Movimento Escola sem Partido: anti-iluminismo, heteronomia, exclusão

Resumo

Os últimos anos viram emergir no cenário brasileiro o Movimento Escola Sem Partido (ESP), conjunto de convicções e práticas que pressupõe haver em instituições de ensino brasileiras um tipo de catequese político-ideológica – por eles denominada “doutrinação marxista” –, assim como a disseminação do que chamam “ideologia de gênero”. O artigo propõe analisar aspectos do ESP em seu movimento de disputa pela escola e, de maneira mais ampla, por um projeto de sociedade, observando-o como expressão de um processo mais longo, de construção do autoritarismo no Brasil e do avanço de uma agenda contrarrevolucionária. Para tanto, os principais documentos analisados são aqueles emitidos pelo próprio Movimento, atendo-se às categorias pelas quais se organizam suas propostas – tais como os conceitos de liberdade, formação, ciência, política – e às ideias e julgamentos lançados contra o que se supõe serem os perigos de uma educação esquerdista, a saber: a implementação de uma nova escala de valores contrária ao capitalismo liberal e à moralidade vista como cristã. Concluímos apontando como esses supostos perigos representam, para o ESP, a possibilidade de reprimir, na escola, a sexualidade e o pensamento, e de opor-se aos esforços educacionais que têm procurado gerar uma educação secular comprometida com a democratização da educação.