível en-
contrar um relato a respeito da morte de uma motorista de apli-
cativo que, segundo a matéria, não obedeceu a ordem de baixar
os vidros ao entrar na comunidade (Motorista, 2017). É oportuno
salientar que a matéria ressalta que a ocorrência é tratada como
um evento que decorre do motorista ser morto por “descumprir a exigência de traficantes para baixar os vidros”. O discurso da ma-
téria reforça essa ideia de que existe um mando que precisa ser
considerado na ação de pessoas que vivem ou, como no caso do
motorista narrado na matéria, transitam de maneira circunstan-
cial pela comunidade. No tópico seguinte, analiso os efeitos so-
ciais desse processo de dominação e os custos dessa situação para
as pessoas que vivem em territórios dominados pelas facções.
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3. “O custo de vida” na periferia
Existem inúmeras consequências em função da presença de
grupos armados atuando em bairros da periferia e impondo seu
mando dentro de um determinado território. O primeiro pro-
blema é justamente a criação desse território como um espaço
social que “pertence” a determinada facção. A posse do territó-
rio envolve um processo de controle social e produção de um sentimento de identificação que cria limites importantes para
quem vive dentro e fora do território. Acontece uma fronteiri-
zação política e moral nas comunidades submetidas a controles
territoriais que alcançam o dia a dia dos moradores. É importan-
te destacar que, historicamente, as periferias de Fortaleza e zona
metropolitana são objetos de interesses e intervenções de gru-
pos armados que criaram divisões com impacto na mobilidade
e sociabilidade interna e entre as comunidades e bairros. No co-
meço do trabalho das facções, a quebra de algumas dessas fron-
teiras foi um elemento celebrado por moradores que julgavam
como positivo que seu bairro estava “em paz”. O desenvolvimen-
to do trabalho desses coletivos, no entanto, criou uma situação
muito semelhante, embora em uma nova escala. Fronteiras lo-
cais de um bairro, em geral, não interferiam em uma mobilidade
mais ampla, com pessoas proibidas de circular dentro do bairro
em determinadas comunidades e sem problemas quando saiam
desse universo. As facções encerraram isso porque diferente das gangues e quadrilhas de traficantes sua atuação é nacional. As-
sim, morar em um bairro ligado a determinado grupo é um fato
que pode colocar determinada pessoa em perigo em outros bair-
ros, municípios e mesmo em outros estados brasileiros.
Os efeitos sociais da fronteirização produzida pelas facções pode
ser observada em diferentes situações. Em uma roda de conver-
sa realizada no Centro de Referência Especializado de Assistên-
cia Social (CREAS) do bairro Conjunto Ceará, em 2017, com jo-
vens em cumprimento de medida socioeducativa de liberdade
assistida foi possível escutar um pouco das consequências desse
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processo em suas vidas – tratava-se de um momento de interlo-cução no âmbito do projeto Traficando Saberes e a reunião foi
feita com adolescentes entre 14 e 18 anos e seus responsáveis,
em grande maioria suas mães. Havia na reunião cerca de 15 jo-
vens acompanhados de seus responsáveis. A conversa começou
com a apresentação desses jovens. Na ocasião, eles falavam de
si e em determinado momento um menino foi retirado da sala porque sua mãe ficou com medo, pois seu filho ao se apresentar
falou qual era seu bairro de moradia. Segundo ela, o local era
dominado por um grupo rival da área de outros jovens que es-
tavam no encontro. Essa situação nos alertou para o problema e
passamos a pedir que eles não falassem do seu local de moradia.
Em outros momentos como esse, fomos avisados pela equipe do
CREAS que apenas os jovens de lugares controlados por um de-
terminado grupo estavam participando do encontro, pois os que
eram de áreas de outro grupo não se sentiam bem para estar
com os de outras áreas. Embora não tenha a extensão do fenômeno, é possível afirmar
que existe, na periferia de Fortaleza, jovens cuja sociabilidade
é estreitada pela facção. Morar em um território da GDE ou do CV significa olhar para a cidade a partir desse filtro e isso estará presente na hora de definir lugares para visitar, trabalhar, en-
contrar um amor, desfrutar de atividades de lazer, entre outras
coisas. São vidas que passaram a ter sua mobilidade moldada
pela ação de pessoas envolvidas na prática de crimes e que re-clamam para si um domínio físico e simbólico da comunidade.
