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Governo Cardoso (1995-2002) e Governo
Lula (2003-2010): Homologia entre
Trajetórias dos Ministros e Crenças

Econômicas Estatais Vigentes

Maria Chaves Jardim*1
Tiago Rosa**2

Resumo
Os governos Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010) constituem
momentos marcantes da história social, política e econômica contem-
porânea do Brasil. O artigo busca explorar o tema, a partir do estu-do da biografia de 151 ministros que atuaram entre 1994 e 2010 nas pastas titulares. Após apresentar uma cartografia do perfil de todos os ministros, por meio de diversas variáveis, o artigo dá destaque para
três delas: ocupação dos pais e avós dos ministros, universidade pelas quais passaram e a circulação internacional desses. Buscamos identi-ficar se existe homologia entre a trajetória individual dos ministros e
as crenças econômicas vigentes do período. Inspira-se na sociologia de P. Bourdieu e faz uso da Prosopografia. Os resultados indicam existir homologia entre as trajetórias individuais dos ministros e as crenças
econômicas vigentes do período, expressa, sobretudo, a partir de cren-
ças neoliberais ou desenvolvimentistas, divulgadas nas universidades pelas quais passaram, em formato de teoria econômica.
Palavras-chave: Governo Cardoso. Governo Lula. Ministros. Habitus. Trajetória.
* Professora Livre Docente em Sociologia Econômica do Departamento de Ciências So-ciais da UNESP de Araraquara e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da FCLar. Orcid meu (Maria): https://orcid.org/0000-0001-5715-1430 E-mail: majardim@
fclar.unesp.br
** Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Unesp de Araraquara. Pesquisador do Núcleo de pesquisa sobre Sociedade, Poder, Or-ganização, Emoção e Mercado (NESPOM). Email: tiagobor2013@gmail.com. Orcid: ht-tps://orcid.org/0000-0003-1982-4555

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Cardoso Government (1995-2002) and Lula
Government (2003-2010): Homology Between

Trajectories of Ministers and Current State Economic
Beliefs

Abstract
The Cardoso (1995-2002) and Lula (2003-2010) governments are im-
portant moments in Brazil’s contemporary social, political and econo-
mic history. The article seeks to explore the theme, based on the study of the biography of 151 ministers who worked between 1994 and 2010 in the head offices. We sought to identify the individual trajectory of
the ministers of the periods by means of some variables, three of which
gained prominence: the occupation of the ministers’ parents and gran-
dparents, the university held by the ministers and their international
circulation. It is inspired by the sociology of P. Bourdieu and makes use
of Prosopography. The results indicate that there is homology between the individual trajectories of the ministers and the economic beliefs of
the governments in which they were involved.
Keywords: Cardoso’s Government. Lula’s Government. Ministers. Ha-
bitus
. Trajectory.
Gobierno de Cardoso (1995-2002) y Gobierno de Lula

(2003-2010): Homología Entre las Trayectorias de
los Ministros y las Creencias Económicas Estatales

Actuales

Resumen
Los gobiernos de Cardoso (1995-2002) y Lula (2003-2010) son mo-
mentos notables en la historia social, política y económica contempo-
ránea de Brasil. El artículo busca explorar el tema, basado en el estudio de la biografía de 151 ministros que trabajaron entre 1994 y 2010 en las carteras titulares. Intentamos identificar la trayectoria individual
de los ministros de los períodos a través de algunas variables, tres de
las cuales ganaron prominencia: la ocupación de los padres y abuelos
de los ministros, la universidad en poder de los ministros y su circula-

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ción internacional. Está inspirado en la sociología de P. Bourdieu y hace uso de la Prosopografía. Los resultados indican que existe una homo-
logía entre las trayectorias individuales de los ministros y las creencias económicas de los gobiernos en los que estuvieron involucrados.
Palabras clave: Gobierno de Cardoso. Gobierno de Lula. Ministros. Ha-
bitus
. Trayectoria.

Introdução

Os governos Cardoso e Lula constituem momentos marcantes
da história social, política e econômica contemporânea do Brasil
e, por isso, têm gerado disputas acadêmicas pela sua compre-ensão. As análises vão desde aqueles que consideram que não
existem diferenças entre ambos os governos, pois esses foram igualmente neoliberalizantes (Boito, 2003; Antunes, 2004, Pi-nassi, 2012), até as correntes que colocam de um lado os go-
vernos Cardoso como neoliberais (Grün, 2007), e, do outro, o
neodesenvolvimentismo estatal dos governos Lula (Bresser
Pereira, 2007; Boschi, 2010; Jardim, 2013). Há, ainda, leituras que colocam ambos como liberais-desenvolvimentistas (Sallum
e Goulart, 2016).O artigo busca explorar o tema, a partir do estudo da biografia de 151 ministros que atuaram entre 1994 e 2010 nas pastas ti-tulares. Após apresentar uma cartografia do perfil de todos os ministros, por meio de diversas variáveis, o artigo dá destaque
para três delas: ocupação dos pais e avós dos ministros, univer-sidade pelas quais passaram e a circulação internacional desses. Nossa expectativa é que, ao colocarmos em perspectiva compa-rada os dados recolhidos dos agentes, possamos identificar uma
possível homologia entre as crenças individuais dos ministros e
as crenças econômicas estatais vigentes em cada período.

O artigo contribui em uma literatura tratada apenas pela Ciên-cia Política, sobre as trajetórias de ministros recrutados, já que

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no âmbito da Sociologia não encontramos nenhuma iniciativa
em estudos dessa natureza. Mesmo na Ciência Política o tema
é considerado ainda pouco estudado. Como afirmam D´Araújo
e Ribeiro (2018, p. 01), “sabemos pouco sobre as característi-
cas desse grupo, sua distribuição pelas regiões da federação, sua
composição socioeconômica e como suas experiências e saberes
disciplinares são distribuídos entre as diferentes pastas”. Além desta introdução e das considerações finais, o artigo está dividido em quatro seções: na primeira, realizamos uma apre-sentação do referencial teórico-metodológico e na sequência apresentamos uma revisão bibliográfica dos governos Cardoso
e Lula. Na terceira seção, apresentamos uma breve revisão bi-bliográfica sobre ministros e apresentamos o banco de dados, cruzando variáveis e, finalmente, na quarta seção, realizamos
algumas análises.

1. Referencial teórico-metodológico de Pierre Bourdieu:
habitus, trajetória, prosopografia e Estado

1.1. Habitus, trajetória e prosopografia

Nossa inspiração teórica é a Sociologia Relacional de Bourdieu,
especialmente os conceitos de habitus e crença, assim como sua
discussão sobre Estado. A coleta de dados foi realizada via pro-sopografia, considerando a discussão de Bourdieu sobre traje-
tória.

O conceito habitus foi desenvolvido por Pierre Bourdieu, a par-tir da necessidade que o autor sentiu em apreender as relações de afinidade entre o comportamento dos agentes e as estruturas
e condicionantes sociais. Para o autor (2003), a visão de mun-do de um agente é fabricada socialmente. Portanto, a trajetória dos agentes ajuda a construir aquilo que Bourdieu chamou de
habitus, formado por pré-disposições construídas ao longo do

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processo de socialização. São aquelas características que o agen-
te carrega, herdadas de sua origem social e atualizadas a todo momento, mas que não são determinantes.
Para Bourdieu (2003), o habitus integra experiências passadas
e atua como uma matriz de percepções, de ações, de gosto e de crenças. Essa “matriz”, ou conjunto de disposições, fornece es-quemas necessários para a intervenção dos agentes sociais na
vida diária, de forma não necessariamente consciente. “Habitus
é um operador, uma matriz de percepção e não uma identidade fixa” (Bourdieu, 2003, p. 83), ou seja, são mutáveis e produtos da história dos agentes. Trata-se de um marcador simbólico que pode expressar distinção ou desclassificação (Bourdieu, 2003). Mostra distinção quando expressa a cultura dominante; expres-sa desclassificação quando apresenta a cultura dos dominados.É uma noção que nos auxilia a pensar as características de
uma identidade social dada, de uma experiência biográfica,
um sistema de orientação (ora consciente, ora inconsciente), mas também do coletivo. Para objetivar o habitus de um agen-te, é preciso localizá-lo em uma trajetória social, afinal, o habi-
tus
não existe nele mesmo; é fabricado durante uma trajetória
determinada. Nesse sentido, a origem social é um holofote poderoso na elucidação das trajetórias, pois o habitus primário
(instituição familiar) é uma primeira e profunda impressão so-cial sobre o agente, que sofre sedimentações ao longo da vida. Para o autor, a trajetória é a objetivação das relações entre os agentes e as forças presentes no espaço social. Essa objetivação resulta em uma trajetória, que diferente das biografias comuns,
descreve a série de posições sucessivamente ocupadas pelo
mesmo agente em estados sucessivos do espaço social (Bour-dieu, 2003). Na perspectiva de Bourdieu, o estudo de trajetória busca analisar o conjunto de posições ocupadas, transforman-do o conceito de trajetória individual em algo coletivo, e desta-cando posições em comuns, ao mesmo tempo em que analisa o

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espaço comum dos agentes, criando, com isto, a prosopografia do grupo estudado. Na prosopografia, o conceito de habitus é
fundamental, considerado como algo cultural e historicamente
localizado. O uso da prosopografia no estudo de trajetória visa fugir daqui-lo que Bourdieu (2003) chamou de “os perigos da ilusão bio-gráfica”, ou seja, o estudo de indivíduos isolados do campo no qual estão inseridos: “Devemos precaver-nos contra a criação da ilusão biográfica, situando claramente os agentes sociais em seu
grupo social, procurando narrar [...] a construção diacrônica da trajetória dos grupos nos diversos campos” (1996, p. 55).

