A antinomia do Gosto em Madame de Lambert
Palavras-chave:
Madame de Lambert, Gosto, Je ne sais quoiResumo
Inserida numa tradição a que se convencionou chamar de Estética do sentimento, Madame de Lambert afirma que o Gosto é uma espécie de instinto que nos arrasta, que nos conduz mais seguramente do que todos os raciocínios. Para a filósofa, o Gosto depende da experiência e não de qualquer consideração conceitual, ele não está subordinado a regras da beleza, mas a algo indeterminado, mesmo indeterminável. Contudo, esse caráter do Gosto não autoriza o seu relativismo. Parte-se aqui da tensão no pensamento estético de Madame de Lambert, a saber: por um lado, a defesa de uma subjetividade do Gosto, vinculado à adequação do objeto a disposições dos órgãos perceptivos acerca do modelo que desconhecemos; por outro, a busca da filósofa pela formulação de uma resposta crítica, por uma universalidade do Gosto que depende do conceito de exatidão dos sentidos. Assim, pretende-se identificar o elemento indicado por Madame de Lambert a harmonizar a tensão criada em sua estética. A solução da filósofa retoma essa noção de exatidão dos sentidos cara ao pensamento estético da passagem do século XVII para o XVIII, a saber: o je ne sais quoi. Para reconstruir aqui essa solução da filósofa, será necessário articular os textos Reflexões sobre o gosto e Discurso sobre a delicadeza de espírito e de sentimento com a obra em torno da qual esses dois textos orbitam: Reflexões novas sobre as mulheres. Assim, é possível entender que, para Madame de Lambert, o Gosto é esse je ne sais quoi que se sente e não se pode dizer, mas que conhece o que convém e que faz sentir em cada coisa a medida que é preciso ter.
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