Circular no território do outro é se colocar numa situação de ris-
co de morte. Foi isso que me disse um jovem, vinculado a uma
organização não governamental do bairro Bom Jardim, durante
uma ação social que acontecia em um local dominado por um
grupo rival do que dominava seu local de moradia. Segundo ele,
“eu não era nem para estar aqui porque de onde eu sou é CV
e aqui é GDE”. Mesmo como integrante de um movimento que
goza de reconhecimento social no bairro, ele não se sentia segu-
ro em estar ali participando da ação.
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O DOMÍNIO DAS FACÇÕES NAS PERIFERIAS DE FORTALEZA-CE
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Encontrar alguém para se relacionar afetivamente, também, se
transformou em objeto de preocupação, pois existem desde proi-
bições explícitas até orientações sutis para moradores evitarem
o contato com pessoas de “territórios inimigos”. Convém salien-
tar que não se trata de simplesmente uma proibição que, até suas
últimas consequências, impede qualquer tipo de relação entre
as pessoas. Contudo, é uma ordem que precisa ser considerada
como probabilidade real e consequências possíveis para pessoas
que insistem em manter relações com pessoas desses territórios classificados como inimigos. Em geral, como probabilidade, meni-
nas e meninos que insistem em relacionamentos amorosos com
parceiros oriundos de territórios de grupos rivais ao do seu local
de moradia podem, em algum momento, ser submetidos a julga-
mentos dos que controlam seu território. E fazer isso pode ser um
problema envolvendo os humores do grupo local que, por acaso,
aborda a pessoa desejando saber detalhes do seu relacionamento.
Tanto a pessoa que mora no território como a pessoa que, porven-
tura, visita o território da outra podem ser abordadas e cobradas
por integrantes da facção que controla o local. Caso exista alguma
suspeita de envolvimento com o grupo rival, a pessoa da comuni-
dade pode ser acusada de colaboração e sujeita a julgamento. Em
geral, essas situações são julgadas e o destino da pessoa resolvido
em um interrogatório que, em casos mais extremos, podem envol-
ver torturas, entre outras violações14.
Em uma situação de grande repercussão social, duas meninas
foram cercadas por moradores de um bairro que as acusavam de
roubo. As meninas relatavam que eram de um outro bairro que, em matéria jornalística, é identificado como local de controle de
uma facção rival da que domina o local onde elas estavam (Sis-
nando, 2021a). Nesse caso, elas violaram a regra de não roubar
na comunidade enquanto circulavam em uma área de um grupo
rival ao do seu local de moradia. Não é possível saber se elas ti-
14 É possível ouvir moradores e assistir vídeos de cenas de julgamentos e torturas feitas
no território e compartilhadas por grupos de aplicativos de mensagens como WhatsApp.
Luiz Fábio S. Paiva
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nham consciência das regras impostas pelo grupo que controla-
va o local em que foram abordadas e, tampouco, se elas realmen-
te cometeram o crime do qual estavam sendo acusadas. Aqui,
entra um outro elemento que me parece comum aos crimes de
execução praticados por facções nas periferias de Fortaleza, a
acusação social das vítimas. Para justificar seu domínio territorial, os envolvidos em execu-ções filmadas e divulgadas pelas facções sempre buscam fazer
parecer que sua posição é honrosa, ou seja, eles fazem algo em
nome de um código de honra compartilhado e que, no seu jul-
gamento, precisa ser devidamente preservado15. Então, a busca
é para que a comunidade compreenda as ordens e obedeça ao
mando instituído, resignando-se e preservando o domínio esta-
belecido naquele território. A ideia passa ainda pela intenção de
fazer parecer que, sempre que necessário, as responsabilidades
dos ajustes de conta são das vítimas, pois se ela tivesse cumpri-
do seu dever não sofreria o julgamento imposto pela facção. O
problema, no entanto, é que muitas dessas situações envolvem
dúvidas sobre a acusação que recai sobre a vítima. Em casos
envolvendo mulheres que, supostamente, traíram seus compa-
nheiros e, por essa razão, foram torturadas, estupradas e mor-
tas, ocorreram rumores de que aquilo aconteceu, na verdade,
por ciúmes do acusador. Em outro caso, observou-se que o in-
tegrante de uma facção acusou uma menina de delação porque
ela não quis manter um relacionamento com ele. A menina não
foi morta porque um outro integrante revelou a trama do amigo
que, em sua frustração, resolveu acusar a menina injustamente.
O domínio das facções acontece através de um processo sistêmi-
co de violação da dignidade humana cujo resultado decorre da
ação arbitrária de quem exerce um controle discriminatório por
meio do uso da força.
15 Importante destacar que César Barreira (1998) analisou como pistoleiros envolvidos em crimes de assassinato por encomenda justificavam suas ações, reelaborando sua ação
em seu testemunho considerando valores e códigos de honra que buscavam preservar.