A metodologia foi utilizada por Bourdieu em “La Noblesse
d’Etat: Grandes écoles et esprit de corps” (1989), quando, a partir da prosopografia, o autor demonstrou existir homologia entre a origem social, a escola frequentada e a carreira profis-
sional e política dos agentes estudados. Da mesma forma, na investigação prosopográfica sobre o Episcopado Francês, Pierre Bourdieu e Monique de Saint Martin (1982) evidenciaram que a origem social é o princípio que determina a posição ocupada
e as tomadas de decisão dos prelados, embora não determine a trajetória seguida. Ainda, dentre os herdeiros de Bourdieu, lem-bro a tese de doutoramento de Lebaron (2000), que, a partir da prosopografia de 176 dirigentes e diretores de banco centrais, concluiu que a passagem pela universidade impacta fortemente na visão de mundo dos presidentes dos bancos centrais. Ou seja, o autor demonstra que a visão mainstream de economia ensina-
da pelas escolas americanas seria expressa nas tomadas de posi-
ção dos presidentes dos bancos centrais. Lebaron coloca ênfase
sobre a importância da socialização secundária na fabricação do
habitus, inspirando este artigo.

A prosopografia foi usada por importantes referências das ciên-cias sociais, por exemplo, Robert Merton (1938), que estudou o congresso americano, e Norbert Elias, que fez o estudo da pro-

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sopografia em rede no livro “O Processo civilizador” (1994). No
Brasil, temos algumas iniciativas, como a de Sérgio Miceli, que no livro “Intelectuais à Brasileira” (1991) afirma:

Essa metodologia requer a construção da biografia coletiva
de um determinado setor da classe dirigente com base em uma estratégia de exposição e análise que se vale do exame
detido de casos exemplares, alçados à condição de tipos ide-
ais, e, com base nesse corpus de evidências, de inferências qualificadas acerca do grupo ou do setor de classe na mira
do pesquisador (Miceli, 1991, p. 137).

Grün (2012) também operacionalizou a metodologia em pesqui-
sa sobre o alto escalão dos governos Cardoso e Lula. Na ocasião, o autor concluiu, com base nos dados prosopográficos dos agen-tes, que o alto escalão do Governo Lula tem origem social popu-lar. Da mesma forma, demonstrou que o alto escalão do governo
Cardoso passou por escolas particulares e era oriundo de famí-
lias consideradas de posse econômica e cultural. Nosso banco de dados confirma a hipótese de Grün.Diante do referencial teórico, defendemos que a prosopografia é uma aliada para a objetivação das trajetórias dos ministros, visando a captar o perfil individual desses e, em seguida, buscar homologia entre essas trajetórias e as crenças econômicas vi-
gentes no período. No que se refere ao conceito de homologia, este aparece na obra
de Bourdieu para abordar correspondências entre um campo e
outro, entre um agente e outro, ou entre um agente e um campo.
Para o autor, existe uma homologia estrutural nos campos, no sentido que existem propriedades homólogas (corresponden-tes) que regulam o funcionamento dos mais diversos campos. Neste artigo, buscamos identificar se existe homologia entre a trajetória dos ministros e as crenças econômicas defendidas pe-
los governos Cardoso e Lula.

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1.2. Estado como produtor de crença em BourdieuOutra discussão presente na obra de Bourdieu, que inspira nos-sas análises, é a sua discussão sobre Estado (2014). Para além de
um Estado abstrato, Bourdieu adota um conceito de Estado en-carnado e objetivado em agentes sociais. Estado que influencia e sofre influência dos seus agentes, que por sua vez, são encarna-
dores do Estado. Para o autor, o Estado seria o resultado de ca-tegorias de pensamento dos agentes que nele atuam. Portanto, os agentes estatais influenciariam as crenças estatais em vigor.Em Bourdieu (2014), o Estado é considerado como um espaço
relativamente autônomo em relação às forças sociais em luta pelo poder, assegurando uma posição de árbitro nos conflitos políticos. Dizer que o Estado é legítimo em Bourdieu, é dizer que ele pode obter a submissão da ordem que impõe, tendo como única forma de constrangimento o poder simbólico. Assim, a
obediência não passa pela coerção em Bourdieu. O reconheci-
mento da legitimidade da obediência é um ato de conhecimento, que é um ato de submissão inconsciente à ordem social, ou seja,
é um ato de crença, mais ainda, de crença coletiva.

Pierre Bourdieu (2003) entende crença como um tipo de con-
senso ou de senso comum vigente. Trata-se de uma verdade im-posta a um grupo social, a qual de tão natural não se nota sua
arbitrariedade. Como produtor de magia social, o Estado em
Bourdieu não tem a necessidade de dar ordens, ou de exercer coerção física para produzir um mundo social ordenado, “pelo menos enquanto puder produzir estruturas cognitivas incorpo-radas que estejam em consonância com as estruturas objetivas, assegurando assim a crença da qual falava Hume, a submissão
dóxica à ordem estabelecida” (Bourdieu, 2003, p. 119).

Bourdieu nos chama a atenção para o fato que pensamos o Es-
tado a partir do próprio pensamento criado pelo Estado, pois
o Estado é ele mesmo nosso próprio pensamento. Mais concre-

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tamente, o pensamento do Estado não é somente um discurso. Este pensamento se inscreve no mundo social, já que o Estado
seria o mundo social em forma de discurso e em sentido práti-co. Essas estruturas são tão naturalizadas que os agentes sociais
nem se dão conta do processo de produção de crenças. Dessa feita, o Estado instaura, através da ordem simbólica que impõe, duas formas de poder: a estrutura objetiva do Estado e a estrutura mental para pensar o Estado, que são homólogas. As-sim, passa a existir na objetividade, nas estruturas materiais e na subjetividade dos agentes, ou seja, nas representações sobre
a forma de visão de mundo.

A seguir, uma síntese dos governos Cardoso e Lula, momentos em que os ministros estudados estiveram à frente do poder. A
ideia do item é identificar as principais crenças vigentes nos períodos, para depois cruzar com as trajetórias individuais dos
ministros.

2. Governos Cardoso e Lula: crenças neoliberais e crenças
desenvolvimentistas

2.1. Governo Cardoso No final dos anos 1980, o cenário econômico mundial este-ve enfraquecido pela crise fiscal que abateu os países latinos-
-americanos. Tal condição foi resultante de uma onda ideoló-
gica neoliberal iniciada nos Estados Unidos na década de 1970
(Bresser-Pereira, 2007). Esta forma econômica de pensar, agir e
sentir (Lebaron, 2012) se convencionou chamar de Consenso de Washington e foi o fio condutor do governo Cardoso (Tavares,
1999; Bresser-Pereira, 2007). Quando falamos em Consenso de Washington, buscamos apenas um marcador simbólico desse
momento, pois, conforme nos mostram Dezalay e Garth (2002), os países não fizeram importação automática dos paradigmas

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estabelecidos no Consenso de Washington. Ao contrário, houve
tensão interna em cada país e negociação com os códigos econô-
micos, políticos e culturais existentes nesses.Com as especificidades de cada país, uma parte deles – com clara exceção para os tigres asiáticos e China – abandonou suas es-
tratégias de desenvolvimento nacional (Bresser-Pereira, 2007) e se adaptou a um projeto ligado à constituição de estruturas
produtivas, independente da economia nacional. Foucarde-Guo-rinchas e Babb (2002) acrescentam que a globalização econômi-ca e financeira desempenhou um papel crítico na promoção da transição para políticas neoliberais, mas que as condições ins-
titucionais locais foram decisivas para as economias desenvol-vidas e que os padrões institucionalizados das relações Estado--sociedade determinaram a maneira pela qual as transições não
liberais foram realizadas.As autoras argumentam que enquanto no Chile e na Grã-Bretanha o conflito de distribuição mal mediado criou as condições ideoló-
gicas para uma revolução “monetarista”, no México e na França,
o neoliberalismo era entendido principalmente como um passo
necessário para adaptar o país à economia internacional. Foi nesse contexto que o governo Cardoso teria aderido às cren-ças neoliberalizantes – já iniciadas durante o período Collor.
Contudo, conforme Dezalay e Garth (2002), não podemos afir-mar que houve uma importação uníssona dessas ideias.Lebaron (2012) afirma que o paradigma neoliberal encontrou
eco nas escolas de economia dos Estados Unidos, a partir de
1980, e tem formado os diretores e os presidentes dos bancos
centrais ao redor do mundo. No Brasil, a Fundação Getúlio Var-gas (FGV) seria a representante dessa visão. Loureiro (1997) classifica a Pontifícia Universidade Católica (PUC) e a FGV como
privatistas e próximas dos bancos, argumento retomado por Du-
tra (2012).

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No nosso banco de dados, é no governo Cardoso que encontra-mos o maior número de ministros com formação na FGV ou PUC--RIO, os quais complementaram seus estudos em determinadas
escolas americanas. Segundo Lebaron (2000), complementar
os estudos em universidades americanas, tais como Cambrid-
ge, Harvard, Princeton, Berkeley, Columbia, Cornell University e
Yale University, seria uma forma de cumprir todos os rituais de
acesso às crenças liberalizantes produzidas pela economia neo-
clássica (Lebaron, 2000).

Foi nesse contexto que o governo Cardoso passou a defender que as finanças do Estado deveriam ser equilibradas e realizou
forte estímulo às empresas privadas (Sallum e Goulart, 2016).
O governo colocou em pé de igualdade as empresas de capital nacional e estrangeiro, através da aprovação de um conjunto de
leis no Congresso Nacional. Essas Leis regulamentaram as con-cessões de serviços públicos para a iniciativa privada e preser-
vou o programa de privatizações e de concessões.

No âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — principal agente financeiro da industrialização do país — foi notável a diversificação setorial das empresas atendidas. Além da indústria, o BNDES passou a financiar atividades co-merciais, turísticas e agrícolas, sendo que as empresas estatais
deixaram de ser o ponto central. Sobre o contexto, Grün (2007) afirma que os movimentos de fu-
sões e privatizações das empresas estatais abriram espaço para
as corporações internacionais atuarem no mercado brasileiro. Dessa forma, a lógica financeira do período começou a predo-
minar na sociedade brasileira no meio organizacional e os prin-
cípios dominantes no capitalismo internacional passaram a ter algum eco junto ao Estado brasileiro. Lembramos que sempre
houve uma tradição na economia brasileira de defesa do capital
estrangeiro e das privatizações, sendo Roberto Campos o repre-
sentante mais icônico desse pensamento.

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No que se refere às crenças liberalizantes do período, podemos citar a consolidação das finanças públicas. Ou seja, a agenda go-
vernamental passou a incorrer pela cobrança da realização de
“superavits estruturais” para atender a expectativa dos agentes
investidores (Lopreato, 2013), dentro de um modelo econômico
com forte predomínio dos mercados.Buscando enquadrar-se nos critérios exigidos pelo Fundo Mo-
netário Internacional (FMI), o governo Cardoso passou a buscar o superavit primário que, juntamente com o controle da inflação e das contas públicas, tornaram-se o mantra daquele período.
Em complemento, a mídia mainstream e parte do empresariado passaram a condenar o que chamariam de “excessos e inefici-
ência do Estado”, acompanhados da defesa de “menos Estado e
mais mercado” (Jardim, 2013).

Segundo Lopreato (2013), o governo Cardoso concentrou suas atenções no ajuste das contas públicas, baseado na crença de que através do aprofundamento dos cortes de gastos, a resolu-ção das questões existentes poderia ser atingida pela criação
de espaços orçamentários (Lopreato, 2013, p. 02). No contexto,
o governo foi favorável à estabilização macroeconômica com in-
tegração à globalização e à cooperação com investimento exter-no, no sentido afirmado por Sallum (1999): “Para a corrente ne-
oliberal dominante a prioridade era a estabilização dos preços”
(Sallum, 1999, p. 33). No que se refere ao investimento na educação, o Governo priori-
zou apenas soluções via mercado, como o FIES. Falamos apenas porque o governo Lula também fez uso do mercado para pro-
pagar a educação superior, via PROUNI, mas fez, por outro lado, estímulos à universidade pública, via REUNI.Consideramos para este artigo, que o neoliberalismo iniciado
nos anos Collor teria assumido certo protagonismo como crença
econômica dominante nos anos Cardoso.

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2.2. Governo Lula

Assim como em relação ao governo Cardoso, não existe con-
senso na literatura sobre as tomadas de posições e crenças do governo Lula. Os analistas classificam o período Lula de formas diversas, que vão desde neoliberal, liberal-social à neodesenvol-
vimentista, keynesianista, novo desenvolvimentista, populista,
intervencionista. Por exemplo, Boschi (2010) afirma que nesse governo houve um novo tipo de intervencionismo estatal, que adquiriu parti-cularidade em relação ao do passado, já que nesse haveria mais uma modalidade híbrida de coordenação econômica do que o
retorno do Estado produtivo. O autor fala em “novo desenvolvi-
mentismo”, pois o Estado passou a ser o regulador do social e da
economia. Nessa crença estatal, o funcionamento dos mercados
estaria submetido à lógica política.

Já para Bresser-Pereira (2007), o “neodesenvolvimentismo” pre-
sente no governo Lula diferiu do “nacional-desenvolvimentismo” que vigorou na década de 1970 e do neoliberalismo vigente no go-verno Cardoso e defende que a crença neoliberal tenha ficado nos anos Cardoso, pois os anos Lula colocou em destaque a crença in-tervencionista, que pressupõe o controle do mercado pelo Estado.
Esse argumento não é compartilhado por Boito (2003), Antunes (2004) e Pinassi (2012), para quem no governo Lula vigorou a submissão do Estado às finanças. Para esses autores, o governo
só procurou recompor sua função de “alívio” social através da criação de empregos (quase sempre precários e temporários),
políticas de recuperação do salário mínimo e redistribuição de renda, enquanto a economia se renacionalizou por meio de fi-nanciamentos do BNDES. Os autores entendem que o governo Lula praticou o “social-liberalismo”, ou seja, a manutenção do
modelo econômico neoliberal, combinado com crescimento eco-
nômico e políticas sociais compensatórias.

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Grün (2007) defende que durante o Governo Lula as empresas
nacionais passaram a incorporar crenças dominantes do capi-
talismo internacional, como a abertura de capital em bolsa de
valores e a governança corporativa como ferramenta de gestão. Jardim (2009, 2013) e Silva (2013) apontam que esse governo
passou a se apoiar nas poupanças dos fundos de pensão para o investimento nos projetos de infraestrutura do país, sobretu-
do no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), inclusive para a aquisição de ações de empresas, estratégia que teria ge-
rado emprego e renda (Silva, 2013). Na mesma direção, Mun-do Neto (2012) afirma que, no governo Lula, o Estado atuou de forma direta no mercado de capitais e adquiriu recursos de
terceiros. Tal fenômeno teria acontecido através da BNDES-PAR, que é uma holding estatal gestora de capital de risco, subsidiada
pelo BNDES. Teria havido uma mudança no modelo de atuação da BNDES-Par, que teve como crença central a participação no mercado financeiro.
Para Sallum e Goulart (2016), no governo Lula a crença neolibe-ral se manteve, já que esse governo buscou de várias maneiras
compatibilizar a herança do período Cardoso, com o programa
social do Partido dos Trabalhadores (PT). Posição diferente é a de Mesquita (2014), para quem, apesar de jamais ter abando-
nado o tripé macroeconômico estabelecido em 1999, o governo
Lula teria apresentado desvios em relação ao antecessor. Assim,
ao adotar uma visão “mais convencional e circunspecta sobre
a política econômica se concentrou no Banco Central (BC), ao passo que o Ministério da Fazenda (MF) e outras partes do setor público, como o BNDES, adotaram uma visão mais heterodoxa” (Mesquita, 2014, p. 44). Para Grün (2014), após o escândalo do mensalão, o governo
Lula deu uma guinada na política macroeconômica. Para Jardim
(2013), a crença em um Estado intervencionista foi iniciada a par-tir de 2006, quando houve mudanças na composição do governo,
com a substituição de Antonio Palocci por Guido Mantega no Mi-

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nistério da Fazenda e de José Dirceu por Dilma Rousseff na Casa
Civil. Essas mudanças teriam sido reforçadas durante o enfren-
tamento à crise de 2008, com investimento no mercado interno.Jardim (2013) defende, também, que a política fiscal adotada
pelo governo Lula a partir de 2008 foi pautada pelos estímulos
ao mercado interno1. A autora cita como crença desenvolvimen-
tista do período o investimento dos recursos dos fundos de pen-
são no PAC, gerando emprego e renda, especialmente no setor da construção civil, que passou a empregar beneficiários do pro-
grama Bolsa Família (Jardim, 2009, 2013).