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Ser simplesmente suspeito de desobediência pode gerar inú-
meras consequências na vida de uma família que reside em um
território dominado por uma facção. Entre os casos comuns, ob-
servados na periferia de Fortaleza, está a situação de famílias
inteiras que foram expulsas de suas casas. Nesses casos, a acusa-
ção é sempre de vínculo da família com pessoas ligadas a grupos
rivais. Não obstante, essa acusação também é objeto de ques-
tionamentos feitos por pessoas expulsas e da própria comuni-
dade. Foi possível escutar de moradores o depoimento de que
sua expulsão aconteceu pelo interesse de faccionados em suas
casas, pois o aluguel dos imóveis se transformou em um recurso
dos grupos que dominam o território. Em pesquisa realizada nas
ruas de Fortaleza, Cavalcante (2019) observou a existência de
pessoas residindo na rua em decorrência da ação arbitrária de
facções. Pessoas que, em sua fala, não tinham vínculos com ou-
tros grupos, mas que enfrentaram em suas comunidades a acu-
sação e a ordem para sair dali sob pena de serem assassinadas
em caso de desobediência. Enquanto já estavam na rua, interlo-
cutores de Cavalcante ressaltaram que precisaram recorrem a
áreas da cidade que estivessem vinculadas à facção rival do seu
antigo local de moradia.
Outro caso emblemático relacionado à ação de expulsão de mo-
radores por intervenção de uma facção aconteceu em janeiro de
2018 quando moradores de uma rua inteira, no bairro Barroso,
foram ameaçados com inscrições que diziam o seguinte: “tem
que sair. Fora das travessas si não vai morrer” e “tem que sair
fora vcs pq si não nois vai toca fogo em tudo” (Família, 2018). As
imagens com as inscrições foram colocadas na imprensa e nas
redes sociais se transformando em retratos públicos do alcance
das facções nas periferias. Os principais jornais do Ceará chega-
ram a fotografar as pessoas fazendo suas mudanças e pessoas li-
gadas a movimentos de moradia ressaltaram, em conversações,
que a presença da polícia nesses locais era observada, em deter-
minadas ocasiões, apenas para garantir a proteção dos morado-
res durante o processo de mudança. O rumor de que equipes de
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polícia estariam escoltando moradores para sair do bairro gerou
questionamentos e críticas sobre a função das forças policiais na
garantia da segurança dessas comunidades (Secretário, 2018).
Logo após a divulgação massiva de notícias sobre a expulsão de
moradores no bairro Barroso, a Secretária de Segurança Pública
e Defesa Social (SSPDS) realizou uma ação no território, com for-
tes declarações do então secretário de segurança pública, André Costa, afirmando que: “Polícia não vai fazer esse papel de apoiar
a ação desses bandidos” (Secretário orienta, 2018). O secretá-
rio utilizou diversos meios de comunicação para pedir que os
moradores retornassem às suas casas, mas reconheceu o limite
da ação policial, expondo a impossibilidade da manutenção da
ordem apenas com a presença da polícia. Segundo ele, a ocupa-
ção da comunidade por policiais “é uma medida para garantir a
segurança, mas a gente precisa também fazer o trabalho de in-
vestigação, responsabilizar essas pessoas e dar o exemplo para
que outras situações não ocorram” (Ibidem). Apesar das pro-
messas de garantia da segurança e enfrentamento das ações de
facções no território, desde 2018, o Governo do Estado do Ceará
não conseguiu cumprir seu compromisso público e as expulsões
seguiram nos anos seguintes.
Em 2021, outra ação de grande envergadura das facções repercu-
tiu no estado do Ceará, quando 50 famílias foram expulsas de suas
casas no bairro de Caucaia, zona metropolitana de Fortaleza (Re-
dação, 2021). O jornalista Thiago Paiva (2021) retratou a situação,
destacando que essas 50 famílias viviam em uma mesma comuni-dade. A expulsão teria sido motivada por conflito entre integrantes do CV e outros grupos identificados como Neutros e Massa – dissi-
dências que reivindicavam atuações e posições fora do escopo das
facções que atuavam no Ceará e se consolidaram como as maiores
forças aglutinadoras de redes criminais no estado desde 2016.