Nesse sentido, o governo teria ampliado a intervenção estatal através de mecanismos destinados a oferecer financiamentos produtivos em longo prazo e com juros baixos para as obras do PAC. Também buscou estimular as empresas estatais que não fo-
ram privatizadas no governo Cardoso (caso da Eletrobrás, por exemplo) e permitiu que elas se associassem às empresas priva-
das para aumentar os investimentos com recursos do Tesouro.
Finalmente, o BNDES redirecionou suas prioridades para inves-
timentos estruturais, sob a lógica do desenvolvimento de em-presas nacionais. Por fim, buscou incentivar a competitividade das empresas brasileiras em relação às multinacionais que ope-
ravam no país (no setor das telecomunicações, por exemplo),
além de incentivar as companhias nacionais a se expandirem
para o exterior.

1 Dentre as estratégias de estímulo ao mercado interno, citamos as que incluem a redução da taxa de juros básica pelo Banco Central; medidas para estimular o crédito; postergação
do recolhimento de impostos para aumentar a capitalização das empresas e evitar proble-mas de liquidez das unidades produtivas; redução de impostos para estimular o consumo; fortalecimento do PAC como indutor aos investimentos públicos no setor produtivo; am-pliação das funções do BNDES, que antes emprestava dinheiro somente para as grandes empresas e nesse contexto passou a emprestar para as pequenas e médias empresas; am-
pliação do Conselho Monetário Nacional (CMN); e alteração da regulamentação do sistema financeiro de caráter preventivo. Da mesma forma, programas sociais (como o Programa Bolsa Família) foram mantidos e houve ampliação do número de beneficiários do progra-
ma, além de aumentos pontuais do salário mínimo durante o período.

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O governo Lula trouxe proteção às empresas de capital nacional
e melhorou a distribuição de renda e proteção aos trabalhadores
pobres, por meio da ampliação do acesso à educação superior, com destaque para a Restruturação e Expansão das Universida-
des Federais (REUNI). Ademais, houve o aumento dos gastos com proteção social que
produziu certo “crescimento através da distribuição” e que permi-
tiu a monetarização de áreas pobres e a melhora de regiões atra-sadas (Sallum e Goulart, 2016, p. 128). No seu conjunto, as estra-tégias econômicas do governo Lula agradaram o mercado, já que o governo manteve a estabilidade da economia, tal qual prometido
na “Carta ao Povo Brasileiro” (Lula da Silva, 2002). Essas medidas
teriam distanciado o governo Lula ainda mais das crenças neoli-
berais e o aproximando de um Estado com crenças reguladoras, ainda que com forte presença das finanças (Jardim, 2013). Considerando o exposto, para fins deste artigo, consideramos que
crenças desenvolvimentistas estiveram em holofote durante os anos Lula. Nas próximas seções conheceremos o perfil dos minis-tros de cada período, a partir de suas trajetórias. Antes, porém, apresentamos uma breve revisão bibliográfica sobre ministros.
3. Ministros como lócus de estudo

No âmbito da Sociologia são raras as iniciativas em estudos so-bre ministros, tema que tem interessado, sobretudo, à Ciência Política, especialmente pesquisas sobre o processo de recruta-mento e sobre as trajetórias de ministros. Para Codato e Franz (2017), esses estudos levantam o perfil da
elite ministerial de seus respectivos países, considerando variá-veis como idade, sexo, herança familiar, formação escolar, traje-tória profissional, orientação ideológica do partido, experiência
em cargos legislativos e ocupação de posições no alto escalão

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do Estado ou em firmas privadas. Os mesmos autores afirmam que, no presidencialismo brasileiro, os ministros cumprem uma dupla função: assegurar que a formulação e a implementação de políticas públicas estejam de acordo com as diretrizes do Pre-sidente da República e do programa do seu partido; e garantir, através de transações políticas, o apoio partidário para que es-ses projetos tenham sustentação e chances de aprovação pelo
Congresso Nacional. Nesse sentido, a seleção de ministros e a
formação de gabinetes teriam um papel estratégico político e para a boa condução do governo do Presidente da República. Os mesmos autores afirmam que as pesquisas sobre gabinetes
do regime semipresidencialista francês têm observado a ocupa-
ção de ministérios por indivíduos cada vez mais acostumados
com as lógicas do campo político. François e Grossman (2012) têm percebido a presença de novos tipos profissionais, com a diminuição no número de tecnocratas, experts e ministros não partidários e o consequente incremento de quadros políticos
com treinamento e carreiras cumpridas em entidades de repre-sentação, seja em cargos eletivos, seja na burocracia dos parti-
dos políticos ou mesmo em movimentos sociais (François, Gros-
sman, 2012). No Brasil, D’Araújo (2009) fez uma radiografia do Executivo após a redemocratização e identificou que os “ministros são
pessoas experientes na vida política, com forte enraizamento
em atividades parlamentares e executivas em todos os níveis de governo” (D’Araújo, 2009, p. 25). De acordo com Costa e Codato
(2013), isso seria um indicativo da existência de expertise polí-
tica e administrativa como condição básica para nomeação ao
ministério. Apesar de serem postos de nomeação, os ministé-rios também podem ser espaços de profissionalização política,
a exemplo das Casas Legislativas. Codato e Franz (2017) defendem que, no caso do Brasil, isso
decorre da importância do critério partidário no recrutamento

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ministerial. No presidencialismo multipartidário, o partido do presidente da República dificilmente consegue ser o partido ma-joritário no Congresso Nacional, forçando o chefe do governo a
fazer alianças com outras legendas para conseguir apoio político e aprovar seus projetos de lei, emendas legislativas e medidas
provisórias. Para garantir essa sustentação, o presidente precisa
atrair os demais partidos para a base de apoio do governo, alo-
cando-os nos ministérios ou nas burocracias a ele subordinadas.
Essa barganha entre cargos políticos de alto escalão e apoio par-lamentar nas duas Casas do Congresso Nacional impacta signifi-
cativamente na composição dos ministérios (Abranches, 1988)
e revela as estratégias perseguidas pelo recrutamento ministe-rial no Brasil. Vejamos, a seguir, nosso banco de dados sobre as trajetórias dos ministros nos governos Cardoso e Lula.