A experiência de expulsões recorrentes gerou a ideia de que exis-
tem “refugiados urbanos” no estado do Ceará, em especial nas pe-
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riferias urbanas, com a organização de instâncias de atenção para
acolhimento dessas pessoas. Um dos exemplos importantes dessa
ação é a Rede Acolhe do Núcleo de Atendimento ao Preso Pro-
visório e Vítimas de Violência (Nuapp) da Defensoria Pública do
Ceará (DPGE, 2017). A Rede foi constituída para acolher vítimas
de violência e funciona atendendo, entre outras coisas, pessoas
expulsas de suas casas pela ação de facções. Como demonstraram
Silva e Mariano (2020), a situação dos deslocamentos, em função
da ação de facções, alcançou ainda programas sociais como o Mi-
nha Casa Minha Vida. A pesquisa que realizaram demonstrou que
apesar dos programas de proteção instituídos, a exemplo da Rede
Acolhe, o sistema de proteção social para vítimas de violência,
juntamente com instituições de justiça e segurança, não consegue
alcançar e garantir os direitos de famílias pobres alcançadas pelo
trabalho de facções criminosas.
O domínio territorial das facções se estendeu ainda às dinâmicas
econômicas das comunidades. Em conversa com integrantes de
movimentos de moradia, escutei depoimentos de controles que
iam desde a distribuição de água e gás até serviços de utilidade pública. Entre os problemas observados, verifiquei relatos a res-
peito das facções estarem controlando a distribuição de serviços
como o de internet e TV a cabo. Em abril de 2021, o jornalista Lu-
cas Barbosa (2021) produziu matéria retratando que moradores
de um bairro da periferia de Fortaleza não conseguiam acionar as
empresas contratadas para serviços de internet porque a facção
não permitia a entrada dos prestadores de serviço na comunida-
de. A matéria ainda relatou que os equipamentos para distribui-
ção da internet, no local, foram furtados e por isso os moradores
que contrataram os serviços daquela empresa não conseguiam
mais ter acesso ao serviço. Em outros depoimentos, moradores
relataram que a entrada só é permitida em caso de pagamento
para que os prestadores de serviço tenham acesso à localidade.
Esse controle de atividades econômicas alcançou a vida de co-
merciantes locais e sua extensão passou a ser evidenciada em
Luiz Fábio S. Paiva
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situações de assassinato de pessoas que se recusaram a pagar
uma cobrança retratada pela imprensa cearense como “pedágio”
(Sisnando, 2021b). Trata-se de uma cobrança feita a pessoas que
têm atividade econômica no bairro e são informadas por envol-
vidos nas facções que devem pagar determinadas quantias para
seguirem com seu trabalho em segurança. A prática de extorsão
é historicamente conhecida como parte da ação de envolvidos
em negócios ilegais e que podem manejar desde a proteção das
transações comerciais até a venda de garantias efetivas da vida
de um morador16. No Ceará, existem relatos de que gangues e quadrilhas de traficantes realizavam serviços de “vigilância” que,
em geral, deveriam ser pagos por comerciantes para garantir a
segurança de seus estabelecimentos. Não obstante, os relatos de
moradores ressaltam que, nas áreas dominadas por facções, as
cobranças são contundentes, com ameaças efetivas de punição
para comerciantes que se recusam a pagar pela proteção. São
situações em que o comerciante pode ser efetivamente assassi-
nado como um recado para aqueles que, porventura, duvidem
do domínio exercido pelo grupo naquela localidade.
Em outubro de 2021, os jornais cearenses noticiaram a morte
de um barbeiro de 46 anos que se encontrava em seu estabele-
cimento comercial (Barbeiro, 2021). Nas matérias, é importante
observar que os repórteres ressaltam que, em suas conversas
com a comunidade, as pessoas não acusam o barbeiro de se ne-
gar a pagar o “pedágio”. Aparece a narrativa de que, em alguns
momentos, ele recebia ligações com cobranças e, simplesmen-te, as ignorava. É difícil precisar a veracidade dessa informação
com os dados disponíveis, mas a narrativa colabora com os rela-
tos de operadores de segurança pública com os quais conversei
e que, em suas falas, relataram essa difusão de denúncias de co-
merciantes que, geralmente, denunciavam ameaças de cobran-
16 Gambetta (2015) demonstrou como as máfias serviam de fiadoras das transações
comerciais, julgando-se como legítimas entidades de proteção política e econômica dos comerciantes. A venda de proteção era o negócio fundamental das máfias italianas.
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ças por ligações atribuídas a facções. É possível afirmar que, em
linhas gerais, o “pedágio” se transformou em prática imputada
às facções, embora ainda seja preciso maior investigação para
entender a extensão e o impacto econômico desse tipo de ação
na economia local. Nos casos observados, é possível ainda con-
siderar que não se trata de uma extorsão mediante uma amea-
ça velada, mas de uma ordem que precisa ser cumprida porque
existe uma ameaça objetiva à vida das pessoas cobradas pela
facção que, em tese, exerce o domínio territorial do local.
Considerações finais
O domínio das facções fora das prisões, territórios originários
de sua atuação, é uma realidade que se impõe na sociedade bra-
sileira. Neste texto, apresento algumas informações que, grosso
modo, tratam desse fenômeno, em Fortaleza e região metropoli-
tana. Trata-se de um esforço para olhar essa situação e entender
os efeitos sociais desse processo de dominação na vida de quem
não está envolvido com o crime ou integrando um grupo armado
envolvido na prática de atividades criminosas. Enquanto consi-
go viver escrevendo sobre esse fenômeno sem ser importunado
pela presença das facções nas minhas relações de vizinhança,
esse privilégio não é compartilhado com outros cearenses que
precisam, no seu dia a dia, considerar a probabilidade de serem
confrontados pelo mando de um grupo armado com poder efe-
tivo de interferir nas suas vidas. Embora ainda existam muitas
pessoas que podem relativizar o controle das facções em seu
cotidiano, mesmo residindo na periferia de Fortaleza, existem
outras que precisam calcular até que ponto podem negligenciar
certas ordens em virtude dos possíveis perigos que isso gera
para si e seus familiares.
Não se trata de uma experiência simples ser ameaçado de morte;
precisar largar tudo que se tem e abandonar seu lar; ou dispor
de parte dos seus rendimentos para pagar pessoas armadas dis-
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postas a cobrar você em troca de proteção. Muitas pessoas gozam
da possibilidade de viver em Fortaleza sem precisar considerar
nenhuma dessas coisas. Muitas só têm acesso ao fenômeno pela
imprensa. Contudo, é possível considerar que a cidade já foi povo-
ada pela realidade imposta pelas facções e os trânsitos entre de-
terminadas áreas da cidade consideram a presença delas. Existe
ainda um trauma presente na experiência de familiares que per-
deram entes queridos, vivenciaram uma experiência de tentativa
de homicídio ou ainda simplesmente estão em condição de fuga
para conseguir escapar da ação de uma facção. É um exercício im-
portante imaginar até onde as facções podem ir – e acredito que
deveria ser exercício feito por todas as pessoas que ocupam uma
posição de poder na sociedade brasileira. Desde 2016, os proble-
mas produzidos pelas facções nas vidas de moradores das perife-
rias são visíveis, mas não se encontrou solução para, no mínimo,
reduzir os efeitos de um processo de dominação gerador de mor-
tes que, no meu ponto de vista, poderiam ser evitadas.
O domínio das facções é uma experiência territorial que, em sua
extensão, alcança de maneira desigual a cidade e os próprios
bairros das periferias urbanas de Fortaleza. Existem possibilida-
des de outras sociabilidades em praticamente todos os bairros
da cidade, mas a extensão do poder das facções é uma ameaça
importante para segmentos ainda não alcançados por essa expe-
riência. E o problema não consiste no fato de existirem pessoas
que, eventualmente, são presas pelo poder público. O domínio
das facções é constituído por uma maneira de fazer que, em li-
nhas gerais, encontrou formas de se reproduzir independente-
mente das ações de repressão dos governos. É um fenômeno que
revela a deterioração de uma sociedade incapaz de se compre-
ender de maneira coletiva e que, aparentemente, consegue con-
viver com a produção em grande escala da violência, da injustiça
e do sofrimento de pessoas que já compõem hoje uma multidão.
No início do processo de controle social das periferias por facções,
no Ceará, em 2016, foi muito comum ouvir de representantes do
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poder público e instituições de segurança que, em breve, o Estado
venceria as facções. Mais de cinco anos depois é possível ainda
escutar essa promessa. Contudo, a probabilidade de que isso não
aconteça é real e muitas pessoas obedecem porque não acreditam
em outra solução para o problema. As maneiras de conviver e so-
breviver ao domínio das facções me parece uma boa matéria para
futuros pesquisadores interessados em adensar a compreensão
do fenômeno. É uma experiência que merece atenção dos cientis-
tas sociais para compreender as maneiras como cada comunida-
de vai encontrando suas soluções para gestão da vida e da convi-
vência com pessoas que lhe impõem o mando e a possibilidade de
uso da força como recurso de interação social. A recuperação do
monopólio da violência pelo Estado não parece mais uma possi-
bilidade de curto prazo para pessoas que, em seus aprendizados
cotidianos, têm muito a nos ensinar sobre a vida destituída do di-
reito à segurança pública e justiça como um bem comum.
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Recebido em 01/11/2021
Aprovado em 01/12/2021