3.1. Banco de dados: governos Cardoso e Lula

3.1.1. Apresentação do banco de dados e processos
metodológicos O banco de dados da pesquisa geral é composto pelos dados prosopográficos de 393 ministros: 188 dos governos Fernando Henrique Cardoso, sendo 76 titulares e 112 interinos, e 205 dos

governos Luiz Inácio Lula da Silva, sendo 75 titulares e 155 inte-
rinos. Para este artigo, consideramos apenas os ministros titula-
res da pasta, em um total de 151 ministros (76 do governo Car-doso e 75 do governo Lula). Lembramos que esses ministros se
revezaram no primeiro e no segundo mandatos de cada governo, mas eles serão contados somente uma vez nesta pesquisa, pois
nossa unidade de análise são os ministros, não os mandatos. As fontes principais de pesquisa foram websites oficiais dos mi-
nistérios, websites de observadores das políticas públicas, ma-térias jornalísticas, além de consulta ao Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro, do Centro de Pesquisa e Documentação de

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História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).Os dados coletados foram organizados pela equipe no software
Excel a partir dos seguintes grupo de variáveis: idade, sexo, cor, local de nascimento (cidade, estado, ano); profissão; escolarida-de (escola pública ou privada, universidade); formação superior (instituição, curso, data da formatura, natureza pública ou priva-
da); pós-graduação (modalidade de pós-graduação, ano); circula-ção internacional (instituição, curso, natureza pública e privada, orientador); trajetória política (histórico sobre a iniciação políti-ca; exerceu cargo público? Qual esfera? Forma de admissão? Fa-miliares na política? Amigos?); filiação partidária; ocupação dos pais e avós, escolaridade dos pais e avós; estado civil (profissão do cônjuge em caso de casado); religião; notoriedade ou reconheci-
mento (prêmios, livros escritos); principais iniciativas no governo em que foi ministro; e pertencimento associativo.
Devido a uma necessidade de estabelecermos limites metodo-
lógicos, para este artigo trabalhamos com apenas seis variáveis (profissão dos ministros, ocupação dos pais e avós dos minis-
tros, escolaridade dos ministros, universidade realizada, pós--graduação e circulação internacional), sendo que três variáveis ganharam destaque: a ocupação dos pais e avós dos ministros,
a universidade realizada pelos ministros e a circulação interna-cional desses. A centralidade que Pierre Bourdieu dá ao “capital de origem” justifica nosso interesse pela profissão dos pais e dos avós dos ministros. Como afirmou Bourdieu (1996), a origem social é um holofote poderoso na elucidação das trajetórias, pois
o habitus primário (instituição familiar) é uma primeira e pro-funda impressão social sobre o agente, que sofrerá outras se-
dimentações ao longo da vida. A tese de Lebaron (2000) sobre a influência do pensamento adquirido nas universidades, junto aos presidentes dos bancos centrais, nos inspira a dar destaque à instituição na qual os ministros realizaram a sua formação su-
perior e a sua circulação internacional.

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As variáveis foram construídas pela primeira autora deste tex-to, a partir do método de Bourdieu. O questionário aplicado por
Pierre Bourdieu, no livro “A Distinção”, assim como a tese de Le-
baron (2000) nos serviram de inspiração. Por fim, a estatística
descritiva foi produzida por meio do Software Statistical Package
for the Social Sciences
(SPSS). Justificamos que não realizamos, para este artigo, a Análise de Correspondência Múltipla (ACM), pois nosso objetivo é conhecer a trajetória dos ministros e não objetivar o espaço social no qual esses estiveram inseridos. O
uso da ACM será feito em artigo posterior.

3.2. Primeiro contato com o banco de dados: titulares e
interinosEm termos macrossociológicos, os dados de frequência indicam que os ministros (titular e interino) durante os governos Car-

doso e Lula foram, em sua maioria, homens (99% e 88,5%, res-
pectivamente) e quase todos brancos, com uma idade média de 54 anos (Cardoso) e 55 anos (Lula). Se considerarmos titulares
e interinos, 96% possuía curso superior nos governos Cardoso, contra 80% nos governos Lula. Esse dado anima D´Araújo e Lei-te (2018) a afirmarem que “ministros formam uma elite acadê-
mica em todos os governos” (2018, p. 02). Em nossa perspectiva,
falamos em “elite altamente escolarizada”.

Se considerados todos os ministros (titular e interino), indepen-dentemente do governo, as profissões mais comuns são: advo-gado (18,8%), economista (14,8%), político (14,1%), professor
(5,9%) e médico (3%). Quando realizamos distinção por governo,
esses dados mostram diferenças consideráveis. Por exemplo, a presença de operário-sindicalista é significativa no governo Lula, especialmente no primeiro mandato, representando quase 50%
dos titulares e interinos. Quando olhamos para a ocupação dos pais e avós dos ministros Cardoso, quase 50% desses ministros são filhos e/ou netos de fazendeiros. No que se refere aos minis-

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tros Lula, 80% são filhos ou netos de faxineiro, manicure, operá-rio, pedreiro, ou seja, ocupações técnicas e sem qualificação. Para completar a cartografia acima, indicamos que mais da me-
tade deles (56,3%) nasceu no Sudeste do país, seguido pelo Nor-
deste (21,5%) e pelo Sul (13,7%). Ao todo, foram 16 mandatos femininos, contra 92,8% de mandatos chefiados por homens,
nisso incluso Interino e Titular. Se considerarmos apenas man-datos titulares, esse número se reduz para nove. Dessas mulhe-
res, apenas uma serviu ao governo Cardoso. As demais ocupa-
ram o gabinete durante os governos do PT e na pasta de Titular. No que se refere à questão racial, encontramos apenas dois casos
no governo Cardoso, sendo Edson Arantes, o famoso Pelé, na titu-
laridade da recém-criada pasta dos Esportes, e Mauro Barbosa, na
mesma pasta, como interino. No governo Cardoso, não encontra-
mos mulheres pretas, nem na pasta Interina, nem na pasta Titular.

Por outro lado, no governo Lula houve uma maior visibilidade de pessoas pretas, já que quatro ministros pretos estiveram em
pasta de Titularidade, sendo eles: Gilberto Gil (Pasta da Cultu-
ra), Benedita da Silva (Assistência Social), Marina da Silva (Meio Ambiente) e Orlando Silva De Jesus Júnior (Ministro do Espor-
te). Contudo, apesar de algum avanço, esse cenário está longe de
expressar a realidade racial brasileira.No que se refere à profissão dos ministros, no governo Cardo-so, encontramos um grande número de ministros com forma-
ção e/ou atuação em Engenharia, Economia, Direito, Medicina
e Administração. Esses cinco campos de atuação somados cor-respondem a 70% do total de ministros no tocante à profissão/
formação dos titulares. Por outro lado, o banco de dados do go-verno Lula indica as seguintes ocupações: operário, jornalista, professor, sindicalista e profissionais ligados a movimentos so-
ciais. No primeiro governo Lula, 26% dos ministros possuíam
origem sindical.

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Para esta pesquisa, mais importante do que esse dado, é a pro-fissão dos pais e avós desses ministros, pois, segundo nosso re-ferencial teórico, é a partir da objetivação da ocupação dos pais e avós que identificamos a origem social de um agente. Segundo Bourdieu e Passeron (2014, p. 28), “[...] a origem social é, de to-dos os determinantes, o único que estende sua influência a todos
os domínios e a todos os níveis da experiência dos agentes e pri-
meiramente as condições de existência”.


3.3. Ocupação dos pais e avós dos ministrosNo que se refere à ocupação dos pais e avós dos ministros, encon-tramos para o banco de dados do governo Cardoso quatro cate-gorias profissionais que estão no topo da hierarquia social: pro-

fissionais liberais formados em escolas renomadas (advogados,
médicos), banqueiros e industriais, militares e servidores pú-
blicos de alto escalão
(desembargador e professor universitá-rio). No conjunto, esses ministros formam 80% do todo. Por outro
lado, o banco de dados do governo Lula indica uma predominân-
cia de ocupação de nível técnico (82%), como expresso a seguir:

Tabela 1: Profissão dos pais dos ministros dos governos Cardoso e Lula Profissão
Governo

Porcentagem
Cardoso

Porcentagem
Lula

Liberal 71% 6.7%
Comerciante 5% 6.7%Banqueiro/Industrial 7.8% 1.3%
Ocupação técnica 5% 78,6%
Militar 7,8% 0%Servidor público de alto escalão (Desembargador e
professor Universitário)

3.9 2.7%Funcionário público de escalão técnico 0 4%
Total 100% 100%Fonte: Dados da pesquisa

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Para uma abordagem qualitativa, passamos a sublinhar alguns
casos marcantes do banco de dados do governo Cardoso e, em
seguida, do governo Lula. Trata-se apenas de uma ilustração, pois a discussão qualitativa não atinge os 151 ministros estu-
dados. Inicialmente, chamamos atenção para alguns agentes que estão no topo da hierarquia social: banqueiros e economistas, como José Eduardo de Andrade Vieira (filho do fundador do banco Bamerindus e que também foi presidente desse banco), Luiz
Carlos Mendonça de Barros, Pérsio Arida e Gustavo Franco; de
clãs industriais, como Celso Lafer; e políticos oriundos de famí-lias tradicionais, a exemplo de Rafael Valdomiro Greca de Mace-
do, José Sarney Filho e Francisco Dornelles. Além disso, muitos ministros são filhos e netos de desembargadores, deputados e governadores. Identificamos, também, que pais e avós de seis
ministros foram militares: Francisco Dornelles, Mauro César Ro-drigues Pereira, Pedro Malan, Ronaldo Mota Sardenberg, Walde-ck Vieira Ornélas e Walter Werner Brauer; todos são oriundos
do Instituto Rio Branco, instituição de grande prestígio nacional. É igualmente importante notar que os avós e pais desses minis-tros foram políticos influentes no Brasil.
Chamamos atenção para uma categoria de nível intermediária encontrada no governo Cardoso, que é a ocupação comerciante. Ministros que se declararam filhos de comerciantes, são quatro: Renan Calheiros, que declarou em autobiografia que vem de fa-mília de classe média, sendo filho de comerciante; Ramez Tebet, cuja profissão dos pais também era comerciante. Não sabemos a natureza desse comércio, mas sua trajetória indica ser de ori-gem média, já que o ministro Ramez Tebet estudou Direito na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foi prefeito e
promotor da sua cidade natal no Mato Grosso do Sul. Também, o ministro Antonio Kandir se declarou filho de mascates no co-mércio popular. Por fim, citamos o caso de José Serra, que con-tou em sua biografia que seus pais eram comerciantes em uma

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barraca de frutas no mercado municipal de São Paulo e seus
avós eram analfabetos. Apesar de considerarmos em nossa ava-liação que Serra é filho de comerciantes, essa informação não é
consensual, a saber:

José Serra tem 70 anos, é paulista, filho único de italianos.
Seu pai era um bem-sucedido comerciante no ramo de fru-
tas. José Serra foi criado em uma ampla e confortável casa
na Mooca, São Paulo. Quando Serra tinha 11 anos, sua famí-
lia se mudou para uma luxuosa casa em São Paulo na Rua
Antônio de Gouveia Giudice, no bairro nobre de Alto Pinhei-
ros (Amorim, 2010, n.p.).

A biografia de Serra mostra que ele estudou primeiramente em escola pública e depois em colégio particular, portanto, pode-
mos relativizar as informações dadas por Serra, em diálogo com o depoimento de Henrique Amorim.Na base da hierarquia, os pais com menores anos de estudo, ou seja, oriundos de ocupação técnica, são três: um técnico de
Raio X, um agricultor e um mecânico de automóvel. Os filhos de ministros cuja profissão ou ocupação são de origem menos prestigiada são: Sérgio Roberto Vieira da Motta, cujo pai era
técnico de Raio X; Iris Rezende Machado, filho de agricultor e de
dona de casa; e Élcio Álvares, filho de mecânico de automóvel, que por sua vez estudou Direito em faculdade particular no
Espírito Santo. Por fim, o ministro Eliseu Padilha se declarou de
classe popular, mas não informou a origem familiar. É possível que essa informação seja real, já que Padilha fez estudos técnicos.
Inicialmente fez Técnico em Contabilidade e depois cursou Di-
reito em faculdade particular.

Não encontramos dados sobre a família do ministro Odacir Klein,
mas o ministro fez curso Técnico em Contabilidade e em seguida
faculdade particular de Direito em Passo Fundo (Rio Grande do
Sul). As suas opções de formação (sobretudo o curso Técnico em

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Contabilidade) podem ser fortes marcadores simbólicos de sua
classe de origem, a classe popular. Por isso, os pais do ministro
foram encaixados na categoria ocupação técnica. No conjunto, os dados prosopográficos dos ministros dos anos
Cardoso indicam a reprodução no poder de uma elite econômica e cultural, que, em alguns casos, representa até quatro gerações
de sobrenomes tradicionais na política brasileira. Os dados per-mitem afirmar que esses ministros são herdeiros de um patri-mônio familiar que atravessa gerações. Lembramos que a famí-
lia é uma categoria central na obra de Bourdieu. Em Bourdieu e Passeron (2014), é a família que transmite seu capital cultural a
seus herdeiros, estimulando o acesso a bens ditos de “bom gos-
to” e “bom tom”, os quais estão associados às classes sociais mais altas. Uma outra consequência é que esse mesmo capital cultural
é valorizado pela escola, promovendo as consagrações dos “mais dotados” e a desclassificação dos “fracassados”, em um ciclo de reprodução quase “mágica” das desigualdades sociais.
No que se refere ao banco de dados sobre a profissão dos pais e
avós dos ministros Lula, encontramos ao menos cinco categorias de ocupação: técnica (59); comerciante (5); funcionário públi-co de nível técnico (3); profissionais liberais, como advogado e médico (5); profissionais de nível superior, como professor uni-versitário (1) e embaixador (1), e banqueiro (caso de Henrique
Meirelles). Sobre os ministros cujos pais têm profissão de prestígio e que estariam no topo da hierarquia social, encontramos oito: é o
caso de Celso Amorim (pai embaixador), Ciro Gomes (pai e mãe
eram professores), Eduardo Campos (pai escritor, mãe advogada e avós tinham nível superior), Geddel Vieira Lima (pai advoga-
do), Gilberto Passos Moreira (pai médico, mãe professora primá-
ria), João Luiz Silva Ferreira (pai era engenheiro civil, sua mãe
professora primária) e Marcio Thomaz Bastos (pai médico, mãe dona de casa). Destaque para a trajetória de Henrique Meirelles,

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então filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Seu pai era advogado, a mãe era estilista e o avô paterno era po-lítico de profissão. Estudou nos melhores colégios de Goiás, fez
engenharia civil na Universidade de São Paulo (USP Poli) e teve passagem por Harvard. Trata-se de um típico filho das classes
dominantes, no sentido estabelecido por Bourdieu (2002). Também, identificamos cinco filhos de comerciantes no banco de dados Lula, que definimos como “classe média”. Caso de Dil-ma Rousseff, cujos avós e mãe eram professores primários e o pai era comerciante; Fernando Haddad, cuja mãe era professora do magistério e o pai comerciante; por fim, Guido Mantega, que declarou em biografia que os pais eram comerciantes, contudo, não informou que tipo de comércio possuíam. Mas sabemos que Guido estudou em “bons colégios” e que possuía origem social
bastante privilegiada. O pai de José Campos Temporão possuía
um restaurante e Humberto Lima declarou serem os pais comer-ciantes, mas não informou que tipo de comércio. Contudo, fez
estudos em colégio particular e inclusive passou em segundo lugar no curso de Medicina em universidade pública. Trata-se de um marcador simbólico de classe média, o que o coloca junto
com os demais ministros considerados por nós de classe média. Um terceiro tipo encontrado é o servidor público de nível técni-co, pois o banco de dados indica três filhos de funcionário públi-
co de escalão médio: Carlos Eduardo Gabas (pai era funcionário
da Caixa Econômica Federal), Fernando Rodrigues Lopes de Oli-veira (pai era funcionário público em um hospital) e Luiz Paulo
Barreto (pai era funcionário do Superior Tribunal Militar).O que fica evidente nos dados, é que a maior parte dos ministros titulares (59/75) possuía uma origem social popular. Identifica-mos tratar-se de filhos e netos de artesã, tecelã, costureira, dona
de casa, eletricista, operário da construção civil, manicure, cami-
nhoneiro, mecânico, operário, trabalhador da roça (agricultor),
faxineiro/a, seringueiro, tipógrafo, isto é, ocupações com baixo

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investimento em capital cultural legítimo, ou melhor, ocupações que detêm capital cultural não valorizado no mercado de bens
simbólicos (Bourdieu, 2002). Em nossa pesquisa, agrupamos essas ocupações como Técnica
e representam 78% do banco de dados do governo Lula. Se so-marmos essa ocupação com aquela da rubrica “servidor público de nível técnico”, esse número chega a 82%. Como dado com-plementar, 32% desses ministros titulares possuíam filiação e
militância partidária, especialmente ligadas ao PT.

Uma primeira conclusão é que a ascensão do governo Lula ao
poder sinaliza para a chegada de um novo grupo político, rom-pendo com a reprodução identificada no banco de dados do go-
verno Cardoso. Trata-se de um grupo de origem popular, sindical
e do movimento social. A presença de sindicalistas no governo Lula foi sinalizada por Jardim (2009), em pesquisa que tratou da
gestão de fundos de pensão por sindicalistas no governo Lula.

Ainda sobre a presença de sindicalistas no governo Lula, como nos lembra D´Araújo (2009), até a Carta de 1988 as centrais
eram ilegais e a Constituição não as legalizou, mas também não
as criminalizou. A legalização das centrais só viria a ocorrer em
meados de 2008, no governo Lula. Nesse sentido, a participação
de dirigentes de Centrais Sindicais nos Ministérios, pode-se di-
zer, é uma inovação do governo Lula, com presença mais acentu-
ada em seu primeiro mandato.

3.4. Trajetória escolar e Circulação InternacionalNos próximos itens abordaremos a trajetória escolar dos mi-
nistros, por meio das seguintes variáveis: tipo de escola onde
estudaram, tipo de universidade, pós-graduação e circulação in-
ternacional.

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Tabela 2: Tipo de escola dos ministros dos governos Cardoso e Lula

Tipo de escola
Frequência e

porcentagem Cardoso
Frequência e

porcentagem Lula
Escola/Colégio particular 98.7% 12%Escola pública 1.3% 88%
Total 100%/ 100%Fonte: Dados da pesquisaNo que se refere ao governo Cardoso, quase cem por cento dos

ministros realizaram seus estudos em colégio particular, sendo que os que mais aparecem no material coletado são: Santo Iná-
cio (Rio de Janeiro), American Graded School (São Paulo), colé-gio Arnaldo (Minas Gerais, ministro José Vargas), colégio Dom
Bosco (São Paulo, vários ministros paulistas), Colégio São Judas
Tadeu (São Paulo, onde Serra estudou parte da sua vida), Grupo
Escolar Princesa Isabel (São Paulo, local onde Luiz Carlos Bres-
ser-Pereira estudou) e Colégio Santa Cruz (São Paulo, colégio de
Luiz Mendonça de Barros). No que se refere aos ministros do governo Lula, 88% deles re-alizaram seus estudos iniciais em escola pública. Identificamos que alguns deles fizeram curso técnico profissionalizante, em
substituição ao ensino médio. Marina da Silva e Luiz Marinho
foram alfabetizados em idade adulta, via supletivo. Apesar dessas dificuldades de origem, um número elevado rea-lizou universidade pública, tal qual os ministros Cardoso.
Tabela 3: Universidade frequentada pelos ministros nos governos Cardoso e Lula
Tipo de Universidade Frequência e

porcentagem Cardoso
Frequência e

porcentagem LulaUniversidade pública 72% 65%
Universidade privada 24% 24%
Não concluiu o ensino superior 4% 1/%
Total 100% 100%Fonte: Dados da pesquisa

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O banco de dados permite afirmar que o grupo Cardoso dá pre-ferência por universidades públicas (55 deles), especialmente a USP (25 deles). As universidades privadas do conjunto de minis-tros são aquelas de prestígio, como a FGV, as universidades ca-
tólicas, especialmente a PUC-RIO e a Mackenzie. Exceção para o ministro Pelé, que cursou Educação Física em uma universidade
particular e desprestigiada, na cidade de Santos.No que se refere aos ministros do governo Lula, identificamos que 49 deles estudaram em universidades públicas. Chamamos
atenção para o fato de que a UNICAMP2 e a UFRJ, juntas, são res-ponsáveis pela formação de 40 desses ministros. Um dado pa-recido (54% da amostra) foi identificado por D´Áraujo e Leite (2018), que na ocasião sugeriram a necessidade de investigar a influência dessa formação no pensamento desses ministros, o que, em alguma medida, estamos realizando neste artigo. Considerando que esses ministros são filhos das classes popu-
lares (conforme explicitado na tabela 1), podemos afirmar que
eles constituem a primeira geração de uma determinada família que teve acesso ao ensino superior, mesmo que em alguns casos
tardiamente, como é o caso dos ministros alfabetizados em ida-
de adulta.

No próximo item abordaremos a pós-graduação dos ministros. Para fins de pesquisa, agrupamos em uma única categoria, a de
“pós-graduação”, as formações em nível especialização, mestra-
do e doutorado. Por essa categorização, 90% dos ministros Car-
doso realizaram pós-graduação, contra 58% do governo Lula.

2 Universidade Estadual de Campinas.

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Tabela 4: Pós-Graduação dos ministros dos governos Cardoso e Lula
Pós-Graduação Ministros Frequência e

porcentagem Cardoso
Frequência e

porcentagem Lula

Sim 90% 58%
Não 10% 42%
Total 100% 100%Fonte: Dados da pesquisa.

Assim como na graduação, os ministros Cardoso realizaram
estudos de pós-graduação em escolas de renomes, nas áreas
de Direito, Economia e Administração, necessariamente nessa ordem. Dentre as universidades públicas, a USP é a instituição mais procurada. Dentre as privadas, destaque para instituições de renome, tal qual discussão apresentada na tabela 3. No que se refere à titulação de doutor, encontramos 40% de títulos de
doutores no governo Cardoso, contra 20% para o governo Lula.No que se refere à pós-graduação, os ministros do governo Lula
também dão preferência às áreas mais tradicionais, como Econo-mia, Direito e Administração. Contudo, identificamos um crescen-te interesse por Ciências Sociais, já que cinco ministros do gover-
no Lula realizaram mestrado e/ou doutorado em Ciências Sociais.Outra informação importante é que muitos ministros realizaram
graduação, especialização, mestrado e/ou doutorado pela Uni-
camp. Unicamp e UFRJ aparecem como as escolas que mais con-centram ministros do governo Lula. Os dados indicam que, pelo
menos em algum momento da formação, os ministros passaram
por essas instituições. Como existe relativo consenso no campo acadêmico de que a Unicamp e a UFRJ possuem uma orienta-
ção intelectual marcada pela crença desenvolvimentista, esse dado estaria em diálogo com nosso argumento, o de que haveria homologia entre trajetórias individuais dos ministros e crenças econômicas vigentes em cada governo, já que nessas universi-dades entrariam em contato com as crenças econômicas que de-
fenderiam como ministros.

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No que se refere à circulação internacional, os dados confirmam a presença de uma elite cultural no governo Cardoso, já que qua-
se todos os ministros tiveram algum tipo de passagem pelo exte-
rior, conforme tabela 5.

Tabela 5: Circulação Internacional dos ministros Cardoso e Lula

Circulação Internacional
Frequência e

porcentagem Cardoso
Frequência e

porcentagem Lula
Circulação Internacional 96.1 28%
Não circula internacionalmente 3.9 72%
Total 100% 100%Fonte: Dados da pesquisa.Nos chamou atenção a “naturalidade” com a qual os ministros do

período Cardoso circularam durante e após a fase de formação
acadêmica, em espaços de prestígio, especialmente nos Estados
Unidos, como exemplo: Cambridge, Harvard, Princeton, Berke-
ley, Columbia, Cornell University, em Yale University, Universida-de de Georgetown, em Washington e no Massachusetts Institute
of Technology e Bradley University.

Se relacionarmos essa intensa circulação internacional com a
origem social desses agentes (explicitada na tabela 1), podemos reforçar que os agentes partícipes da administração Cardoso
possuíam um elevado capital social, econômico e cultural.

Em contrapartida, o banco de dados do governo Lula mos-tra menos casos de circulação internacional, ou seja, apenas
21 ministros estudaram no exterior. Citamos como exemplo
passagens pela Sorbonne-França (Carlos Minc), Universidade
Federal de Madri Alcalá de Henares - Espanha (Carlos Esteves
Lima), London School of Economics and Political Science - In-
glaterra (Celso Amorim), Harvard Law School - EUA (Ciro Go-mes), École Practique des Hautes Études - França (Cristovam Buarque) e Universidade McGill -Canadá (Fernando Haddad). É possível que nesse grupo exista uma certa predileção pelas

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universidades da Europa, hipótese que será explorada futura-
mente. Se considerarmos que, para Bourdieu (1968), as aspirações es-colares desdobram-se em objetividades referentes à realidade de cada agente social, ou seja, as escolhas escolares são delimi-tadas em função das trajetórias, dentro de um campo do possí-
vel, podemos considerar que esses ministros romperam com a
estrutura social, pois, apesar de suas origens modestas e do fato
de concorrerem em desvantagem no mercado de bens simbó-
licos, tornaram-se ministros de importantes pastas, por cami-
nhos alternativos, como a militância política. Tradicionalmente,
o campo político é ocupado por “herdeiros”, mas os ministros--sindicalistas do governo Lula quebraram essa doxa dominante.

4. Reprodução e ruptura: trajetória e crença dos ministros

Com inspiração em Pierre Bourdieu e seus colaboradores, ado-tamos como perspectiva para esta pesquisa que habitus são
fabricados a partir das experiências individuais dos agentes, com destaque para as experiências familiares (origem social)
e também a socialização secundária (escola, universidade e de-
mais espaços sociais). Como informado por Bourdieu (2003), para objetivar o habitus é preciso localizá-lo em uma trajetória social. Nesse sentido, estudamos a trajetória de 151 ministros
dos períodos Cardoso e Lula, buscando nos aproximar de suas crenças individuais. Em seguida, buscamos identificar possíveis
homologias entre as crenças desses ministros e as crenças eco-
nômicas vigentes nos períodos estudados. O exame das trajetórias dos ministros Cardoso sugere que suas
ascendências são de origem de classe média alta (médicos, ad-
vogados, fazendeiros, diplomatas, professor universitário, em-
presários). No plano da socialização secundária, o acesso à esco-
la e à universidade, damos atenção aos espaços onde estudaram,

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sobretudo na fase adulta. Nesse momento, identificamos que es-
ses ministros estudaram em escolas e universidades renomadas, com destaque para a USP (universidade pública), FGV, PUC-Rio
e Mackenzie (universidades privadas) e algumas universidades
americanas, como Harvard, Berkeley, Columbia, Cornell Univer-sity e Yale, que promovem crenças neoliberais.
Em estudo sobre presidentes dos bancos centrais, Lebaron (2000) demonstra existir forte relação entre a trajetória dos presidentes dos bancos centrais e as universidades nas quais estudaram. Para o autor, o impacto na trajetória aconteceria
não apenas em termos de titulação, mas sobretudo em termos
simbólicos: além de ter acesso a um pensamento acadêmico de-
terminado em sala de aula, os agentes passariam a maior parte do tempo em socialização com colegas, que também estariam
expostos às mesmas crenças, reforçando essa aprendizagem; as relações de amizade e de afeto, adquiridas nesse espaço de so-
cialização secundária, teriam a função simbólica de reforço da
crença compartilhada pela universidade, em formato de teorias
econômicas.

Nesse sentido, se considerarmos as variáveis destacadas na pro-sopografia – origens sociais, socialização secundária via escolas e universidades – os ministros do período Cardoso circularam em escolas e em universidades que tendem a reforçar a classe de origem, com destaque para as universidades onde realiza-ram seus estudos, uma vez que Loureiro (1997) já nos chamou
atenção para uma orientação mais “privatista e de mercado” na formação em economia da FGV e PUC-Rio. Como complemento
ao ritual de formação, os ministros passaram por universidades americanas, que por sua vez defendem crenças neoliberais, em
forma de teoria econômica, cumprindo todos os rituais simbóli-
cos de reforço da crença.

Por outro lado, o banco de dados dos ministros do governo Lula demonstra tratar-se majoritariamente da baixa classe média e

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boa parte da classe popular, já que a ocupação dos pais dos mi-
nistros é de origem popular (agricultor, manicure, dona de casa, faxineira, costureira, mecânico). No que se refere à socializa-ção secundária, identificamos que o conjunto dos ministros fez escola pública, sendo que em alguns casos o ensino médio foi substituído pelo curso técnico profissionalizante. Identificamos,
ainda, uma acentuada participação em movimentos sociais, com destaque para o movimento sindical, o equivalente a 30%, con-firmando uma assertiva de Sallum e Goulart (2016), qual seja,
a grande maioria dos nomes do governo Lula exerceu atividade
partidária e/ou sindical. No que se refere à formação acadêmica, nos chamou atenção um fato que também recebeu destaque em D´Araujo e Leite (2018),
a saber: uma concentração na formação dos ministros Lula na UNICAMP e UFRJ. Em nosso banco de dados, dos 49 ministros que realizaram ensino superior, 40 deles passaram por essas duas instituições, em algum momento da formação, seja na gra-duação e especialização, seja mestrado ou doutorado. Lembra-mos que essas instituições compartilham discursos desenvolvi-
mentistas, igualmente em forma de teorias econômicas.

Se considerarmos as três variáveis encontradas na prosopogra-fia — origens sociais populares, acentuada militância sindical e
a passagem por universidade de cunho desenvolvimentista — temos uma especificidade na trajetória dos ministros Lula em
relação aos ministros do período anterior. Da mesma forma,
indica alguma homologia entre as trajetórias desses ministros
— sobretudo a passagem por universidade de cunho desenvol-
vimentista — com as crenças econômicas vigentes do período. Por fim, o artigo retira do conceito de Estado seu poder abstrato e transcendental. Na perspectiva que assumimos, o Estado é re-sultado das trajetórias dos agentes que o compõem, que, por sua vez, influenciam e são influenciados pelo pensamento do Estado. Dessa feita, o Estado, em diálogo com as trajetórias dos minis-

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tros, “molda as estruturas mentais e impõe princípios de visão e
de divisão comuns e formas de pensar, contribuindo de maneira
determinante na produção e reprodução dos instrumentos de
construção de realidade social” (Bourdieu, 1996, p. 25). Neste artigo, consideramos que o Estado em cada período analisado
impôs crenças econômicas, ora neoliberal, ora desenvolvimen-tista, as quais estavam em homologia com as trajetórias dos mi-nistros, com destaque para as universidades onde estudaram.
Considerações finaisA pesquisa buscou relacionar crenças econômicas vigentes nos governos Cardoso e Lula com as trajetórias dos ministros que estiveram à frente do poder. A hipótese que nos motivou seria a de que a pré-disposição dos ministros para crenças neolibe-
ralizantes ou desenvolvimentistas seriam fabricadas, sobretudo,
a partir da socialização secundária, expressa neste texto pelas universidades pelas quais passaram e pelas passagens pelo ex-
terior. No caso dos ministros do governo Lula, destacamos, tam-
bém, as atividades de militância.A revisão bibliográfica sobre o governo Cardoso permitiu afir-mar que esse governo, em diálogo com a doxa internacional
vigente, colocou em prática a crença neoliberal por meio da
privatização das estatais e deu maior espaço para as empre-
sas estrangeiras, em detrimento da política de valorização das empresas, dos bancos públicos e do mercado interno nacional. Ainda por meio da revisão bibliográfica, apontamos que o go-
verno Lula promoveu a crença desenvolvimentista, por meio de um Estado forte, que coordenou os mercados e produziu bens e
serviços através das empresas estatais e parcerias com o capi-tal privado. Além disso, teria implantado projetos com base nos recursos oriundos do mercado financeiro – especialmente dos fundos de pensão – via emissão de títulos públicos e por meio de
investimentos diretos nas empresas.

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Portanto, o Estado esteve presente nos dois períodos: em um,
o Estado coordenou a liberdade aos mercados; em outro, nego-ciou com o mercado. Mesmo que alguns aspectos do arcabouço
teórico liberal tenham sido mantidos no governo Lula, a concep-
ção estatal fora fortalecida através do reforço das instituições do
executivo e dos agentes de seus ministérios. Ademais, o Estado
foi redirecionado, em convergência com o mercado, para a pro-
teção e a inclusão das camadas mais baixas da estrutura social,
colocando em pauta o desenvolvimento social. Por sua vez, o
governo Cardoso manteve uma política econômica em diálogo
com o capital internacional. Para tanto, o Estado legislou todo o aspecto jurídico que possibilitou a efetivação da crença neolibe-
ral. Nesse sentido, o Estado sempre esteve presente no governo
Cardoso, mas cumprindo a tarefa de regulador da economia e autorizando, via marco jurídico, a sua autonomia.No que se refere aos dados prosopográficos dos ministros, esses nos permitem afirmar que os ministros do governo Cardoso são oriundos de uma elite econômica e política do país, que circulou em escolas e em universidades que tenderiam a reforçar a sua classe de origem. Uma outra especificidade desses espaços de formação é que essas instituições estariam mais afinadas com a
crença neoliberal, divulgada ao alunato, em forma de teoria eco-nômica. No banco de dados do governo Lula, identificamos um grupo majoritariamente oriundo da classe popular, com filiação
sindical, participação no movimento social e com formação em
universidades mais sensíveis à crença desenvolvimentista, como
UNICAMP e UFRJ. Igualmente, a passagem por essas universida-
des teria reforçado a homologia entre as crenças dos ministros e
as crenças econômicas estatais do período. Por fim, apoiados no estudo das trajetórias dos ministros, defen-demos que as crenças estatais vigentes nos governos Cardoso
(neoliberal) e Lula (desenvolvimentista) teriam alguma homo-logia com as trajetórias dos ministros, expressa especialmente a partir das universidades pelas quais passaram. Essa constatação

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contribui em estudos que buscam entender o papel da univer-
sidade na formação do pensamento de ministros ou de outros agentes públicos.
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Recebido em 20/02/2020Aprovado em 28/04/2021